• Edição 049
  • 17 de agosto de 2006

Notícias da Semana

A mulher no foco da política pública

Aula inaugural com a ministra Nilcéia Freire demonstra atenção do Estado à mulher

Mariana Elia

A Maternidade Escola da UFRJ inaugurou o segundo período do curso de especialização Atenção Integral à Saúde Materno-infantil com a conferência da ministra da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, Nilcéia Freire. A platéia, formada basicamente por estudantes mulheres e professores do curso, conheceu o interesse e as implementações do governo relativas ao cuidado com a mulher, além de dados sobre a situação da mesma na sociedade.

Nilcéia, que é médica e ex-reitora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), iniciou a conferência com a proposição de uma discussão sobre mulher, saúde e sociedade. “Proponho a gente falar sobre como a persistência da desigualdade tem repercussões na mudança de padrão de adoecimento e agravos que podem acometer a saúde das mulheres”.

Entre muitos dados que caracterizam o perfil da mulher no Brasil, desde suas diferenças internas, como comparadas ao homem, a ministra destacou que as mulheres formam 51,2% da população total, sendo 46% negras ou pardas e 49,1% na idade reprodutiva (25 aos 49 anos). As diferenças de salários, incluindo a relação com tempo de estudo, demonstraram a grande desigualdade nos aspectos gênero e raça. “Na base da pirâmide social brasileira encontram-se as mulheres negras, que tem a maior desvantagem histórica acumulada”, diz a ministra. O professor José Leonídio Pereira, coordenador do projeto de extensão Papo Cabeça, ressaltou, entretanto, a falta de dados sobre as indígenas, já que elas são a origem de nossa sociedade.

Os movimentos a favor da mulher conseguiram transformar alguns padrões sociais como a inserção desta no espaço público, o domínio de seu corpo - o que para a ministra ainda não foi de fato alcançado - e a conquista da educação. Segundo Nilcéia, a Secretaria é uma ação afirmativa, porque estabelece políticas dirigidas a esse grupo com o objetivo de diminuir as desvantagens históricas.

E nesse sentido foi criado o Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, baseado em conferências junto com a população. Dividido em eixos temáticos, o Plano defende uma série de ações políticas, como o apoio ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) com vistas ao financiamento para abertura de novas creches públicas, e atua em parceria com outros Ministérios.

Os eixos foram elaborados em políticas nacionais, descritas por Nilcéia Freire. A política nacional de direitos sexuais e reprodutivos propõe que todos tenham direito à saúde reprodutiva, aos métodos de reprodução assistida e contraceptivos; a política nacional de atenção oncológica, com foco no câncer de mama e colo de útero, defende um acompanhamento contínuo de cada paciente a fim de evitar desperdício financeiro do Sistema Único de Saúde (SUS) e ineficácia do tratamento; a política de atenção à saúde da mulher negra incentiva a pesquisa e a investigação sobre as particularidades desse grupo, como o maior índice de casos de mioma e obesidade. Segundo a ministra, em todas as áreas houve importantes avanços, mas muito ainda precisa ser feito.

Além disso, foram consagrados também o pacto nacional pela redução da morte materna e neonatal, o programa nacional de DST/Aids e a comissão tripartite. “A palavra pacto é muito bem empregada, pois se não houver esforço combinado de todos os setores envolvidos na saúde materna não vamos conseguir diminuir as dificuldades para um parto seguro”, ressalta a ministra. A comissão tripartite, formada pelo Executivo Federal, o Congresso Nacional e a sociedade civil, trabalhou na revisão da legislação do aborto (permitido quando há risco de vida da mãe e quando a gravidez é decorrente de abuso sexual) com o objetivo de descriminalizar a prática, “sobretudo porque o impacto do aborto clandestino na saúde das mulheres é muito forte”.

Há ainda o eixo de enfrentamento à violência contra as mulheres, no qual se destaca a Central de atendimento à mulher, que recebe três mil ligações por dia pelo telefone 180. A ministra comentou, após a intervenção do professor Marcus Renato de Carvalho, da Maternidade Escola, relativas à deficiência na formação quanto as questões de gênero, desigualdade e violência, que está em andamento o projeto, junto ao Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva (Nesc) da UFRJ e à UERJ, de inclusão de uma disciplina voltada aos direitos humanos das mulheres nos cursos de graduação em saúde.


