• Edição 070
  • 22 de fevereiro de 2007

Microscópio

Aquecimento global: será esse o mal do século XXI?

Tainá Saramago

Não é de hoje que cientistas e ambientalistas do mundo todo aparecem na grande mídia comentando sobre o aquecimento global, e o caos no clima. Tanto estardalhaço não é á toa: a Terra realmente tem se tornado cada vez mais quente. Segundo dados meteorológicos, Janeiro de 2007 foi o mês que registrou as maiores temperaturas de todos os tempos no planeta.

Esta também é uma preocupação do Ministério da Ciência e Tecnologia que escolheu o tema Terra como lema para a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia de 2007, que acontece no início de outubro. Esta escolha levou em conta também a convocação internacional, feita pela ONU, para que a questão global da Terra seja considerada como tema prioritário para os próximos anos. O Ano Internacional do Planeta Terra teve sua Proclamação declarada pela Assembléia Geral das Organizações das Nações Unidas em dezembro de 2005, com o apoio de 191 países, e estará sendo comemorado a partir de janeiro de 2007 com término em dezembro de 2009, e ênfase no ano de 2008( www.yearofplanetearth.org).

Para discutir a questão do “Aquecimento Global” ouvimos a opinião do professor e doutor em Biologia, Alex Enrich Prast, do Instituto de Biologia (IB) da UFRJ. Segundo ele, esse um fenômeno natural que ocorre quando parte da radiação solar fica retida na atmosfera sob forma de calor, como se fosse numa estufa. “É esse ‘efeito estufa’ que possibilita a vida humana na Terra; do contrário, o ambiente seria demasiadamente frio para a nossa sobrevivência”.

Obviamente, existem fatores naturais que contribuem para esse fenômeno, como a emissão de gases de origem biológica. Mas o homem também age nesse processo, com a queima de combustíveis fósseis e a interferência nos ecossistemas da Terra, por exemplo. Fatos como esses acabam quebrando importantes ciclos da natureza, como o do Carbono, o do Nitrogênio e até o da água. E são essas interferências humanas que vêm fazendo com que o Aquecimento Global altere o clima de maneira desfavorável e até catastrófica.

Segundo o professor as condições climáticas na Terra mudarão e afetarão muitas espécies, que sofrerão processos de extinção. Mas isso não acontecerá com o homem. Embora as condições de vida para a sociedade fiquem cada vez piores, elas não destruirão a vida humana. Isso porque, outras áreas poderão ser habitadas, como o Alasca, por exemplo. A região onde país está localizado é muito fria e tem uma baixa densidade demográfica; se a temperatura aumentar, ele poderá ser habitado com mais facilidade.

- A questão não é a vida humana, pois se nevar no verão como ocorreu na Austrália, os homens podem se adaptar, vestindo agasalhos. O problema está com os elementos da natureza que o homem utiliza para sobreviver -, alerta o professor. De acordo com ele, os ecossistemas explorados pelos humanos podem não resistir às mudanças climáticas. Por exemplo: alguns peixes que servem de alimento podem não sobreviver e a planta pode não germinar no tempo planejado, o que causará prejuízos à sociedade.

Fenômeno não pode ser responsabilizado por tudo

É verdade que vários acontecimentos estranhos ocorreram na natureza nos últimos tempos. Árvores floresceram meses antes do previsto na Espanha; a Amazônia enfrentou a maior seca dos últimos 60 anos; e até um ciclone passou pelo Sul do Brasil. Mas isso não significa que foi tudo culpa do Aquecimento Global e nem podemos prever o que acontecerá.

Para o professor, os cientistas crêem, e podem até ter indícios disso, mas não existem dados que comprovem a relação direta entre esses fatos isolados e o fenômeno do aquecimento global. “O que existem são teorias que levam pensar que alguns lugares ficarão instáveis, algumas ilhas e cidades litorâneas ficarão submersas e que eventos que aconteciam raramente estão passando a ocorrer com certa freqüência. Mas não há como prever exatamente o que acontecerá com o meio ambiente, não se tem conhecimento suficiente para isso”, ressalta Alex Enrich Prast.

O professor do IB dá outro exemplo: “não há como prever se as mudanças climáticas favorecerão o surgimento de novos vírus; o conhecimento sobre eles é pouco, tanto que ainda não foi descoberta a vacina contra AIDS. A única certeza que temos é que o clima da Terra está mudando, e não há como impedir esse processo”.

Algumas mudanças simples podem evitar o agravamento da situação. Segundo o especialista, as pessoas que tem carros 2.0, por exemplo, deveriam trocá-los por carros 1.0, pois chegarão ao mesmo destino e pouparão energia. E se a energia é poupada, menos áreas são afetadas para produção da mesma. O álcool como combustível até pode ajudar, desde que não haja desmatamentos para a plantação de cana-de-açúcar.

Na verdade, tudo isso está relacionado com a economia. O assunto, inclusive, só começou a ser debatido, quando passou a provocar prejuízos econômicos. “Alguns países, principalmente os mais desenvolvidos e industrializados, como os EUA, não querem abrir mão de seus lucros para cuidar do meio ambiente”, afirma o professor.

Na sua opinião, o Protocolo de Kyoto não tem dado muitos resultados, e nem tem sido respeitado por alguns países como os EUA, um dos maiores emissores de gases poluentes para atmosfera. Desse modo, as conseqüências virão e os homens precisarão se adequar a isso, por bem ou por mal.