• Edição 050
  • 24 de agosto de 2006

Microscópio

Futura esperança para doentes hepáticos

Isabella Bonisolo

A Comissão de Pesquisa em Terapia Celular do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) convida a todos os interessados para o seminário Células Tronco nas Doenças Hepáticas, que acontece essa sexta feira (25 de agosto). A palestra será no auditório Halley Pacheco do HUCFF, das 11h às 12h e apresentará os dados concretos dos quatro anos de pesquisa da Comissão em relação ao uso de células-tronco em doentes com cirrose.

O professor Guilherme Rezende, coordenador da pesquisa, conta que os primeiros dois anos foram dedicados à criação de um modelo animal com cirrose e a injeção de células-tronco no fígado doente, para que depois pudessem transferir o estudo para o corpo humano. “Nós precisávamos de um modelo animal antes de experimentar em humanos. Injetamos uma toxina no abdome de ratos e eles ainda ingeriram uma dieta com cachaça. Após algumas semanas, o animal desenvolveu cirrose e aí entramos com a célula-tronco”, detalha o professor. A conclusão da fase um da pesquisa constatou que os roedores com fibrose, característica da cirrose, melhoravam com o tratamento proposto.

Em 2005, de posse desses dados, o grupo de pesquisa deu entrada a um pedido ao Comitê Nacional de Ética em Pesquisa que autorizasse a experimentação do protocolo em humanos, uma vez que fora bem sucedida nos roedores. Apenas em julho desse ano as barreiras burocráticas foram transpostas e a permissão para o teste em cinco pacientes foi concedida.

Essa nova fase que se inicia objetiva avaliar a segurança do tratamento com o uso das células-tronco e nem tanto a eficácia. De acordo com Rezende, “quando se quer lançar um novo medicamento no mercado ou até um tratamento, primeiro é preciso provar que não faz mal. Após isso é que se busca a dose ideal e a freqüência de administração do remédio”.

O procedimento começa no processo cirúrgico da aspiração de uma amostra da medula óssea do próprio paciente. Com a substância retirada, o Laboratório de Biofísica faz a separação das células aproveitáveis que são marcadas com uma substância radioativa que não causa danos à saúde. O doente recebe essas células-tronco preparadas, através de um cateterismo na artéria hepática. Algumas horas depois, tenta-se averiguar através da cintilografia - uma espécie de radiografia que detecta onde há radiação no corpo – se as células injetadas estão realmente concentradas no fígado. Esse processo já foi feito em dois pacientes que passam bem e serão acompanhados durante um ano.

- Estamos muito no início para falar de cura. Essa fase ainda é a de segurança. A nossa expectativa é que consigamos trazer alguma benefício para o paciente e que ele possa chegar em melhores condições ao transplante. Acredito que possa haver melhora, mas ainda não vejo um futuro que dispense completamente o transplante - esclarece o professor ao ser questionado da possibilidade do fim das filas de transplantes de fígado.

Outra boa notícia é que, talvez, no futuro, esse tratamento seja considerado como preventivo do câncer de fígado. “A maioria dos tumores surgem em fígados cirrótico. Se você melhora a cirrose, você previne o câncer”, explica Rezende. Se o estudo mostrar-se benéfico, há projetos de tentativa de parceria com o Instituto Nacional do câncer para campanhas permanentes.

As dúvidas que rondam os resultados não permitem um diagnóstico final sobre o sucesso do uso das células-tronco em doenças hepáticas. Há alguns relatos de estudos feitos na Inglaterra e no Japão, porém, até hoje, esses países não apresentaram publicamente qualquer dado. Enquanto isso, o grupo brasileiro da UFRJ segue com seus testes com o título de pioneiro nesse estudo. “O próximo passo é testar em um número maior de pacientes, fazendo ajuste de doses e de freqüência da necessidade do tratamento. Aí sim, o olhar será voltado para a eficácia”, conclui o pesquisador.

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