• Edição 055
  • 28 de setembro de 2006

Saúde em Foco

Micróbios são cada vez mais resistentes a antibióticos

Os micróbios buscam constantemente a forma de neutralizar os antibióticos, tornando-se resistentes a eles, em um processo que é acelerado com o consumo excessivo de medicamentos, alertaram médicos reunidos na 46ª Conferência Anual sobre Agentes Antimicrobianos e Quimioterapia (ICAAC).

A ineficácia de uma série de antibióticos para vencer estes patógenos mutantes atua em 90 mil mortes por ano nos Estados Unidos, causadas por infecções no sangue, informou o doutor Louis Rice, do Medical Center, em Cleveland (norte dos EUA).

A resistência microbiana aos antibióticos é um problema enorme", explicou durante a conferência, que desde quarta-feira reúne em San Francisco mais de 10 mil cientistas e médicos do mundo inteiro.

Estes micróbios são dotados de uma capacidade detectável para adquirir esta resistência por simples contato com o antibiótico", acrescentou o médico, que atribui esta situação ao uso excessivo de medicamentos.

Há uma importante relação estatística entre a mortalidade e o uso inadequado dos antibióticos", destacou.

Segundo ele, seria preciso começar a elaborar normas federais sobre a duração necessária dos tratamentos com antibióticos para combater infecções. Isto permitiria não expor por tempo demais os doentes a estes tratamentos e limitar o desenvolvimento de resistência dos patógenos.

O doutor Rice também se referiu aos laboratórios para pedir que não estimulem o uso excessivo de antibióticos. "Há uma lógica financeira que estimula o consumo excessivo de antibióticos, mas é algo ruim do ponto de vista médico", declarou, insistindo também na necessidade dos grandes grupos farmacêuticos de assumir suas responsabilidades pelo que ajudaram a criar.

Outro problema é a pouca quantidade de novos antibióticos lançados pelos laboratórios, em um momento em que o arsenal existente destes medicamentos se torna cada vez mais eficaz.

Para Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional americano de Alergias e Doenças Infecciosas (NIAID), a resistência microbiana múltipla é um problema muito sério que só pode ser contrabalançado por pesquisas sobre novos antibióticos".

Além disso, os micróbios parecem desenvolver mais rápido do que antes resistências aos poucos antibióticos novos. O Zyvox, primeiro antibiótico novo em 35 anos, lançado em 2001 pelo grupo Pharma and UpJohn para vencer a resistência do Estafilococo áureo (SARM), já perdeu, assim, grande parte de sua eficácia.

O SARM, denominado de super bug (superbactéria), é um forte causador de infecções, especialmente nos hospitais, onde 300 mil americanos contraem anualmente uma infecção causada por ele. Em 43% dos casos, a infecção apresenta resistência aos antibióticos.

O Estafilococo áureo se espalha para outros lugares, como vestiários, casas de repouso e prisões."Os laboratórios farmacêuticos deveriam investir mais nestas pesquisas e no desenvolvimento destes medicamentos", avaliou Anthony Fauci, atribuindo a fragilidade do esforço a uma falta de estímulo à pesquisa fundamental aos níveis federal e acadêmico.

Mas alguns grandes laboratórios já vêem neste fenômeno da resistência microbiana uma possibilidade de ganhar dinheiro, como o suíço Basilea Pharmaceutica, associado a uma filial do americano Johnson and Johnson. Os dois laboratórios estão na última fase de testes do Ceftobiprole Medocaril para o tratamento do resistente SARM.


Site Terra
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28/09/2006