• Edição 067
  • 11 de janeiro de 2007

Ciência e Vida

Um mergulho no tórax

Geralda Alves

A tireóide, detentora da tiroxina, hormônio necessário ao metabolismo normal do ser humano, quando sofre alterações acarreta diversos tipos de disfunção como hipertireoidismo, hipotireoidismo e os bócios. Bócio mergulhante (BM) é uma afecção rara da glândula tireóide, que acomete principalmente mulheres acima de 60 anos e com história pregressa de cirurgia tireoidiana. Caracteriza-se pelo aumento de volume da tireóide, que invade a cavidade torácica total ou parcialmente. Estima-se que a cada 100 casos de bócio, apenas um é do tipo mergulhante. A maior parte consiste em massa benigna, localizada no mediastino superior.

Mário Vaisman professor titular de endocrinologia da Faculdade de Medicina da UFRJ e chefe do serviço de Endocrinologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), afirma que o BM só tem significado se vem acompanhado de qualquer tipo de disfunção (hiper ou hipotireoidismo), se tem um volume grande ou uma suspeita de neoplasia. “O fato dele ‘mergulhar’ não muda nada. A única coisa importante nesse caso é quando ele é muito grande e pode comprimir estruturas vizinhas como a traquéia causando insuficiência respiratória. Ocasionalmente dá sinais de compressão venosa devido ao estreitamento dos vasos da base do pescoço”.

Segundo o especialista o diagnostico em muitas das vezes é um achado que aparece através de raio X, tomografia computadorizada ou ressonância nuclear. “Geralmente são bócios que vem evoluindo há 20, 30 anos, e se não tem sinal de compressão e nem disfunção não é necessário se fazer nada”.

As condutas clínicas e cirúrgicas no bócio mergulhante ainda são controversas, não havendo um consenso na literatura sobre qual o momento ideal para intervir cirurgicamente. É preciso conhecer as indicações, conseqüências e complicações do tratamento cirúrgico em determinados tipos de pacientes assintomáticos, como os idosos, avaliando a necessidade real de cirurgia.

Para doutor Vaisman essa é uma doença que não preocupa, o paciente pode conviver com o BM por muitos anos sem problemas. “Se a pessoa tem hipertireoidismo deve se tratar, se há suspeita de câncer tem que investigar o nódulo e tratar também. Só se parte para uma intervenção se o BM estiver crescendo significativamente e tiver compressão de estruturas vizinhas. Em raros casos quando o paciente não tem condições de operar, ou seja, muito idoso e com problemas de coração o tratamento é feito com iodo radioativo”.

A cirurgia, na grande maioria, é feita por via cervical sem abrir o tórax, mas em alguns casos, quando o bócio é muito grande ou está muito aderido a estruturas vasculares o procedimento é de uma esternotomia, o que requer uma dupla de especialistas de Cabeça e pescoço e do tórax. Este tratamento apresenta reduzidas taxas de mortalidade e baixo índice de complicações.

Segundo o professor Vaisman não se sabe exatamente a causa da invasão da cavidade torácica pela glândula tireóide. Supõe-se que o tamanho do pescoço, a musculatura cervical hipertrofiada e a cifose acentuada podem ser fatores predisponentes do BM.