• Edição 055
  • 28 de setembro de 2006

Notícias da Semana

II Encontro do Comitê de Ética em Pesquisa

Isabella Bonisolo

O Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), realizou dia 28/09, no auditório Halley Pacheco, 8º andar do prédio do HUCFF, o II Encontro de Ética em Pesquisa. O evento contou com a participação do ex-ministro da Educação e professor emérito da UFRJ, Eduardo Mattos Portella, que discursou sobre as perdas do mundo pós-moderno.

- A história contemporânea nunca teve um momento de tanta carência de ética. Temos que voltar e conversar sobre ela. Se nós perdermos o parâmetro ético, em uma sociedade que progressivamente deixou de lado suas referências habituais, nós ficaremos com uma margem de descontrole muito grande. Toda vez que há o desaparecimento da ética, há o esquecimento de um conjunto de regras que são fundamentais no exercício de determinadas profissões, principalmente da área de ciências da saúde – declara Portella.

Determinado o valor rarefeito da ética, o ex-ministro fez uma retomada histórica do surgimento da razão instrumental que é parcialmente responsável pelas perdas modernas. Argumentou que o progressismo é a máscara que oculta essa situação. Para o professor, “tanto a questão da ciência, quanto da arte, quanto da ética, devem ser localizadas no horizonte histórico da modernidade, ou das várias modernidade”.

Portella, que já fez parte do Conselho de Bioética de Paris durante dois anos, defendeu que a ética deve caminhar juntamente com o sistema judiciário para que ela exista plenamente. “Ética não deve ser abstrata, deve ter vigor”, não importa o quão voraz é a fome da ciência pelas novas descobertas.

Após o discurso reflexivo, os participantes do evento puderam assistir ao grupo de violonistas da Escola de Música da UFRJ. Lembrou-se que apesar de parecer fugir do cunho científico do encontro, a música já está muito inserida na área da saúde, como na jornada de anestesia, por exemplo.

O evento ainda contou com palestras explicativas sobre os procedimentos para que um projeto de pesquisa científica seja analisado pelo CEP.

O CEP foi criado em 1997 graças às exigências da Regulamentação Brasileira de Ética e Pesquisa em seres Humanos determinada em 1996. Até hoje, 1708 projetos já foram aprovados pelo grupo. “Nós não somos um órgão carimbador de papel. Tudo tem que ser analisado para que voluntário e pesquisador sejam protegidos”, afirmou Luiz Carlos Miranda, coordenador do CEP.


UFRJ homenageia estudantes que resistiram à ditadura militar

Geralda Alves e Isabella Bonisolo

A sessão especial do Conselho Universitário (Consuni) realizada no Auditório Rodolpho Paulo Rocco (Quinhentão), no Centro de Ciências da Saúde (CCS), resgatou um episódio importante da resistência democrática contra a ditadura e a favor da autonomia universitária: a invasão, na madrugada de 23 de setembro de 1966, do antigo prédio da Faculdade Nacional de Medicina (FNM), no Campus da Praia Vermelha, que resultou na depredação do edifício e em agressões a mais de 600 estudantes que haviam nele se abrigado.

A comunidade universitária pôde reviver um pouco daquele episódio, que ficou conhecido como  “Massacre da Praia Vermelha”. Fotos da época foram expostas no hall do auditório Quinhentão, emocionando muitos dos convidados que participaram, à época, como estudantes ou professores, na resistência àquela agressão à autonomia da universidade.

Durante a exibição do curta-metragem sobre a Invasão da FNM, produzido pela Divisão de Mídias Audiovisuais da CoordCOM, depoimentos e imagens rememoraram o contexto histórico e cultural, assim como a trajetória do movimento estudantil, com a União Nacional dos Estudantes (UNE) à frente, durante a ditadura militar. A luta dos estudantes, aliás, foi ressaltado pelo reitor Aloísio Teixeira, à época estudante e participante do episódio: “o Conselho Universitário homenageia não com uma simples posição festiva. Nós prestamos essa homenagem ao passado, pois a história é a argamassa para a construção da sociedade”.

