• Edição 061
  • 09 de novembro de 2006

Ciência e Vida

Hormônio do crescimento também é assunto de gente grande


Priscila Biancovilli

Na linguagem científica, o termo somatopausa costuma ser usado para caracterizar o vínculo entre a diminuição do hormônio do crescimento (GH) - que acontece com o envelhecimento - e alterações nas funções orgânicas, metabólicas e na composição corporal do organismo. O hormônio do crescimento é produzido pela glândula hipófise e estimula o crescimento e reprodução celulares em crianças e adolescentes. A partir dos 21 anos, sua produção começa a decrescer lentamente, mas nunca cessa. Entre as funções do GH num organismo adulto estão a manutenção da massa e força muscular, da densidade mineral óssea, da disposição ao exercício físico e também da redução da gordura corporal. O GH tem uma enorme capacidade restauradora, revertendo danos celulares e até mesmo recuperando órgãos que estejam falindo.

Diversos trabalhos científicos demonstram a relação entre a deficiência desse hormônio e a progressão do envelhecimento. Um estudo apresentado na XVIII Jornada Giulio Massarani de Iniciação Científica, Artística e Cultural da UFRJ, produzido pela estudante Priscila Marques de Macedo, com orientação dos professores Mário Vaisman e Flávia Lúcia Conceição, da Faculdade de Medicina, buscou um maior aprofundamento nessa questão. A pesquisa se baseou na análise de 29 indivíduos do sexo masculino, acima de 50 anos e saudáveis. A análise do perfil somatotrófico (taxa de secreção do hormônio do crescimento) desses homens foi associada com suas composições corporais e capacidade de resistir ao exercício físico, e assim se buscou encontrar alguma relação entre essas variáveis.

O hormônio do crescimento recombinante, ou sintético, “é aquele produzido em laboratório, por técnica de DNA recombinante, e é utilizado no tratamento de pessoas com deficiência no hormônio do crescimento”, afirma Flávia Lúcia. E essa falha na produção hormonal não acomete apenas crianças e adolescentes. Mesmo que esse hormônio seja bastante utilizado para corrigir problemas de estatura em crianças, essa não é sua única função. Quando acomete um adulto, o déficit do hormônio provoca sintomas típicos de envelhecimento, como diminuição da energia, alterações no sono, aumento da gordura corporal, depressão, diminuição da memória, redução da massa muscular, fadiga, aumento da adiposidade abdominal, pele fina e seca, além de uma série de problemas cardiovasculares.

Muito se discute sobre a redução do hormônio de crescimento, que é relacionada ao envelhecimento. “Não sabemos se o fenômeno inicial é a redução da secreção de hormônio de crescimento com a conseqüente falta de sua ação no tecido adiposo e muscular, ou se o fenômeno inicial seria a redução da massa muscular e acúmulo de gordura com conseqüências na secreção de hormônio de crescimento. Sob essa hipótese, a redução de exercícios físicos e o ganho de peso acabariam diminuindo a secreção do hormônio”, destaca Flavia.

Dentro da população estudada, não se encontrou uma relação entre a taxa de hormônio do crescimento e os parâmetros cardiovasculares e de composição corporal. Concluiu-se, a partir daí, que não existe uma relação entre a secreção do hormônio GH e o envelhecimento. O resultado da pesquisa, no entanto, não deve ser considerado como verdade absoluta, já que o perfil de homens analisados foi restrito. Aqueles que optaram por se submeter ao estudo apresentaram, em média, IMC (Índice de Massa Corporal) normal ou de sobrepeso, e boa capacidade ao exercício físico.