Posse da nova direção do Instituto de Nutrição

Taisa Gamboa

A professora Elizabeth Accioly tomou posse da direção do sexagenário Instituto de Nutrição Josué de Castro (INJC) da UFRJ. A cerimônia ocorreu na última segunda-feira, dia 14 de agosto, no auditório da biblioteca do bloco L do Centro de Ciências da Saúde (CCS), na Ilha do Fundão.

Os diretores da Faculdade de Medicina, Antônio José Ledo, e do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), Adalberto Vieyra, várias ex-professoras do INJC, os presidentes da FUJB, do Conselho Regional de Nutrição e do sindicato dos nutricionistas do Rio estiveram presentes ao evento. Homenageando a empossada, a vice-reitora Sylvia Vargas, o pró-reitor de graduação, José Meyer, o Decano do CCS Almir Fraga Valladares, e a ex-diretora do Instituto de Nutrição, Andréa Ramalho compuseram a mesa de cerimônia.

O evento foi aberto pela vice-reitora, com a leitura e assinatura do termo de posse. Na ocasião, o decano do CCS demonstrou-se satisfeito com os resultados obtidos durante os dois mandatos da professora Andréa Ramalho e confiante com a futura administração da nova diretora. Ele aproveitou a oportunidade para pedir a colaboração do INJC com a decania do centro.

A ex-diretora, Andréa Ramalho, destacou as conquistas ocorridas ao longo da sua gestão e agradeceu o apoio que recebeu da administração central e de outros institutos do CCS. Certa do caráter e comprometimento da empossada, Andréa desejou êxito à nova direção.

Durante o pronunciamento, a professora Elizabeth Accioly, relembrou suas fases de aluna no próprio Instituto de Nutrição e os momentos de perseguição durante a ditadura militar. Já como professora, ela participou do processo de sucateamento do aparelho público e destacou o papel transformador da universidade na sociedade. A nova diretora também estabeleceu metas para a sua gestão, considerou fundamental a participação do instituto na construção de um novo projeto político e pedagógico para a universidade e homenageou os ex-diretores e Josué de Castro, patrono do INJC.

A vice-reitora encerrou o evento afirmando que o Instituto de Nutrição é uma unidade expressiva dentro da UFRJ. Segundo ela, o caráter público de sua posse é uma forma valiosa de lembrar a todos a dimensão da responsabilidade do mais alto cargo da hierarquia administrativa de uma unidade.

Sylvia Vargas demonstrou-se esperançosa quanto à liderança interna da nova gestão e junto aos outros diretores para que participe desse momento de reflexão e de mudança que a universidade vive. Ela agradeceu a ex-diretora e sua equipe pela colaboração, dedicação e competência, nos últimos anos, e desejou boa sorte, coragem e paciência à Elizabeth Accioly, contando com o seu auxílio num esforço conjunto para tornar a UFRJ cada vez melhor.


PDI NO CCS: há muito o que discutir

Taisa Gamboa

Na semana passada, o reitor Aloísio Teixeira, a vice-reitora Sylvia Vargas e alguns membros da Administração central da Reitoria fizeram incursões em três unidades do Centro de Ciências da Saúde (CCS) para expor e debater as questões do Plano Qüinquenal de Desenvolvimento Institucional (PDI). A Faculdade de Odontologia, o Núcleo de Pesquisas em Produtos Naturais (NPPN) e o Instituto de Ciências Biomédicas tiveram a oportunidade de ouvir as idéias já propostas e puderam sugerir novos temas a serem inseridos no Plano.

