• Edição 064
  • 30 de novembro de 2006

Argumento

Avanços para a cura das leucemias

Fernanda Carvalho, da AgN/CT

A leucemia é um tipo de câncer caracterizado por alteração nas células sangüíneas, que passam a multiplicar-se de forma anormal. Sua cura já é uma realidade, mas o sucesso do tratamento depende de um diagnóstico rápido e preciso. A “citometria de fluxo multiparamétrica” é uma ferramenta poderosa, que se caracteriza por um método objetivo para determinação das propriedades físicas das células.

Estudos que surgiram de uma parceria entre pesquisadores do Brasil e Espanha produziram formas mais eficientes de utilização da citometria na busca de diagnósticos mais precisos e confiáveis. Os principais pesquisadores envolvidos no projeto são o engenheiro Carlos Eduardo Pedreira, professor da Faculdade de Medicina e do Programa de Engenharia Elétrica da Coppe/UFRJ, além de coordenador da equipe brasileira atuante na pesquisa; Elaine Sobral da Costa, médica Hematologista do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG/UFRJ) e professora colaboradora do Programa de Clínica Médica da UFRJ; e Alberto Orfao, médico da Universidade de Salamanca, na Espanha.

- Acredito que os novos desafios em saúde só poderão ser adequadamente enfrentados se pesquisadores da área biológica e tecnológica forem capazes de se comunicar e de colaborar na produção da pesquisa científica -, declara o professor Carlos Eduardo.

Diagnóstico inovador

A equipe, além de ser binacional, também é transversal, pois une pesquisadores da Faculdade de Medicina e da Coppe. Em abril de 2006, intensificou-se a participação dos professores da UFRJ em um grupo de pesquisa multinacional europeu. Desde então, os professores Elaine Sobral e Carlos Eduardo Pedreira passaram a integrar o projeto EUROFLOW (patrocinado pela União Européia) como “membros”, com funções de assessoramento e pesquisa em automação da análise de dados de citometria.

Atualmente, a citometria — capaz de avaliar milhares de células em suspensão e obter várias informações delas — é feita manualmente por um operador, que deve ser altamente qualificado e ter conhecimentos não apenas sobre as células normais que fazem parte da medula óssea, a “fábrica de sangue”, mas também do comportamento das leucemias. Além disso, apesar da citometria gerar diversas informações simultâneas, o operador baseia sua decisão para identificação das populações de células (normais ou cancerígenas) através imagens bidimensionais em uma tela de computador. Essa análise é, portanto, limitada a informação de apenas dois parâmetros por vez.

Entre os principais avanços do projeto em desenvolvimento está a possibilidade de extrair informação diretamente de todos os parâmetros disponíveis, evitando assim a dependência da visualização em duas dimensões. Isso se dá por meio de um conjunto de técnicas conhecidas como “Inteligência Computacional”, o que torna a proposta original tanto no Brasil quanto no exterior. Um segundo grande avanço proporcionado pelo projeto é a automação, tornando o exame muito menos dependente de um operador, e desta forma mais confiável e reprodutível.

O professor Carlos Eduardo Pedreira explica que “mesmo operadores com alguma experiência podem cometer enganos e gerar erros nos diagnósticos. Há poucas pessoas no mundo capazes de gerar diagnósticos de forma consistente e confiável”.
 
Reconhecimento

Se a proposta for bem sucedida, a automação, e os demais avanços deste projeto, em citometria representará um grande avanço tecnológico para o tratamento das leucemias, que poderá se estender ao diagnóstico e acompanhamento de outros tipos de câncer e enfermidades.

O professor adianta que, para 2007, há previsão para três novas frentes de pesquisa. São elas: “Desenvolvimento de procedimentos para diagnóstico e monitorização de tumores sólidos e linfomas”, “Identificação de doença residual mínima” e “A identificação, quantificação e caracterização de células-tronco de medula óssea em doenças cardiovasculares prevalentes”.

Graças aos resultados altamente relevantes de sua pesquisa, o professor Carlos Eduardo Pedreira ganhou o Prêmio Santander Banespa de Ciência e Inovação. Para ele, conquistar o prêmio é muito importante, não apenas pelo reconhecimento de seu trabalho, mas também pelos possíveis investimentos a premiação atrairá. “O prêmio trará um aporte direto de recursos e, dada a sua importância, acredito que vai facilitar a obtenção de recursos de outras fontes, permitindo a continuação desse desenvolvimento”, afirma o professor.

Carlos Eduardo Pedreira destaca a importância da convergência de investimentos públicos e privados no desenvolvimento científico do nosso país. Para o professor, o capital privado não deve substituir o público; ambos devem ser somados. Ele ainda acrescenta que sua pesquisa não teria obtido tanto êxito não fosse o apoio da Capes e do CNPq, além do Banco Santander da Espanha, através da Fundação Marcelino Botín.

- Os resultados que já foram obtidos no projeto mostram claramente os benefícios dessa parceria de financiamento público e privado: duas patentes internacionais, uma tese de doutoramento defendida (no Brasil), um software comercializado e artigos científicos publicados em periódicos de circulação internacional de grande impacto - , observa Carlos Pedreira.