A mesma equipe que decifrou um terço do genoma humano divulgou nesta
quarta-feira (07) o mais completo estudo dos genes encontrados em tumores.
Ao todo, 250 milhões de “letras” do código genético
de 210 tipos de câncer foram decifradas, cobrindo 500 proteínas
e 1000 mutações. No trabalho, os cientistas descobriram que
há muito mais genes agindo ativamente no desenvolvimento do câncer
do que antes se imaginava.
“O câncer é uma doença do DNA. Ao identificar mais
mutações e mais genes podemos entender melhor os defeitos das
células cancerosas e descobrir quem são os principais culpados”,
explicou ao G1 um dos líderes do trabalho, Andrew
Futreal, do Instituto Sanger, no Reino Unido. “Com isso, teremos mais
alvos para intervenções médicas,” diz ele.
A equipe do cientista estudou genes que produzem proteínas conhecidas
como “quinases”, que funcionam como interruptores moleculares,
ligando e desligando processos como crescimento, divisão e morte das
células. “Esse grupo de proteínas é o que mais
apresenta mutações no câncer,” explica Futreal. “Seu
mau funcionamento é um verdadeiro gatilho da formação
de tumores.”
Ao fazer isso, eles descobriram que o número de genes que iniciam
o desenvolvimento do câncer é muito maior do que o que se pensava.
Dos 500 genes, pelo menos 120 tinham mutações desse tipo, apelidadas
de “mutações motoristas”. “Esse termo descreve
as mutações que são importantes no desenvolvimento da
doença. As demais, a maioria, são as ‘mutações
passageiras’, alterações genéticas que ‘pegam
carona’, mas que não parecem instigar nada”, conta o cientista.
Estudar as mutações dos tumores é importante não
apenas para buscar novos tratamentos contra a doença -- o que
já é, por si só, muito importante --, mas também
porque elas são verdadeiros “registros arqueológicos” da
doença. Com esses dados é possível descobrir o que causou
o câncer inicialmente, na maioria das vezes muitos anos antes da doença
ser detectada.
O objetivo dos cientistas é ter um catálogo completo de todos
os genes envolvidos em todos os tumores no futuro. Para isso, no entanto,
será necessário ainda muito trabalho e tecnologias mais avançadas
de análises de DNA. Segundo Futreal, a iniciativa tem o potencial
para causar uma verdadeira revolução no tratamento do câncer.
Leucemia
O trabalho do grupo de Futreal foi publicado na edição desta semana da prestigiada revista científica britânica “Nature”, ao lado de outro estudo, na mesma área, de cientistas americanos do Hospital de Pesquisa Infantil de St. Jude, em Memphis, no Tennessee.
James Downing e seus colegas analisaram 350 mil letras do código genético de 242 pacientes com um tipo de câncer que afeta o sistema de defesa do nosso organismo, ao atacar os glóbulos brancos. A chamada leucemia linfoblástica aguda afeta, principalmente, crianças.
No trabalho, eles descobriram novos alvos de tratamento, ao identificar novas mutações que contribuem para a doença. Além de dar uma esperança para os pacientes da doença, o feito também mostra novas maneiras de procurar causas de tumores em adultos.
07/03/2007 - 17h33m - Atualizado em 07/03/2007 - 17h50m