• Edição 065
  • 07 de dezembro de 2006

Saúde em Foco

Brasileiro descobre como tratar câncer imune à quimioterapia

Tumor é o segundo tipo mais comum de câncer de mama. Na Inglaterra, cientista conseguiu impedir seu crescimento.

Marília Juste, do G1, em São Paulo

Células desse tipo de tumor se multiplicam lentamente

Um dos tipos de câncer de mama mais comuns e mais difíceis de se tratar - que se origina no local onde o leite materno é produzido - poderá ser curado, no futuro, com um medicamento que impede a ação de um gene. O feito, obtido em laboratório, é de um brasileiro, Jorge Reis-Filho, que trabalha em um instituto de pesquisas da Inglaterra.

Há cinco anos no país, Reis-Filho lidera o Laboratório de Patologia Molecular do Centro de Pesquisas de Ponta sobre o Câncer de Mama, em Londres. Sua missão é encontrar alvos de tratamento específicos nos tumores, para que os médicos possam dispensar, futuramente, o uso da quimioterapia.

A quimioterapia tem seus benefícios, mas também tem muitos efeitos colaterais. O câncer mata, mas a quimio também. Com alvos específicos, poderemos deixar isso de lado e tratar o câncer com poucos remédios -- que também não serão tão fortes como os usados hoje”, afirmou o cientista ao G1.

Para fazer isso, Reis-Filho e sua equipe analisam a genética das moléculas que compõem os tumores. “Nós identificamos o genoma completo do tumor, para conhecer quais genes são importantes para o surgimento e o desenvolvimento do câncer”, explica. “Com isso, sabemos exatamente quais são as alterações genéticas causadas pela doença.”

Com a técnica, o grupo do brasileiro estudou carcinomas lobulares, o segundo tipo de câncer de mama mais comum -- que atinge cerca de um em cada dez pacientes com a doença. Esse tipo de tumor é especialmente complicado porque suas células se dividem muito lentamente, e por terem altas taxas de hormônios. Com isso, a quimioterapia não funciona.

Para tratar os carcinomas lobulares, os pacientes passam por uma cirurgia e depois tomam remédios, que controlam os níveis de hormônios”, conta Reis-Filho. “Normalmente, o tumor regride. Mas em apenas 10 anos, 30% das pacientes voltam a apresentar a doença. E aí o remédio não funciona mais. Não há o que fazer”, afirma.

Estudando esse tipo de câncer, em um trabalho publicado no americano “Jornal de Pesquisa do Câncer”, os cientistas encontraram um gene, o FGFR1 em quantidades muito acima do normal. E concluíram que tinham encontrado seu alvo. “Nossa hipótese é que o FGFR1 seja o suprimento de energia das células cancerosas nesse tipo de tumor. É ele que garante sua sobrevivência”, afirma o pesquisador.

Para testar isso, a equipe utilizou duas abordagens, em laboratório. A primeira “desligava” o gene. A segunda usava um remédio para bloquear sua ação. Em ambos os casos, mas principalmente no segundo, os pesquisadores encontraram sua resposta: o crescimento dos tumores desacelerou. “É um resultado bastante promissor”, diz o cientista.

Segundo Reis-Filho a mesma técnica poderá ser usada também em outros tipos de tumores, tanto de mama quanto outros. “Essa droga específica ataca o gene FGFR1. E sabemos de outros tumores que tem esse gene em quantidades acima do normal. Acreditamos que o tratamento também deve funcionar nesses casos”, afirma. 

Atualmente, todos os diferentes tipos de câncer de mama são tratados da mesma forma. Nós acreditamos que, com nosso trabalho, poderemos ter linhas de ação específicas para cada um deles. Com isso, os tratamentos serão mais eficientes”, diz o cientista.

O resultado do brasileiro é a segunda boa notícia para pacientes com câncer de mama em menos de uma semana. Na edição passada da revista americana “Science”, cientistas anunciaram que um componente de uma pílula abortiva pode ajudar no tratamento da enfermidade.

Link original:
http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,AA1376574-5603,00.html

Fonte: G1.com.br

05/12/2006 - 21h17m - Atualizado em 06/12/2006 - 13h45m