• Edição 066
  • 14 de dezembro de 2006

Argumento

Preservação da fertilidade após o câncer

Priscila Biancovilli

Muitos homens e mulheres que enfrentam o diagnóstico do câncer podem desejar, após a cura da doença, seguir alguns planos de vida como casar e ter filhos. O problema é que, algumas vezes, o tratamento de radioterapia ou quimioterapia pode minar a saúde dos óvulos e espermas, gerando a infertilidade. Para evitar este risco, muitas pessoas optam por técnicas de congelamento deste material.

O professor Eduardo Cortes, coordenador da disciplina de Oncologia da Faculdade de Medicina da UFRJ, diz que existem diversos métodos para preservar o esperma ou o óvulo. “Existe todo um procedimento de preparação deste material para que ele possa ser armazenado a baixas temperaturas, e então durar um tempo indeterminado. Se o homem ficar estéril depois do tratamento, a mulher consegue engravidar através da inseminação artificial”.

Muitas das mulheres que ainda menstruam e se submetem ao tratamento do câncer continuam férteis. No entanto, para garantir uma gravidez futura, ela pode optar pela fertilização in vitro. “O óvulo é congelado, e também pode sobreviver por vários e vários anos, e depois é feita a fertilização com o esperma do homem que será pai.”, explica o professor.

Outra técnica de preservação é o congelamento de embriões. Isto gera bastante polêmica, principalmente devido a questões éticas e religiosas. Segundo o professor, o embrião – ou seja, o ovo já fecundado – também pode se manter congelado por um tempo indefinido. Muitas religiões consideram que a vida inicia no momento da concepção. O embrião, portanto, é tratado como um ser vivo, e seu eventual descarte pode ser considerado uma heresia. Uma outra dificuldade do congelamento de embriões é que, se a mulher quiser implantá-lo, terá de pedir autorização ao pai. Por todos estes motivos, a técnica de preservação do óvulo é a mais indicada.

Um ponto que o professor Eduardo destaca é que, muitas vezes, estas questões são esquecidas. “Muitos homens jovens, que ainda querem ter filhos e vão se submeter a períodos longos de quimioterapia, nem sempre se preocupam com isso”, alerta ele. Depois, pode ser tarde demais para lembrar.

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