• Edição 069
  • 08 de fevereiro de 2007

Argumento

Pesquisa revela que a gravidez se tornou a solução para meninas carentes


Tainá Saramago

A gravidez na adolescência é um fato que preocupa diversos setores da área médica e social, mas a Pediatra Silvia Reis, do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG/UFRJ) demonstra que o problema é muito mais complexo do que se imagina.

Segundo a médica, a Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica a adolescência como período cronológico (de 10 a 20 anos), de instabilidade e crise de identidade, de dependência, universalidade e atemporalidade. E para ela, esse critério acaba generalizando a adolescência, o que pode levar a equívocos. Ela produziu uma pesquisa qualitativa com adolescentes que engravidaram entre os 10 e 14 anos, e concluiu que uma menina que engravida aos 12 anos é completamente diferente de uma que engravida aos 19.

Para a sua tese de doutorado desenvolvida na Universidade de São Paulo (USP), “Vivências da maternidade na adolescência”, Silvia utilizou 20 meninas de nível social baixo, de 10 a 14 anos; seis a 24 meses após o parto, depois daquele período de excitação do nascimento. Primeiramente, era feita uma coleta de dados, com perfil demográfico e sócio-familiar; história de gravidez/parto e neonatal; sexualidade; e, por fim, procura saber se a vida das meninas era melhor ou pior do que antes de engravidarem.

Foram identificados dois grupos de meninas. No primeiro, 14 jovens disseram estar muito satisfeitas com a maternidade, e que ter um filho era a melhor coisa que lhes poderia ter acontecido. No segundo, ao contrário do que se pensa, apenas quatro meninas se sentiam deprimidas, e consideravam seu futuro preocupante, pois não tinham mais liberdade depois do nascimento do bebê. E apenas duas meninas não se encaixavam perfeitamente dentro de nenhum desses grupos.

A pediatra fez questão de questionar: “Que vida é essa que faz essas meninas acharem a gravidez uma saída? Para a gravidez ser o sentido da vida delas quando ainda são crianças, e, como toda criança, deveriam ter esperanças de uma vida melhor?”. Silvia Reis afirma que muitas delas diziam ter ganhado respeito após a gravidez, por terem um filho do “chefe local”.

- Para uma menina de 10 a 14 anos, que não tem expectativa de vida, ter um filho é legal. Ela é respeitada, sua vida passa a ter sentido, pois precisa criar uma criança. Não estou dizendo que as adolescentes estão certas em engravidarem, mas temos que ficar atentos, pois não adianta distribuir preservativos e fazer campanhas, se elas estão felizes com a gravidez e não querem mudar. O problema é mais profundo, muitas delas querem os bebês e até os planejam; e não será a distribuição de contraceptivos em massa que resolverá o problema. Temos que dar expectativa para essas meninas, para que a gravidez não seja uma solução. -, disse Silvia.

A médica acredita que é muito importante poder individualizar as experiências para poder ajudar. A gravidez em adolescentes de 10 a 14 anos cresce muito atualmente, mas não adianta tratá-la como uma epidemia ou criar rótulos de que essas meninas são infelizes.