• Edição 064
  • 30 de novembro de 2006

Por uma boa causa

Para alguns, nada de leite!

Mariana Elia

Encerramos nossa série sobre as características do leite e suas funções para o homem com algumas informações sobre intolerância e alergia a tal alimento. Algumas pessoas não podem ingerir leite e derivados. Isso se deve a componentes do leite que podem causar reações adversas no organismo. O resultado é que para determinados casos a solução é interromper a ingestão do alimento e de qualquer derivado. Outros, no entanto, suportam pequenas quantidades.

Muitas pessoas confundem alergia com intolerância. Essas duas reações derivam de componentes distintos do leite. A alergia está relacionada a um aumento da produção da Imunoglobulina E (IgE) devido à presença de proteínas, consideradas pelo sistema imunológico como antigênicas. As principais são a betalactoglobulina, alfalactoalbumina e, a principal do leite, a caseína. “Isso ocorre em um segmento da população, que a gente chama de atópica. O excessivo aumento da IgE no organismo decorre em reações alérgicas, que iniciam, geralmente, no sistema digestivo”, esclarece Alfeu Tavares França, professor-associado da Faculdade de Medicina da UFRJ e médico do Serviço de Imunologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF).

As crianças são mais propensas à alergia por conta do fortalecimento do sistema imune. Não existe, segundo o professor, um período determinado para seu amadurecimento, mas, normalmente, por volta dos seis anos o sistema está constituído. Por essa razão, muitas crianças deixam de ser alérgicas após essa idade.

Os sintomas das crises alérgicas são desconfortos nos órgãos do sistema digestivo e, em seguida, em outros sítios alergênicos, como erupções na pele (urticária), secreção no aparelho respiratório e inflamações na conjuntiva. O professor Alfeu alerta que a alergia às proteínas lácteas favorece o desencadeamento de outras formas de alergia, seja a alimentos, como o amendoim, ou de substâncias inaladas, tais como poeira e pólen. De acordo com ele, cerca de 30% da população brasileira são alérgicas.

A intolerância, por sua vez, tem relação com o principal açúcar do leite, a lactose. Não há, nesse caso, uma reação imunológica, mas uma inexistência ou uma quantidade insuficiente de enzimas para digestão desse açúcar. Hoje em dia, aproximadamente 25% dos brasileiros não produzem adequadamente a enzima, sendo as causas, de acordo com Alfeu, pouco conhecidas. A incapacidade de metabolizar a proteína impede que ela ultrapasse a parede intestinal, levando a produção de ácido lático e gases. Dessa forma, a principal conseqüência da intolerância a lactose é a diarréia ácida e gasosa.

A intolerância também tem predisposição genética, mas pode ser derivada do uso de medicamentos e de algumas doenças intestinais. Nestes casos, a produção enzimática volta ao normal após o restabelecimento do organismo. O diagnóstico de ambos os casos, intolerância e alergia, é feito com exame clínico e laboratorial. O tipo de diarréia, bem como a análise da IgE – esses anticorpos são específicos para cada substância. Dessa forma, existe uma Imunoglobulina E específica para as proteínas do leite – são avaliados pelo especialista. Alfeu França destaca ainda, para o diagnóstico, a redução da Imunoglobulina A (IgA) na mucosa do aparelho digestivo em casos de alergia.

- Nos casos de alergia, qualquer quantidade da proteína irá provocar crises. Assim, a solução é não ingerir leite, nem qualquer de seus derivados, queijos ou bolos, por exemplo - explica o professor Alfeu. Já na intolerância, algumas pessoas conseguem digerir pequenas quantidades de lactose. De qualquer maneira, em ambos os casos é possível tentar reintroduzir o leite de tempos em tempos, junto com o acompanhamento de um especialista.