• Edição 057
  • 11 de outubro de 2006

Saúde e Prevenção

Análise no DNA já é capaz de detectar algumas doenças

Isabella Bonisolo

O avanço no seqüenciamento do genoma humano trouxe a possibilidade da delimitação das coordenadas do mapa genético, ou seja, o número de repetições encontradas no DNA (Ácido Desoxirribonucléico)de uma pessoa normal. Apesar de essas descobertas ainda estarem engatinhando, em alguns casos já se pode detectar problemas futuros ou que estão na iminência de manifestar-se através do teste gênico.

O exame (ou teste gênico) é capaz de diagnosticar ou prognosticar doenças a partir das alterações nas seqüências de DNA. Entretanto, ainda não se pode utilizar essas análises para prever qualquer tipo de doença, já que nem todas as definições do genoma humano foram determinadas.

- Temos, com o genoma humano, uma espécie de um dicionário completo de tudo o que acontece no corpo humano ligado ao DNA. Muitas das seqüências estão sendo desvendadas, mas há, ainda, muito trabalho a ser feito. Precisamos revelar ainda a sintaxe desse dicionário e o significado de algumas palavras – relata Franklin Rumjanek, professor do Laboratório de Bioquímica e Biologia Molecular de Schistossoma Mansoni e Câncer, do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ.

De acordo com Franklin Rumjanek, certos problemas neurológicos, como a doença de Huntington (DH) – desordem degenerativa e hereditária do cérebro que afeta a capacidade cognitiva, movimentos e equilíbrio emocional – já podem ser evidenciadas no genoma. Alguns tipos de câncer também já são reconhecíveis precocemente pela análise de deformações do DNA. O de mama, por exemplo, envolve o teste dos genes BRCA1 e BRCA2. Com o diagnóstico precoce, é possível dar mais atenção para a manifestação da doença.

Uma das vantagens dos exames gênicos é a propriedade de serem menos invasivos. Como o polimorfismo (alteração no comportamento dos genes) do DNA é estável para todos os tecidos, não faz diferença utilizar sangue ou uma parte de outro orgão. Franklin Rumjanek esclarece, porém, que isso não substituirá a biópsia como verificação necessária em certos casos.

A análise gênica não é útil somente para a pessoa que se submete ao exame, mas também para a sua família. Como a doença detectada é de origem hereditária, ela irá ocorrer com mais freqüência em uma determinada população. “Se é possível determinar a alteração do DNA que causa um câncer, por exemplo, pode-se alertar os membros da família do doente das possibilidades de aparecer ou não em descendentes”, explica o professor.

No futuro, com os avanços biotecnológicos, será possível uma ação médica no próprio gene anômalo. Essa intervenção, denominada terapia gênica, pretende fazer uma correção no DNA da seqüência que cause problemas para o indivíduo e para os seus descendentes. Segundo Franklin, no momento, há extensas limitações nesse sentido, mas as perspectivas são de superação. “Existem poucos casos de intervenção desse tipo. As poucas realizadas envolvem tecidos que foram extraídos, tratados e recolocados. Isso vale para o sangue e para células sintetizadas na medula óssea”, revela o pesquisador.

Atualmente, a UFRJ possui o Laboratório Sonda, que analisa cerca de 200 patologias ligadas ao DNA. A iniciativa, coordenada por Franklin Rumjanek em colaboração José Lourente, professor da Universidade de Granada, na Espanha, põe a serviço da comunidade exames gênicos que não são facilmente encontrados em outros laboratórios.

Anteriores