Sangue, suor e lágrimas, foram palavras utilizadas pelo professor emérito Antonio Paes de Carvalho no curta-metragem exibido durante a rememoração, expressam bem o clima dos anos de chumbo que marcaram a vida do país. Logo após o reitor abrir a sessão especial do Consuni, Lucas Tramontano, representante do Diretório Central dos Estudantes - DCE Mário Prata - assinalou que o movimento estudantil, nos dias atuais,  se vê diante de grandes desafios: “é preciso romper a apatia e a despolitização, visando ampliar a democracia na universidade. O acesso ao Ensino Superior público ainda é elitizado e faltam condições adequadas de assistência aos estudantes, como bandejão e alojamento”.

O ex-militante da Ação Popular (AP) Jean Marc Von Der Weid, na época estudante da Faculdade de Química, acredita que eventos como esse fazem parte de um esforço necessário para, permanentemente, lembrar o que significou a ditadura. “Acho que é uma espécie de vacina política que tem que ser tomada de tempos em tempos para que o problema não volte a acontecer. Esse é o efeito educativo principal, você vacinar o povo contra as tendências ditatoriais”, afirmou Jean.

Antônio Ledo, atual diretor da Faculdade de Medicina, afirmou que a lembrança do episódio expõe questões que dizem respeito a universidade de hoje. “Ele favorece a uma reflexão sobre a autonomia universitária. Chama a atenção para o fato de outras unidades também terem sido afetadas. O desafio é como olhar para esse momento e perceber que foi expressivo e nos permitirmos entender o seu significado no presente para construir um futuro mais promissor, mais adequado para a nossa faculdade. Seguir inaugurando idéias compatíveis com esse passado de lutas”, avalia Ledo.

O decano do CCS, Almir Fraga Valladares, testemunha pessoal dos acontecimentos no dia do “Massacre da Praia Vermelha”, recordou a importância do movimento à época. Para ele, a violência contra os estudantes alojados na FNM soou como um brutal recado da ditadura à sociedade, pois reprimia o segmento social que se encontrava mais organizado e que reivindicava direitos essenciais  como a liberdade de expressão e a autonomia universitária.

Sylvia Vargas, vice-reitora da UFRJ, estudante do 4° ano de Medicina à época,  reiterou as afirmações de Almir Fraga e lembrou  que o então diretor da FNM, professor José Leme Lopes, que voltava de viagem à Europa, declarou aos jornais que a autonomia universitária não foi ferida com a invasão das tropas, pois ela há muito não existia.

Para Carlos Nelson Coutinho, cientista político, diretor da Editora da UFRJ, citando Antônio Gramsci, disse que é preciso refletir sobre os acontecimentos usando-se do “pessimismo da inteligência articulado ao otimismo da vontade”. Fazer, enfim, uma análise realista dos fatos nefastos da época,  mas na perspectiva de organizar uma resistência  a fim de superá-los. “Creio que esse foi o legado da luta que envolveu aquela geração de estudantes”, afirmou Carlos Nelson.

Foi nessa perspectiva que o reitor Aloísio Teixeira assinalou  que, ao viver de perto aquele dia, aprendeu uma valiosa lição: a de não realizar análises mecanicistas da realidade, tão em voga nos “manuais” de então. Para ele, e para muitos, ficou claro que “os professores não eram nosso inimigos, não eram patrões. É verdade que havia uma hierarquia avessa à mudança, arraigada a um conservadorismo acadêmico, mas muitos docentes manifestaram-se solidários às lutas dos estudantes. Graças a essa lutas,  podemos hoje construir ambientes mais democráticos”. O reitor, em seguida, fez um alerta: “ainda não dispomos do estatuto da autonomia e isso não é um problema de governo, mas de afirmação do próprio Estado republicano que se vê ameaçado. É preciso deslocar as questões pelas quais lutaram os integrantes da geração de 1966 para a situação atual, olhando o passado para atuar no presente, a fim de que se tenha um desenlace menos trágico para a sociedade brasileira”.

