• Edição 058
  • 19 de outubro de 2006

Saúde e Prevenção

Mais que um retrato

Fotografia pode deflagrar doenças oculares em crianças

Mariana Elia

Você já percebeu uma espécie de nuvem esbranquiçada nos olhos de uma criança em fotografias, ao invés daquele reflexo avermelhado? Também chamado de leucocoria, ou "olho de gato", esse é o principal alerta para uma doença que afeta um em cada 17 mil recém-nascidos no mundo ocidental. O Retinoblastoma é um tumor maligno localizado na parte posterior da retina, que é a camada mais sensível a luz dos olhos. Os bebês são os mais afetados, sendo o tumor diagnosticado, geralmente, nos dois primeiros anos de vida.

Segundo o oftalmologista, Renato Cunha David, que trabalha no Serviço de Oftalmologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), seu prognóstico está diretamente relacionado ao diagnóstico precoce. "O exame de fundo de olho até os dezoito meses de vida permite a identificação de 90% dos tumores", explica. Outros sinais podem ser observados pelos pais, como estrabismo, "causado pela baixa acuidade visual", mas é fundamental a procura por um oftalmologista, pois esses também são sintomas para outras doenças. A tomografia computadorizada, ultrasonografia e ressonância magnética são também indicadas para uma avaliação segura.

O retinoblastoma pode ser uni ou bilateral. Isso quer dizer que o tumor pode acometer um ou os dois olhos. No segundo caso, há estudos que indicam 30% de predisposição genética. O tratamento pode ser feito com a crioterapia, irradiação externa e enucleação, que é a retirada total do globo ocular. Essa medida, adotada principalmente em casos de unilateralidade, é importante quando a visão já está prejudicada e disseminam vários focos do tumor. O oftalmologista explica que sob o ponto de vista funcional, apesar da visão monocular, a criança tem um desenvolvimento normal e tanto médico como familiares costumam ficar bastante satisfeitos com o resultado.

- Hoje em dia, porém, raramente se recorre a enucleação. O diagnóstico e tratamento evoluíram muito, permitindo a manutenção do globo em aproximadamente 80% dos casos.

Quando a enucleação é realizada, colocamos uma prótese e a criança é acompanhada pelo oftalmologista por toda a vida e pelo oncologista, por 5 a 8 anos. Entretanto, em estágio avançado, o tumor pode atingir o Sistema Nervoso Central e gerar metástases à distância, o que aumenta o risco de óbito - alerta o oftalmologista Renato David.

São registrados cerca de 350 novos casos por ano nos Estados Unidos. Em países em desenvolvimento, o retinoblastoma chega a ser a quarta causa de morte de crianças e, em países mais ricos, a segunda. Pesquisas mostram que o tumor ocular está associado a uma anormalidade no cromossoma 13, que pode estar presente em todas as células do corpo (40%) ou apenas nas células do olho (60%). A fotografia pode deflagrar outras doenças oculares, mas, para o oftalmologista Renato David, principalmente, ela tem servido para convencer pais que têm dificuldade em admitir alterações em seus bebês.