• Edição 065
  • 07 de dezembro de 2006

Microscópio

Utilização do meio ambiente com responsabilidade

Mariana Elia

As expressões “responsabilidade social” e “responsabilidade ambiental” fazem parte do repertório de muitas empresas e indústrias. A preocupação com a preservação do ambiente é incentivada por órgãos internacionais e instituições nacionais. Com tanto discurso e propaganda, será que essas empresas realmente colocam em prática tais medidas? A população tem consciência da importância do assunto e cobra mais ações preventivas?

A preocupação com o ambiente é recente. Há pouco mais de trinta anos, dificilmente se falava sobre desmatamento, utilização dos recursos naturais ou preservação de ecossistemas. Hoje, no entanto, o tema é recorrente e muitas empresas, privadas e estatais, vêm adotando medidas para reorganização de seu sistema produtivo, visando a um maior cuidado com a utilização de espaços ecológicos e da qualidade de vida de seus trabalhadores.

Nesse sentido, a Íntegra Brasil, Agência de integração a saúde, meio ambiente e desenvolvimento social do Brasil, promove, em parceria com o Congresso Nacional, o V Seminário Nacional de Segurança, Saúde e Meio Ambiente no Brasil no próximo dia 12, em Brasília. O objetivo é discutir a responsabilidade social das empresas no controle de riscos no ambiente de trabalho e no uso mais racional das fontes naturais.

- Um projeto sustentável possibilita a utilização desses recursos a gerações futuras. Se utilizamos água potável e limpa, a idéia é que isso possa continuar assim. É o oposto de uma prática predatória, que não permite o funcionamento de um sistema cíclico - explica a professora Irene Garay, vice-diretora do Instituto de Biologia da UFRJ.

Para a professora, a questão das indústrias pode ser encarada de duas formas: a partir de uma visão global, na qual são analisadas as conseqüências para um grupo social mais amplo; e sob um aspecto mais particularizado, quer dizer, observando o espaço de trabalho e as condições para seu desenvolvimento.

Para o discurso virar prática, no entanto, ainda falta muito. De acordo com Irene Garay, isso implica mudanças de valores pela sociedade, e a adoção de conceitos como respeito, igualdade e solidariedade. “Ainda assim, estamos no princípio desse processo, que decorre também em certos ônus. É mais caro produzir de maneira equitável, mas nós todos temos que bancar esse preço”, ressalta a professora.

Os produtos orgânicos, por exemplo, são, ao mesmo tempo, mais e menos produtivos. Se, por um lado, seu cultivo é menos rendoso, colhe-se menos por espaço ocupado, que de produtos com outras substâncias, por outro, se mantêm as cadeias tróficas e não se poluem lençóis freáticos. “Na medida em que as pessoas tiverem mais educação, o que é também responsabilidade das empresas, e recursos, a lógica da responsabilidade ambiental terá êxito”, afirma a professora, que acredita, em processos paralelos de cuidado ambiental e cidadania.

Se vivíamos até pouco tempo entre o extremo da ótica preservacionista, que pregava a não utilização dos recursos naturais de forma alguma, e o seu oposto, que mantinha uma prática predatória e irreversível, hoje a professora defende sua abordagem que “preserva para produzir e viver melhor”, ou seja, utiliza os recursos de maneira harmoniosa com o meio ambiente. O seminário promovido pelo Governo e a Agência Íntegra Brasil pode ser um ponto de apoio para a adoção de políticas públicas com essa ótica.