Não podendo ficar por muito tempo na solenidade, Vladimir Palmeira, um dos líderes do movimento estudantil na época, se retirou, mas declarou que o episódio do “Massacre da Praia Vermelha” entrou para a história. “Foi um momento decisivo para nós. Quem ficou no movimento estudantil naquela época, permanece até hoje. Aquela foi uma geração que aprendeu na porrada e mudou sua prática política em função disso”, avalia o militante, que atualmente é candidato ao governo do estado.

Ao encerrar a sessão do Consuni, o reitor convidou os presentes a  assistirem ao descerramento da placa rememorativa do episódio que homenageia os estudantes que resistiram às forcas policiais, na primavera de 1966, um momento também de muita emoção.


Termo de cooperação entre a universidade e instituições de saúde promete melhorias

Kareen Arnhold - Agência de Notícias - Praia Vermelha

Nesta última sexta-feira, dia 22, o reitor da UFRJ, professor Aloísio Teixeira, reuniu-se com representantes do Ministério da Saúde, do Instituto Municipal Philippe Pinel (IMPP) e da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) para assinar um Termo de Cooperação Técnica, na área de saúde pública, visando a formação e pesquisa em Saúde Mental.

A assinatura se deu durante a cerimônia de comemoração dos 40 anos da inauguração do Instituto Municipal Philippe Pinel (IMPP) e da fundação da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), no auditório do IMPP. Estavam presentes no evento, além do reitor da UFRJ, o ministro da Saúde, José Agenor Álvares, o secretário municipal da Saúde, Jacob Kligerman, o presidente da ABP, Josimar França, o diretor do IMPP, Mário Barreira Campos e o Secretário de Atenção à Saúde (Ministério da Saúde), José Gomes Temporão.

Mário Campos abriu a cerimônia explicando que a cooperação, assumida entre Ministério da Saúde, a UFRJ e o IMPP, “visa fomentar as atividades de Ensino e Pesquisa, fundamentais para a adequada formação integrada de profissionais de Saúde Mental”.

Segundo o reitor Aloísio Teixeira, tanto a universidade, o setor de Saúde, quanto a população terão ganhos com o acordo de cooperação técnica: “o trabalho conjunto entre Ministério da Saúde, Secretaria Municipal de Saúde e universidade, no campo da Saúde Mental, pode desenvolver um grande programa que trará benefícios para a população como um todo. Estamos afirmando o direito da sociedade a uma digna atenção à saúde independentemente de diferenças políticas, partidárias, ideológicas”. O reitor terminou sua fala dizendo-se satisfeito com a aproximação entre o Instituto de Psiquiatria da UFRJ e o Instituto Pinel: “Hoje, damos o primeiro passo para a realização desse sonho antigo”.

Jacob Kligerman se ateve à importância do Termo de Cooperação, ressaltando o papel da universidade na formação de profissionais em um novo modelo de tratamento de Saúde Mental: “devemos capilarizar as unidades da rede pública, promover a saúde onde as pessoas moram”. Referindo-se à reforma psiquiátrica, o secretário da Saúde afirmou: “os recursos destinados à assistência do hospital consomem as possibilidades de manutenção de redes capilares. Além disso, a permanência de pacientes em ambiente hospitalar e o grande número de internações dificultam sua inserção no meio familiar e o resgate de seus vínculos sociais. Então, nós oferecemos apoio psicossocial, através dos CAPS (Centro de Atenção Psiquicossocial), para que pacientes institucionalizados retornem à sua família e comunidade”.

O Ministro da Saúde, José Agenor Álvares, encerrou a solenidade declarando que o compromisso firmado entre a UFRJ e a Secretaria Municipal de Saúde “é o primeiro de uma estratégia que garante, nessa e em outras áreas da saúde pública, que gestores de saúde e universidade sejam parceiros permanentes, em beneficio da população”.