O início de cada encontro foi marcado pelas explicações a cerca do conteúdo do documento, que foi distribuído por toda a universidade. Docentes, discentes e funcionários técnico-administrativos presentes a cada reunião souberam das ressalvas do reitor em relação a alguns pontos, resultado da defasagem de um plano que foi desenvolvido há mais de um ano. A questão do campus descontínuo foi reforçada em todas as reuniões. A busca pela superação da fragmentação da universidade parece ser a tônica do PDI, sempre respeitando a independência de unidades tradicionais, como a Medicina, a área da saúde de uma forma geral. Segundo Aloísio Teixeira não se pode anular as identidades conquistadas, mas criar um ambiente no qual elas possam se unir. “É desejável se trabalhar uma desfragmentação acadêmica, junto com a descentralização. A gente está querendo pensar para que a universidade seja útil nos últimos 20 anos. Por isso, encaminhem propostas para serem incorporadas ao PDI”, pede Aloísio.

Odontologia

A visita do reitor e de sua equipe à Faculdade de Odontologia aconteceu no dia 17 de agosto e foi vista por seus membros como um fator positivo e inovador dessa administração. Durante a palestra foi destacado o curto espaço de tempo para que se possa elaborar um documento profundo e conciso das reformulações a serem propostas pela unidade.

Para tentar acabar com a cultura da fragmentação na unversidade foi sugerido a implantação de uma rede única integrada onde todos tenham acesso e se comuniquem entre si. Outra sugestão para se implantar uma nova cultura foi a de se adotar cursos sequenciais, ou seja, uma modalidade de curso superior onde os alunos podem, após concluírem o ensino médio, obter uma qualificação superior, ampliando seus conhecimentos em um dado campo do saber, sem a necessidade de ingressar em um curso de graduação.

O decano do Centro de Ciências da Saúde, professor Almir Valladares, disse que a cultura da fragmentação passa pelo indivíduo e afirmou que a medicina é um grande exemplo de fragmentação. “Dentro de sua estrutura tem dez departamentos e se pensa em criar mais” Almir sugeriu que as bases promovam discussões sobre o PDI dentro das próprias bases e que se apresentem propostas que passem pela continuação do desenvolvimento institucional. O que foi reiterado pelo diretor da Faculdade, professor Edmilson Porongaba.

Aloísio ouviu também sugestões e queixas de alunos que se dizem órfãos da reitoria e pediram mais atenção a Faculdade de Odontologia. O reitor terá ainda um encontro com o corpo discente para ouvir propostas ao PDI.

NPPN

No encontro que ocorreu no dia 7 de agosto, a diretora do NPPN, professora Sônia Costa, pediu à equipe da reitoria uma revisão do plano de segurança da universidade de forma a privilegiar questões como o transporte e manipulação de produtos químicos. Ela lembrou também que a fragmentação da UFRJ tem seu lado positivo e negativo. “Todas as universidades do mundo são assim. Ser fragmentado não é um aspecto negativo”, comentou a diretora. Os funcionários técnico-administrativos opinaram em relação a oferta de assistência médica para os funcionários do CCS. A criação de um ambulatório que pudesse atender a pequenos casos ocorridos no centro também foi sugerida. Outro tema abordado pelos servidores foi a questão da demora da administração em conceder relatórios de insalubridade.

Os professores do NPPN abordaram a questão da fragmentação da universidade sob diferentes pontos de vista. Eles acreditam que podem utilizar o exemplo de universidades como Harvard para montar uma nova estrutura hierárquica e administrativa. Outra questão levantada pelos docentes foi em relação a criação de um ciclo básico geral, onde os alunos da UFRJ entrariam em contato com várias disciplinas e só posteriormente seriam distribuídos nas unidades através do mérito. Esse sistema, tal como o College americano, evitaria as vagas ociosas e favoreceria a integração dos alunos à universidade.

ICB

No dia 11 de agosto, o corpo docente, discente e os funcionários técnico-administrativos do Instituto de Ciências Biomédicas tiveram a oportunidade de expor novas propostas ao Plano de Desenvolvimento Qüinqüenal da universidade.

Durante o encontro, integrandes do ICB mostraram o que vêm fazendo para melhorar a universidade como um todo, estabelecendo uma relação entre as medidas implantadas e as sugeridas pela Reitoria. A criação do laboratório do anatômico e a conquista do edital de células-tronco do CNPq, assim como a participação da unidade em projetos como o Pró-infra são apenas algumas das ações apresentadas.

