• Edição 071
  • 08 de março de 2007

Saúde em Foco

Câncer surge de falha em 'gene motorista'

Mais de 250 milhões de letras do código genético de 210 tumores foram analisadas.
Trabalho mostrou que há muito mais genes causadores da doença do que se pensava.

Marília Juste, do G1 em São Paulo

A mesma equipe que decifrou um terço do genoma humano divulgou nesta quarta-feira (07) o mais completo estudo dos genes encontrados em tumores. Ao todo, 250 milhões de “letras” do código genético de 210 tipos de câncer foram decifradas, cobrindo 500 proteínas e 1000 mutações. No trabalho, os cientistas descobriram que há muito mais genes agindo ativamente no desenvolvimento do câncer do que antes se imaginava.

“O câncer é uma doença do DNA. Ao identificar mais mutações e mais genes podemos entender melhor os defeitos das células cancerosas e descobrir quem são os principais culpados”, explicou ao G1 um dos líderes do trabalho, Andrew Futreal, do Instituto Sanger, no Reino Unido. “Com isso, teremos mais alvos para intervenções médicas,” diz ele.

A equipe do cientista estudou genes que produzem proteínas conhecidas como “quinases”, que funcionam como interruptores moleculares, ligando e desligando processos como crescimento, divisão e morte das células. “Esse grupo de proteínas é o que mais apresenta mutações no câncer,” explica Futreal. “Seu mau funcionamento é um verdadeiro gatilho da formação de tumores.”

Ao fazer isso, eles descobriram que o número de genes que iniciam o desenvolvimento do câncer é muito maior do que o que se pensava. Dos 500 genes, pelo menos 120 tinham mutações desse tipo, apelidadas de “mutações motoristas”. “Esse termo descreve as mutações que são importantes no desenvolvimento da doença. As demais, a maioria, são as ‘mutações passageiras’, alterações genéticas que ‘pegam carona’, mas que não parecem instigar nada”, conta o cientista.

Estudar as mutações dos tumores é importante não apenas para buscar novos tratamentos contra a doença -- o que já é, por si só, muito importante --, mas também porque elas são verdadeiros “registros arqueológicos” da doença. Com esses dados é possível descobrir o que causou o câncer inicialmente, na maioria das vezes muitos anos antes da doença ser detectada.

O objetivo dos cientistas é ter um catálogo completo de todos os genes envolvidos em todos os tumores no futuro. Para isso, no entanto, será necessário ainda muito trabalho e tecnologias mais avançadas de análises de DNA. Segundo Futreal, a iniciativa tem o potencial para causar uma verdadeira revolução no tratamento do câncer.

Leucemia

O trabalho do grupo de Futreal foi publicado na edição desta semana da prestigiada revista científica britânica “Nature”, ao lado de outro estudo, na mesma área, de cientistas americanos do Hospital de Pesquisa Infantil de St. Jude, em Memphis, no Tennessee.

James Downing e seus colegas analisaram 350 mil letras do código genético de 242 pacientes com um tipo de câncer que afeta o sistema de defesa do nosso organismo, ao atacar os glóbulos brancos. A chamada leucemia linfoblástica aguda afeta, principalmente, crianças.

No trabalho, eles descobriram novos alvos de tratamento, ao identificar novas mutações que contribuem para a doença. Além de dar uma esperança para os pacientes da doença, o feito também mostra novas maneiras de procurar causas de tumores em adultos.

07/03/2007 - 17h33m - Atualizado em 07/03/2007 - 17h50m

http://g1.globo.com/Noticias/0,,MUL9675-5603-71,00.html