• Edição 072
  • 15 de março de 2007

Ciência e Vida

Novo material sintético odontológico une qualidade e redução de custos


Fernanda de Carvalho - AgN/CT

Uma linha de pesquisa do Laboratório de Biomateriais Para Enxertos e Próteses da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) desenvolveu um material sintético para ser utilizado em enxerto ósseo odontológico. Esse novo produto sairá bem mais em conta que os importados, os quais, além de caros, nem sempre são sinônimos de qualidade.

O material foi produzido em forma granular para ser utilizado no preenchimento de cavidades ósseas, em cirurgias maxilo-faciais. Normalmente, em cirurgias desse tipo ou ortopédicas, surge a necessidade de substituir o osso que foi parcialmente perdido. É aí que entra a utilização dos biomateriais, que também são bem-vindos em implantes dentários, por exemplo, nos casos em que é preciso aumentar a espessura do osso, a fim de que haja uma correta fixação do implante.

- Alguns testes estão sendo repetidos para garantir que o produto não é citotóxico, seguidos de testes clínicos em pacientes, com protocolos aprovados por Comitês de Ética, antes da comercialização do produto - , afirma a professora Glória Soares, responsável pelo laboratório.

Não apenas a UFRJ, mas outras instituições de pesquisa do Brasil vêm investindo na criação de biomateriais. No entanto, muitas são as dificuldades tecnológicas a serem superadas, a fim de que se produzam materiais de qualidade e com baixo custo. “A produção brasileira de biomateriais é insuficiente para atender à demanda atual, e a importação desses bens em muito onera o custo dos tratamentos”, explica Glória.

Os Biomateriais para Engenharia Óssea são a especialidade do Laboratório de Biomateriais, que pertence a uma integração entre o Programa de Engenharia Metalúrgica e de Materiais, do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa em Engenharia (PEMM-Coppe/UFRJ), e o Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Escola Politécnica (DEMM-Poli/UFRJ). A professora Glória, além de ser a responsável pelo laboratório, também é coordenadora do PEMM e chefe do DEMM.

O projeto
Geralmente, os biomateriais são obtidos na retirada de osso dos próprios pacientes, dos bancos de ossos de cadáveres ou de animais. Há também os sintéticos, que são os mais utilizados. Um dos produtos importados, fabricado a partir do osso bovino, foi proibido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em função da procedência do gado. Segundo a professora Glória, “este material é relatado como tendo grande sucesso clínico, o que motivou o desenvolvimento de um material sintético com comportamento similar a este”.

O projeto, de nome “Desenvolvimento de biomateriais à base de fosfato de cálcio para utilização em pacientes traumáticos ”, foi contemplado no Edital CNPq-CTSaúde 024/2004 (Violência Acidentes e Trauma), e recebeu um financiamento de R$ 25 mil. Outras verbas, provenientes da CAPES/PROEX, Faperj, também foram utilizadas no desenvolvimento do projeto, que ainda não foi encerrado.

A UFRJ contou com a colaboração de outros professores e pesquisadores, inclusive de outras Instituições. “A parte de produção e caracterização do material para enxerto foi feito na UFRJ, e os ensaios ‘in vivo’, quando o material foi inserido em calotas cranianas de ratos, foram supervisionados pelo professor José Mauro Granjeiro, da Universidade Federal Fluminense (UFF)”, detalha Glória.

Quanto aos maiores impasses para a produção brasileira de biomateriais, a professora Glória opina: “A principal dificuldade é a captação de recursos que tende a ser insuficiente ou descontínua, fazendo com que o pesquisador brasileiro interrompa projetos por falta de recursos”. Ela também acredita na necessidade de uma “mudança de mentalidade do usuário, que costuma associar produtos importados a produtos ‘melhores’, o que nem sempre é verdade”.