• Edição 055
  • 28 de setembro de 2006

Ciência e Vida

Genômica nutricional: o guia para a alimentação do futuro

Isabella Bonisolo

Imagina poder dizer desde cedo quais são os alimentos que causam alergia no seu organismo. Ou melhor ainda, poder saber quais são aqueles que se você insistir em comer, levarão ao desenvolvimento de um câncer ou da temida obesidade. Conhecer cada peculiaridade individual da nutrição de um ser humano, até um tempo atrás, soava como utopia. Estudos atuais apontam, porém, que em um futuro próximo, o domínio da capacidade do mapeamento genético somado às pesquisa que relacionam gene e nutrição, poderão prever o comportamento do corpo diante da ingestão das substâncias.

As pesquisas da Genômica Nutricional trazem a esperança da tão desejada dieta personalizada. Através da análise dos polimorfismos, ou seja, as alterações do comportamento do gene, seria possível delinear a interação entre a ingestão alimentar e a expressão genética, para gerar os dados da resposta metabólica. Segundo a professora Glorimar Rosa, do Instituto de Nutrição Josué de Castro (INJC/UFRJ), “em um futuro próximo teremos o nutrogenomograma, exame que traçará o perfil metabólico do indivíduo, nos possibilitando elaborar um plano alimentar de acordo com o metabolismo da pessoa, tornando o tratamento nutricional mais eficaz”.

Além de um guia nutricional individualizado que trará qualidade de vida imediata, as taxas de risco de doenças poligênicas multifatoriais, como a diabetes, obesidade e câncer, poderão ser identificadas a partir do cruzamento de dados.

— O mapeamento genético nos possibilitará detectar os riscos para o desenvolvimento das doenças crônicas e, assim, poderemos atuar diretamente na prevenção das mesmas. Além disso, a tecnologia gênica na produção dos transgênicos permitirá uma maior produtividade e qualidade nutricional dos alimentos, contribuindo efetivamente para a prevenção e tratamento das doenças de carência nutricional ou decorrente de alterações metabólicas — garante a professora.

A dobradinha nutrição e genética traz muitas respostas, como por exemplo, o porquê de certos indivíduos de um mesmo grupo, na qual todos sigam rigorosamente a mesma dieta, não apresentarem respostas tão satisfatórias quanto outros.

Quem imediatamente pensou que com essas descobertas, as pesquisas dos alimentos funcionais ficariam sem sentido, já que cada alimento traria uma resposta diferente para cada indivíduo, enganou-se. Glorimar acredita que a nutrogenômica não joga por terra todo o conhecimento científico anterior, pelo contrário vem aperfeiçoar.

Nos Estados Unidos, alguns laboratórios já são capazes de traçar as características genéticas de algumas enzimas, porém, um mapeamento completo da cadeia gênica ainda é coisa do futuro. Enquanto isso não é possível, o mundo organiza-se em torno da nutrogênese. Há oito anos, cerca de 20 organizações de dez países membros da União Européia formaram a Organização Européia de Nutrogenômica (NuGO). Os EUA e a Nova Zelândia também possuem seus centros de estudo nutrigenômicos.

Atualmente, Glorimar desenvolve uma pesquisa sobre os aspectos moleculares, bioquímicos e de estilo de vida de indivíduos com síndrome metabólica. Primeiramente, o estudo analisou o polimorfismo da enzima envolvida no metabolismo do folato e da homocisteína, substâncias de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. “A principal causa de morte por síndrome metabólica são as doenças cardiovasculares e a deficiência de folato (vitamina antidepressiva natural) provoca um aumento substancial nas concentrações da homocisteína no plasma sanguíneo. E, por outro lado, a suplementação de folato resulta na redução da homocisteinemia. Nossos resultados iniciais apontam para a importância de um maior consumo de folato”, relata a nutricionista. A pesquisa foi premiada como o melhor trabalho no último Congresso Brasileiro de Nutrição, ocorrido em São Paulo em setembro de 2006.