• Edição 046
  • 27 de julho de 2006

Microscópio

Baixo REMdimento do sono

Isabella Bonisolo

Brasileiros de dez cidades do país terão a oportunidade de participar, até o dia 28 de julho, da II Semana Brasileira do Sono, uma iniciativa da Sociedade Brasileira do Sono, Academia Brasileira de Neurologia e Sociedade Brasileira de Neurofisiologia Clínica. O evento estrutura-se pela segunda vez baseado em pesquisas que constataram que 50% dos brasileiros não dormem bem.

A agitação e correria da vida moderna, que na maioria das vezes não é opcional, talvez sejam as grandes vilãs do sono. Segundo a doutora Soniza Vieira, responsável pelo programa de epilepsia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, distúrbios do sono, como a apnéia, por exemplo, que prejudicam uma noite de descanso, podem ser causados pelo ganho de peso em excesso e vida sedentária. É inevitável associar esses dois fatores as conseqüências de um dia a dia urbano controlado a cada segundo pelo relógio. “Quando você engorda muito ou tem uma vida sedentária, pode-se obstruir a passagem de ar quando você dorme. Aí se tem a apnéia: você tem paradas bruscas de respiração. Essas paradas muito rápidas provocam um despertar imediato. Isso é o microdespertar. Você tem vários à noite e isso faz com que você tenha um sono com uma arquitetura errada” explica a neurologista.

Há ainda outros fatores que dificultam o sono reparador, ou seja, o sono profundo que equilibra o corpo. O uso de substâncias estimulantes, álcool, tranqüilizantes, cafeína ou refrigerantes de cola podem interferir no ritmo que o organismo precisa seguir para entrar no estágio REM do sono. “A utilização de certas substâncias gera um sono superficial, que não atinge um sono chamado rapid eye movement, ou sono REM, que é o sono que você sonha, que dá prazer e que descansa”, esclarece doutora Soniza.

Com um corpo que nunca consegue restaurar-se com freqüência, efeitos considerados de longo prazo, podem estar mais próximos do que se imagina. Além da sonolência diurna, perda de memória, irritabilidade, alterações no humor e baixo rendimento no trabalho, são exemplos de problemas que boa parte dos brasileiros podem enfrentar se não procurarem uma ajuda médica a tempo, caso sintam que não dormem bem. Doutora Soniza diz que existem sintomas perceptíveis, que indicam quando é a hora de procurar um especialista: “Uma das pistas para ver se o adulto está dormindo mal, ou até uma criança, é o ronco. Geralmente o ronco está associado a apnéia.”

Quando o foco volta-se para as crianças, o problema de distúrbios do sono torna-se mais sério. Uma boa noite de sono é fundamental para o crescimento dos pequenos. A neurologista ressalta que “se a criança não tiver um sono regular, adequado, com um número mínimo de horas à noite, isso pode interferir no hormônio do crescimento”.

Para aqueles que perceberam que possuem distúrbios quando dormem, aconselha-se investigar a fundo o padrão de sono que o organismo está seguindo. Isso pode ser feito através de um exame chamado polissonografia, que monitora, através de eletrodos fixados no córtex do couro cabeludo, a respiração e a saturação de oxigênio do paciente durante a noite Assim, é possível diagnosticar se realmente há algum problema e o grau de severidade que ele se encontra.

O Hospital Universitário Clementino Fraga Filho futuramente terá o seu laboratório de sono. De acordo com a doutora Soniza Vieira, o projeto para a implantação desse novo serviço para a comunidade já foi escrito, encaminhado e aprovado pela direção do hospital que espera somente meios para viabilizar o laboratório.

Anteriores