• Edição 058
  • 19 de outubro de 2006

Por uma boa causa

Do veneno ao controle natural

As novas alternativas ao uso dos agrotóxicos

Taisa Gamboa

O interesse pelos programas de controle biológico de pragas tem crescido consideravelmente no mundo em função do novo direcionamento internacional da produção agrícola. Hoje em dia, preza-se pela conservação e o uso sustentável dos recursos biológicos, requisitos básicos da Convenção da Biodiversidade (CDB), um dos principais resultados da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), realizada no Rio de Janeiro, em junho de 1992. A política internacional atual demanda alternativas para os agrotóxicos, garantindo, sobretudo, a manutenção da biodiversidade.

A intenção é boa, mas nem sempre essas medidas são adotadas na prática. A política econômica internacional favorece a utilização dos agrotóxicos como forma de garantir a produção e os conseqüentes lucros. De acordo com o Ministério da Saúde, o uso indiscriminado de produtos químicos é o principal risco à saúde do trabalhador em pelo menos 16 estados do Brasil. Mesmo sem serem apontados em alguns estados, os agrotóxicos podem ser considerados um problema nacional.

Há cerca de 20 anos, o uso indiscriminado desse tipo de insumo era um problema restrito às regiões Sul e Sudeste e parte do Nordeste. Mas a expansão das fronteiras agrícolas e o desenvolvimento da agroindústria promoveram o incremento do uso de agrotóxicos no Centro-Oeste e no Norte. As formas de reprodução agrícola intensiva geralmente, não sustentáveis, exigem insumos fortes e de difícil substituição. Mas como parar com a utilização de agrotóxicos? Existe alguma alternativa viável à economia agrícola nacional? O Por uma boa causa dessa semana tenta responder essas e outras questões que possam significar um alívio para a biodiversidade nacional.

O Brasil é um dos poucos países do mundo detentores da uma variedade biológica gigantesca, que pode oferecer uma oportunidade ímpar para o controle biológico de pragas no país, com a identificação de novos organismos vivos com potencial para tal utilização. De acordo com a professora Irene Garay, vice-diretora do Instituto de Biologia (IB) da UFRJ, os inimigos naturais são de grande importância para agricultura sustentável, e podem, freqüentemente, substituir ou reduzir a necessidade de utilização dos agrotóxicos, sendo um importante componente no manejo ecológico de pragas. A tendência do uso do controle biológico nas plantações é aumentar consideravelmente no âmbito global, atendendo às demandas internacionais na utilização de práticas agrícolas menos agressivas ao meio ambiente.

Apesar de o controle biológico com microrganismos naturais é uma das principais armas no combate ao uso de agrotóxicos, para que essa medida seja implementada com sucesso é necessária a adoção de uma política de incentivo à pesquisa por parte do governo. Uma campanha de conscientização voltada para os produtores rurais, e seu treinamento técnico para a correta utilização dos agrotóxicos, bem como formas alternativas também são ações importantes nesse processo.

Irene Garay destaca a manipulação de organismos geneticamente modificados (OGM) como uma opção contra o uso indiscriminado de agrotóxicos. A técnica pode ser utilizada para a criação de cultivares com a capacidade de auto-proteção contra determinados microorganismos resistentes aos agrotóxicos, por exemplo.  A professora do Instituto de Biologia enfatiza, porém, os possíveis problemas decorrentes da utilização de OGM. “Ainda não sabemos ao certo se um animal alimentado com um organismo geneticamente modificado pode absorver essa alteração, e se isso gera algum tipo de reflexo no organismo do ser humano que o ingerir”, ressalta.

Outra alternativa mencionada pela professora do IB é a agricultura orgânica, termo frequentemente usado para a produção de alimentos e produtos animais e vegetais que não fazem uso de produtos químicos sintéticos ou alimentos geneticamente modificados, e geralmente adere aos princípios de agricultura sustentável. Segundo Garay, a diversificação de cultivos impede o empobrecimento do solo e evita que os insetos se transformem em pragas.

A professora lembra, entretanto, que esses sistemas agrícolas mais sustentáveis podem não apresentar rendimento produtivo e econômico tão expressivos quanto os que utilizam agrotóxicos, o que inviabiliza a sua adoção por pequenos produtores. “Por isso é importante a adequação da técnica ao cultivo extensivo e a implantação de políticas de incentivo governamental. Apenas desta forma será possível a adoção de um cultivo orgânico economicamente rentável”, completou Irene Garay. Com o estabelecimento de uma base adequada que garanta a ampliação da agricultura orgânica, ela poder utilizada como um instrumento de desenvolvimento social, fornecendo trabalho a quem precisa e alimentos mais saudáveis para a população.