• Edição 068
  • 25 de janeiro de 2007

Ciência e Vida

Síndrome de West preocupa médicos

Por Mariana Borgerth e Julia Paula AgN/Praia Vermelha

Durante os primeiros meses de vida de uma criança os pais devem ficar atentos a movimentos súbitos de contração ou extensão da musculatura. Esse é o primeiro indício da Síndrome de West, um tipo raro e grave de epilepsia que pode afetar bebês entre seis meses e dois anos, atingindo principalmente crianças do sexo masculino.

Segundo a médica Lúcia Fontenelle, professora adjunta da Faculdade de Medicina da UFRJ especialista em neurologia infantil, as crises são semelhantes a sustos e costumam ocorrer durante o acordar ou ao anoitecer já que o sono é um ativador de manifestações epiléticas. Os espasmos ocorrem de forma sucessiva e como o quadro apresenta deterioração mental as conseqüências são irreversíveis.

Inicialmente a criança pode apresentar um ou dois espasmos por vez, depois de dias ou semanas a quantidade aumenta progressivamente e eles passam a ocorrer em intervalos de poucos segundos. As convulsões são de difícil controle e podem chegar a mais de 100 por dia. “O movimento da criança é como se ela estivesse segurando uma bola. É um quadro muito difícil de se diagnosticar no começo, já que os espasmos no princípio são tão leves que muitas vezes são confundidos com cólicas”, afirma Lúcia.

A especialista disse que existem duas variações da síndrome. Na maior parte dos casos a criança apresenta um histórico propício a complicações neurológicas, como falta de oxigenação do cérebro durante o nascimento, problemas relacionados com a gravidez, malformação cerebral,ou mesmo por questões genéticas e metabólicas. Esse grupo, que tem as causas da síndrome conhecidas, é chamado de Sintomático.

Entretanto existem casos em que não há nenhuma complicação neurológica anterior que explique o aparecimento da síndrome, o chamado grupo Criptogênio. “São realizados diversos tipos de exames no paciente, mas não se consegue determinar a origem da síndrome”, relata doutora Lúcia. Além disso, é nesse grupo que se encontram os casos de cura, mas segundo ela, essa taxa é de apenas 2%.

As lesões cerebrais características da síndrome não costumam ocorrer em uma área específica, variando de criança para criança. No acompanhamento da evolução da doença, um dos principais exames realizados é o eletroencefalograma, que mede as ondas cerebrais. Em crianças que não apresentam qualquer tipo de síndrome a leitura tende a se apresentar de forma mais linear, enquanto que em pacientes da síndrome os exames apresentam irregularidade rítmica.

O tratamento tradicional é feito a base de anti-convulsivos e corticóides, mas a síndrome é conhecida pela grande resistência à medicação. A doutora alerta que para se conseguir controlar os espasmos, o tratamento deve ser feito de forma constante e não apenas no momento de crise.

Existem também outros tratamentos que podem ser feitos concomitantemente ao uso de medicamentos. Os fitoterápicos têm como objetivo o equilíbrio do tronco e da cabeça para que a criança consiga um desenvolvimento motor. Já a fisioterapia pode ser realizada para aliviar as conseqüências do déficit intelectual causado pelas lesões cerebrais. Além desses, há também a hidorterapia, que oferece uma ajuda temporária para o alívio dos espasmos.

A Síndrome recebe esse nome porque o primeiro caso conhecido foi descrito pelo doutor West, que relatou ainda em 1841, a partir da  doença de seu filho, o aparecimento desses espasmos e o comprometimento do desenvolvimento da criança.