• Edição 046
  • 27 de julho de 2006

Argumento

Animais aquáticos na linha de produção

Mariana Elia

A aqüicultura, ou também conhecida como aquacultura, define-se por qualquer atividade de cultivo de animais aquáticos ou semi-aquáticos com a finalidade de consumo. Segundo o documento publicado pela FAO (Food and agriculture organization) em 2003, a partir de 1970, a aqüicultura mundial vem apresentando índices médios anuais de crescimento de 9,2 %, comparados com apenas 1,4 % na pesca extrativa e 2,8 na produção de animais terrestres. A aqüicultura mundial contribuiu com mais de 49 milhões de toneladas de peixes, camarões, mexilhões, rãs e tantos outros seres aquáticos próprios para cultivo. O Brasil tem grande potencial devido aos seus 8.400 km de costa marítima e 5.500mil hectares de reservatórios de águas doces. Ainda assim, as técnicas utilizadas no país carecem de avanços tecnológicos e aumento da mão-de-obra especializada.

O professor Sérgio Annibal, do Departamento de Biologia Marinha da Faculdade de Biologia da UFRJ, ressalta que o Brasil tem uma área de 374 km de zona econômica exclusiva e, por isso, as atividades pesqueira e de cultivo artificial necessitam de aprimoramento tecnológico imediato. São, além disso, mais baratas e ecoeficientes que o cultivo de bovinos ou suínos. Junto com essa preocupação, vem também a importância de um desenvolvimento sustentável da atividade, o que significa um ambiente explorado de forma racional e planejada. A sustentabilidade tem como princípio a prevenção de possíveis danos e abarca todas as instâncias da produção, desde simplesmente ambiental até político-econômico.

Como a pesca extrativa não garante a preservação dos seres visados, tendo como o único controle uma cota para cada espécie, e a quantidade extraída é maior que a velocidade de reposição da natureza, a aqüicultura é uma opção ao aumento de peixe na mesa dos brasileiros sem o perigo da extinção ou desequilíbrio ambiental. No Brasil, ainda se pratica muito a aquacultura em tanques e viveiros, mas o professor Sérgio avalia uma nova tecnologia que permitirá a integração do cativeiro com os recursos marinhos. O professor explica que o cativeiro artificial ocupa um espaço terrestre desnecessário e implica gasto maior com alimentos e estrutura de manutenção.

Já utilizadas no Mar Mediterrâneo pela Itália, as plataformas de bioprodução, espécies de gaiolas automatizadas, são capazes de abrigar um grande número de seres, fecundados em laboratórios, e utilizar o meio natural como local de crescimento desses seres.“A maricultura offshore de alto rendimento gera uma cadeia produtiva diversificada tal qual a indústria petrolífera, tendo a vantagem de estar baseada em recursos biológicos recicláveis”, explica Sérgio Annibal. Os animais são colocados na gaiola e são alimentados por um sistema automático. Os pescadores não perderiam sua função, porque ainda seriam necessárias idas até as plataformas para verificação durante o período de engorda e, quando os animais estão prontos para comercialização, são levados ao continente. O professor diz que uma de suas funções é trazer essa tecnologia para o Brasil com a parceria da UFRJ, que adaptaria às condições brasileiras.

A aqüicultura une a biologia, com o conhecimento de todo o ciclo de vida dos animais aquáticos, suas necessidades ambientais e a genética para seleção, além do aspecto nutricional, à engenharia, que traz as técnicas das linhas de produção e construção naval. “É a atividade econômica que trabalha a favor da manutenção da qualidade ambiental”, sintetiza o professor Sérgio.

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