• Edição 044
  • 13 de julho de 2006

Por uma boa causa

A cura pelas plantas

Professora da UFRJ alerta sobre os principais problemas referentes ao uso de fitoterápicos

Taisa Gamboa

A fitoterapia é uma prática medicinal alternativa à alopatia e tem se tornado cada vez mais popular entre os povos de todo o mundo. Há inúmeros medicamentos no mercado que utilizam em seus rótulos o termo "produto natural" para os mais diferentes fins. Medicamentos à base de ginseng, carqueja, guaraná, e ginko biloba são apenas alguns exemplos. O uso de plantas como remédio é uma prática antiga, e, embora a distorcida crença popular diga que não causa mal a saúde, é preciso ter cautela.

O termo fitoterapia é relativo a utilização de plantas para o tratamento de doenças. Todo produto farmacêutico, seja extrato, tintura, pomada, ou cápsula, que utiliza como matéria-prima qualquer parte de uma planta com conhecido efeito farmacológico, pode ser considerado um fitoterápico.

Diferentemente do medicamento alopático normal, os fitoterápicos não possuem em sua formulação uma substância pura responsável pela sua atividade biológica, não há um princípio ativo puro. De acordo com Maria Auxiliadora Kaplan, professora de Química de Produtos Naturais do Núcleo de Pesquisas em Produtos Naturais (NPPN) da UFRJ, os medicamentos feitos a base de plantas contém uma série de substâncias químicas que são submetidas a variações bióticas (referentes ao próprio ciclo da planta) e abióticas capazes de alterar a formulação de cada vegetal, e que podem trazer riscos a saúde de quem utiliza o fitoterápico.

- É por isso que o teor da substância ativa, a que tem aplicações medicinais, deve ser previamente estudado, testado e estipulado. Doses menores do que o indicado podem apresentar caráter inócuo, assim como o excesso pode ser tóxico, a ponto de levar a morte da pessoa. Para evitar problemas como esse, o medicamento fitoterápico deve ser padronizado, legalizado e controlado pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). – complementa a pesquisadora.

Segundo Maria Auxiliadora, a diversidade biológica nacional é enorme e mais de 90% das plantas brasileiras não são conhecidas do ponto de vista químico, o que amplia o risco à saúde. É dever dos pesquisadores explorar os fitoterápicos de forma criteriosa e científica, afinal de contas, eles podem ser a salvação da saúde pública nacional, pois consomem menos tempo e dinheiro em sua fabricação, se comparados aos fármacos alopáticos tradicionais.

Essas vantagens induzem alguns médicos a prescreverem os fitoterápicos sem o conhecimento necessário. O ideal, segundo a pesquisadora, seria que as universidades formassem fitoterapêutas com conhecimentos de botânica e química de produtos naturais. Só assim, esses profissionais estariam capacitados a indicar um medicamento fabricado com plantas para seus pacientes.  “Isso é muito importante, pois tomar um medicamento derivado de planta sem o conhecimento específico significa viver perigosamente, pois a mesma substância que cura, também pode matar”, destacou a professora do NPPN.