Os professores acenaram com o compromisso de ampliação das vagas de graduação, contratação de mais professores e funcionários técnico-administrativos qualificados, bem como a melhoria da infra-estrutura como formas de garantir cursos de qualidade. A inovação tecnológica foi apontada como meio para ampliar a produção científica da universidade, talvez até com a criação de um banco de patentes.

Destacou-se também a importância de dar maior ênfase às propostas que não necessitam de muitos recursos e que dependem apenas de uma reorganização, integração e cooperação internas para serem efetuadas. A participação da UFRJ e a sua inserção no espaço acadêmico e científico mundial foi criticada. Segundo os professores, a divulgação da universidade na sociedade mundial e na mídia é muito reduzida se comparada às outras instituições.

Outro aspecto abordado pelos docentes foi a necessidade de cultivar a diversidade da UFRJ de forma institucional, estimulando a mobilidade horizontal, através do modelo college para os graduandos. Para a equipe do ICB, as unidades devem ser abertas para o estabelecimento de vínculos que culminem com a facilitação da relação aluno-professor.


Estudantes do ICB são premiados em congresso

Geralda Alves

Cientistas e estudantes brasileiros e de ouros países participaram do IV International Symposium on Extracellular Matrix, realizado em conjunto com o XIII Congresso da Sociedade Brasileira de Biologia Celular, ocorrido em Búzios, no final de julho. Na ocasião, foram apresentados mais de 800 trabalhos e instituídas nove premiações para alunos de pós-graduação, pós-doutorado e de iniciação. Três destes prêmios, nas categorias Pós-graduação e Iniciação Científica, foram atribuídos a estudantes do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB); o de Pós-doutorado envolve estudantes e pesquisadores do ICB e da Fiocruz.

A pós-graduanda Debora Morueco Portilho (orientada por Cláudia Mermelstein), ganhou o prêmio pelo trabalho Wnt/b-catenin pathway activation and myogenic differentiation are induced by cholesterol depletion (A via de ativação da Wnt/b-catenina e a migração miogênica são induzidas pela remoção do colesterol).

Luciana Garzoni, pós-doutoranda (ex-orientada de Radovan Borojevic), foi agraciada pelo trabalho feito em parceria com a Fiocruz -  Engineering myocardial tissue: 3D co-cultures of cardiomycytes and endothelial cells (Construindo o tecido miocárdico: co-culturas em 3D de cardiomiócitos e células endoteliais).

Na categoria Iniciação Científica o prêmio foi para Karina Ribeiro da Silva (aluna do curso de Biomedicina, orientada por Maria Isabel Doria Rossi), pelo   trabalho Mesenquimal stem cells from adipose tissue of normal and exobese patients show differences in their differentiation potential (Células-tronco mesenquimais de tecido adiposo de pacientes normais e ex-obesos mostram diferenças em seu potencial de diferenciação). Mariana Acquarone de Sá Lopes (aluna do curso de Biologia orientada por Helene Santos Barbosa da Fiocruz e co-orientada por Silvana Allodi do ICB) com Cytoskeleton proteins in tissue cysts of Toxoplasma gondii (Proteínas do citoesqueleto em cistos teciduais do Toxoplasma gondii).

No campo da neurociência a consagrada cientista Suzana Herculano-Houzel contribuiu com (Um aumento progressivo e não autônomo nas células-tronco neurais do estriado no camundongo R6/2 com doença de Huntington), que foi aceito para publicação na conceituada revista Journal of Neuroscience com um comentário do editor Gary Westbrook: “Esta talvez seja a melhor ilustração deste tópico na literatura até o momento".

Com grande alegria - pessoal e acadêmica - parabenizo a todos. Pelos títulos de todos os trabalhos, pode ser percebida uma nítida síntese de originalidade e de abertura de novos horizontes, na permanente luta da ciência cultivada na UFRJ contra a dor e a morte. Isto é, sem dúvida, especialmente importante, comentou Adalberto Vieyra, diretor do ICB.