• Edição 043
  • 6 de julho de 2006

Microscópio

25 anos de apoio a amamentação

Pesquisa revela que amamentar emagrece

Mariana Granja

O leite materno é o alimento mais recomendado para os bebês. Isso muitos sabem. Ele é rico em nutrientes, contém agentes imunológicos que protegem a criança de doenças, além de ser através da amamentação que a mãe estabelece o seu primeiro vínculo emocional com o bebê. Mas o que poucos têm conhecimento é a existência de uma organização internacional para apoiar e difundir essa idéia, possuindo um código internacional de proteção à amamentação, que completa esse ano 25 anos.

A IBFAN (International Baby Food Action Network) é a organização em questão. Ela é uma rede internacional em defesa do direito de amamentar, composta por pessoas e grupos que trabalham ao redor do mundo para reduzir a morbidade e mortalidade Infanto-juvenil. Seu objetivo é melhorar a saúde de bebês, crianças, mães e famílias através da proteção, promoção e apoio do aleitamento materno e de uma alimentação infantil adequada. Com 25 anos de existência, o código internacional da IBFAN foi contemplado com uma edição comemorativa de sua publicação mensal, composto por 21 pesquisas de todo o mundo que tratam sobre os benefícios da amamentação.

Uma pesquisa feita pelo doutor Gilberto Kac, professor do Departamento de Nutrição Social e Aplicada do Instituto de Nutrição Josué de Castro (INJC), foi selecionada para esse resumo, tendo como tema os benefícios da amamentação para as mães, reduzindo a obesidade materna. O objetivo da pesquisa era estudar a retenção de peso pós-parto, e ver quais as causas dessa retenção, principal fator para a obesidade materna. “A pesquisa foi feita com 479 mulheres entre 18 e 45 anos e vários fatores foram levados em conta além da amamentação, como por exemplo, como por exemplo, a alimentação da mãe no pós-parto, atividade física, saúde mental e o estilo de vida. O que me motivou foi descobrir se a amamentação tinha ou não efeito na retenção de peso, já que existe uma discussão sobre acúmulo de gordura na gravidez. O que se questiona é que a gordura serve para a produção de leite, e conseqüentemente quando a mãe não amamenta essa gordura não é utilizada”, explica o especialista.

A pesquisa foi realizada em quatro etapas, abordando mães 15 dias após o parto, dois, seis, e nove meses depois. Primeiramente eram respondidos questionários por mães, selecionadas na área de pré-natal de um posto de saúde, no local onde se aplicava a vacina BCG e na maternidade da Praça XV. Após esse questionário eram feitas uma serie de medições, como peso, altura e gordura corporal, e a cada retorno da mãe as medidas eram comparadas. “Eu não trabalhei com grupos, mas com comparações. A amamentação pode ser dividida em três grupos: exclusiva, que é apenas leite materno, predominante, que contém água e chá, e mista, que inclui outros alimentos. Observei que mulheres que amamentavam 180 dias perdiam mais peso que as que o faziam por 30 dias, fiz uma comparação e conclui que a mulher perde quase meio quilo por mês em que amamenta”, alega.

- Nos resultados, você não tem a dimensão específica de quem está amamentando, quem perdeu peso, e tudo é visto em um banco de dados. Mas o que é importante e o que fazemos para a prática coletiva da epidemiologia e da nutrição são as recomendações feitas na perspectiva populacional ou coletiva. Meu objetivo não era identificar se “a”, “b” ou “c” tinha uma redução, mas sim na média como isso ocorria. – explica o professor Gilberto.

A importância da pesquisa, segundo ele, é que a obesidade é um problema sério hoje, e a gravidez é um momento biológico de maior risco para a mãe. “Mesmo com vários trabalhos não identificando a amamentação como um fator protetor para a obesidade materna, sabemos que alguns estudos eram falhos. É diferente medir quantos dias a mãe amamentou e qual foi o tipo de amamentação, do que perguntar apenas se a mãe amamentou ou não. Então a forma como a medição é feita permite identificar o efeito ou não. Claro que existem outras causas para a obesidade materna, mas ao menos foi provado que a amamentação tem um resultado positivo. Então, isso abre as possibilidades de algo que se possa fazer e que é gratuito, saudável para a mãe e para o bebê. Esse resultado apenas corrobora a importância da amamentação em mais um segmento, nesse caso a obesidade pós-parto”, finaliza Kac.