• Edição 072
  • 15 de março de 2007

Saúde e Prevenção

Varicela tem vacina negligenciada pelo Estado

Tainá Saramago

Febre, mal-estar e, principalmente, de 250 a 500 vesículas espalhadas sobre a pele são sinais da tão comum varicela, conhecida popularmente como catapora. Uma doença que parece controlada, mas que, segundo dados, mata 150 pessoas por ano no Brasil.

O contágio é feito pelas vias respiratórias e a doença é muito contagiosa, só perdendo para o sarampo. A situação fica mais grave com uma outra forma de contágio, que é a passagem do vírus de uma gestante para o filho, principalmente nas primeiras 20 semanas de gestação. Isso pode gerar a má formação congênita da criança, ela pode nascer com microcefalia ou até com a ausência de membros.

A catapora é mais grave quando acomete adultos. Esses não combatem bem o vírus, se comportam como imunodeprimidos. Portanto, o maior índice de letalidade é com adultos.

O que muita gente ainda não sabe é que existe a vacina contra a varicela. Porém, ela só é disponibilizada pela rede privada. Não foi contemplada pelo Programa Nacional de Imunização, por isso não é encontrada na rede pública, mesmo que seja recomendada pela Sociedade Brasileira de Pediatria, pela Sociedade Brasileira de Imunização, enfim por todas as sociedades médicas.O uso da vacina nos órgãos públicos é muito restrito, só ocorrendo em casos muito graves.

Porém, alguns municípios já a estão disponibilizando por conta própria, como é o caso do município de Araucária, de Florianópolis e São José dos Pinhais. Outros lugares, às vezes, compram a vacina apenas para controlar os surtos da doença, como é o caso de São Paulo.

A Sociedade Brasileira de Imunização recomenda o uso de duas doses da vacina. Nas crianças, a primeira dose deve ser dada quando elas estiverem com mais ou menos um ano de idade e a segunda quando tiverem de quatro a seis anos. A partir daí a imunização está completa e a pessoa não precisará mais dessa vacina em toda a vida. Já nos adultos as doses devem ter o espaço de apenas dois meses. Lembrando que quem já teve a doença não precisa tomar, pois mesmo que o vírus não tenha sido expulso do organismo, a pessoa não desenvolverá mais a varicela.

Como dito anteriormente, o vírus não é expulso do organismo e pode até levar a Herpes-zóster no futuro. “Ele está lá, quietinho, se por algum motivo a sua imunidade baixar, seja por câncer, por HIV, estresse, radioterapia, quimioterapia, o vírus reaparece. A herpes zóster é uma reativação do vírus. E a vacina evitando a catapora, evitaria esse tipo de herpes também.”, explica Edimilson Migowsky, infectologista do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira da UFRJ.

Além de herpes, a catapora pode levar, concomitantemente, à pneumonia, à encefalite, à cerebelite e até à meningite. O tratamento da doença em adultos, nos quais ela é mais grave, geralmente, recomenda-se o uso do medicamento Aciclovir. Nas crianças geralmente não são usados medicamentos. “Recomenda-se uma higiene muito bem feita e o banho com permanganato de potássio para diminuir o prurido. Lembrando sempre de não coçar as vesículas, porque além de poder marcar a pele, cada vesícula é a porta de entrada para novas infecções.”, afirma o especialista.

Ele fez questão de ressaltar também que o uso de medicamentos com ácido acetilsalicílico (AAS, Aspirina e outros), é totalmente contra-indicado. Pois as chances do desenvolvimento da Síndrome de Reye, principalmente em crianças e adolescentes, ficam maiores.

Por fim, Edimilson lembrou de um ponto esquecido pela maioria das pessoas. “Quando a catapora terminar, não podemos esquecer de nos próximos 20 dias, usar  filtro solar, ou evitar pegar sol, para que as marcas da catapora não fiquem para sempre”, concluiu o médico.