• Edição 051
  • 31 de agosto de 2006

Ciência e Vida

Câncer de útero já tem vacina

Taisa Gamboa

Uma vacina contra o câncer do colo do útero foi aprovada, essa semana, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para comercialização no Brasil. O imunizante, aprovado em junho nos Estados Unidos, é eficaz na prevenção de quatro tipos de HPV, o Vírus do Papiloma Humano, cobrindo quase 70% dos casos de infecção que levam à formação de tumores.

De acordo com o infectologista Edimilson Migowski, do Departamento de Pediatria da faculdade de Medicina e Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG) da UFRJ, a vacina recebeu o nome de Gardasil e já está sendo comercializada nos EUA. Por aqui, ela deverá estar no setor de saúde privada até o final do ano, e sua extensão para a rede pública está sendo avaliada. Apesar do valor elevado de cada dose, cerca de U$120 dólares, em geral, a proteção através de vacinas costuma ter uma relação custo-benefício satisfatório.

Além dessa substância, outra já foi produzida. Ela está em fase de testes nos EUA, e deve chegar ao Brasil no ano que vem. Como ambas as vacinas foram analisadas em pessoas que não estavam doentes, não é possível afirmar que tenham ação terapêutica, mas quem já realiza o tratamento atual pode administrá-la sem problemas.

A meta é evitar que as mulheres sejam contaminadas pelo HPV ou garantir um determinado nível de anticorpos no colo do útero capazes de defendê-lo da infecção, caso entre em contato com o vírus. O grau de eficácia da vacina depende do contato que a mulher teve com o HPV, por isso o objetivo é vacinar meninas que não iniciaram a atividade sexual, caso das pré-adolescentes.

- Motivo especial de preocupação para os médicos é o fato de que a contaminação pelo HPV ocorre em mulheres cada vez mais jovens. Pesquisas revelam que de 720 adolescentes sexualmente ativas, 8,4% apresentam infecção em atividade por HPV e uma já tem câncer invasivo. Como o pico de incidência de infecção pelo vírus ocorre geralmente no início da atividade sexual, entre os 15 e 25 anos de idade, o ideal seria que as mulheres fossem vacinadas antes da primeira relação sexual (coitarca) – destaca Migowski.

A vacina deve ser aplicada em três doses e garante entre cinco e dez anos de imunização. E, de acordo com o infectologista da UFRJ, pessoas com sabida hipersensibilidade grave aos seus componentes não devem ser vacinadas. Doentes febris precisam aguardar melhora para vacinar-se. Os efeitos colaterais da Gardasil são os mesmos identificados em outras vacinas, já largamente utilizadas, febre e mialgia (dor nos músculos). Apesar dos bons resultados, a Gardasil previne a ocorrência dos HPV mais importantes, mas não todos. O ideal, portanto, é que se evite a contaminação e se faça exames regulares, como o Papanicolau.

Edimilson Migowski diz que o câncer de colo do útero é resultado de uma alteração maligna das células que o revestem. A doença tem estreita relação com a infecção por tipos oncogênicos (que causam câncer) de HPV, o que corresponde a 99.7% de todos os casos de câncer registrados. As mulheres que o desenvolvem, são, na maioria, jovens e, muitas vezes, não apresentam alterações clínicas, o que demonstra a importância dos exames preventivos periódicos.

Além de infecção persistente por HPV de elevado risco, alguns outros fatores contribuem para o desenvolvimento do câncer do colo uterino, tais como o tabagismo, a ocorrência de muitas gestações e o uso de contraceptivo oral. A idade em que a mulher inicia sua vida sexual também deve considerada, uma vez que quanto mais jovem, maior o risco.

Segundo o infectologista, somente no Brasil, as estimativas são de que ocorram 16.480 casos novos de câncer de colo de útero por ano, e que dez mulheres morram todos os dias em decorrência dessa doença. Seu tratamento é o mesmo que o aplicado em outros tipos de tumor. Quando localizado em um único ponto, pode ser retirado através de cirurgia. Na eventualidade de metástases (disseminação pelo corpo), o prognóstico se torna um pouco mais reservado e, além da cirurgia, pode ser necessário outras medidas, como quimioterapia, por exemplo.

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