• Edição 060
  • 1° de novembro de 2006

Argumento

Os cosméticos orgânicos são mesmo orgânicos?

Renata Magliano

  Na onda dos alimentos orgânicos, ou seja, produzidos sem agrotóxicos e sem fertilizantes artificiais, fabricantes de tais cosméticos ampliam discussão, no Brasil e no mundo, acerca desses produtos, ao divulgá-los para a sociedade mesmo sem terem sido registrados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Diversas polêmicas rodeiam essa inovação, se é que pode ser assim chamada. Mônica Azulay que, além de professora de Dermatologia da Faculdade de Medicina da UFRJ e responsável pelo setor de Dermatologia Cosmética é, também, titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia, relata que não conseguiu entender o que esses fabricantes querem exatamente com isso porque um produto completamente orgânico, do ponto de vista de um cosmético, é inviável.

Os cosméticos que circulam no mercado têm diferentes percentagens de ingredientes orgânicos (alguns têm 5% e outros têm 95%, por exemplo) e cada certificadora desses tipos de produto exige diferentes percentagens de tais ingredientes para que sejam selados.

Um outro problema é que não há nada publicado na literatura científica relativo a esses produtos, “mas se tem publicação de cosméticos, como os cremes de vitamina C, considerados cosmecêuticos – com ação cosmética e que estão incluídos na categoria dermatologicamente benéfica para a pele. Para garantir a qualidade de um produto, se fazem testes e avaliações”, esclarece Azulay. No entanto, até agora não foram tomadas nenhumas dessas medidas para comprovar a eficácia da ação desses produtos.

Para a professora, tais produtos trazem uma aparência melhor, mas não tratam efetivamente da pele. Ela disse ainda que não basta falar das vantagens, deve-se esclarecer a real ação do produto para as pessoas.

Azulay explicou que esses cosméticos orgânicos seriam feitos a partir de plantas tratadas organicamente como os alimentos sem produtos tóxicos. Ela diz ainda não entender o que os fabricantes querem dizer com o termo cosmético orgânico. “Não vejo nenhum sentido. A chance de se ter uma reação alérgica é igual com qualquer produto, todos passíveis de sensibilizar o paciente. Isso não vai minimizar esses efeitos”, ressalta a dermatologista.