• Edição 043
  • 6 de julho de 2006

Por uma boa causa

Homeopatia: a cura pelo semelhante

Taisa Gamboa

Medicina alternativa é um termo que tem sido usado para descrever práticas médicas diversas da alopatia ou medicina ocidental. Mas a validade da expressão vem sendo questionada. Se a técnica utilizada tem evidências científicas, como a revisão dos experimentos, o consenso médico e as impressões clínicas, é, portanto, Medicina. Mas se for desprovida dessas evidências, não pode ser chamada como tal.

Embora as críticas existam, a medicina alternativa vem ganhando espaço não só como complemento da medicina ocidental, mas também como tratamento para diversos males. A fim de esclarecer algumas questões referentes ao tema, o Olhar Vital selecionou os mais conhecidos tipos de medicina alternativa para debate. O primeiro tema da série é homeopatia, um termo criado por Christian Friedrich Samuel Hahnemann, a partir de seus conhecimentos hipocráticos (medicina grega aC), sobre a medicina árabe e islâmica dos séculos X e XI, para designar um tratamento médico cujo princípio está baseado na cura pelos semelhantes.

De acordo com Sheila Garcia, professora de farmacotécnica homeopática da Faculdade de Farmácia da UFRJ, esse sistema de tratamento criado por Hahnemann, em 1796, na Alemanha, foi amplamente divulgado após meados do século passado. Profundamente frustrado com a prática médica que exercia, repleta de sangrias, eméticos e purgantes que causavam danos desastrosos ao invés de ajudar os pacientes, Hahnemann decidiu abandonar a medicina, em 1789. Foi traduzindo livros (sua nova atividade) que ele entrou em contato com as obras científicas de Hipócrates, Paracelso e outros mestres que já haviam espitulado alguns pricnípios do que viria a ser a homeopatia.

Depois de Hahnemann, esse tipo de tratamento expandiu-se por boa parte do mundo, mas não de forma linear. Enquanto na Índia a homeopatia faz parte das políticas oficiais de saúde, na Argentina está banida das políticas públicas, chegando a ser praticamente proibida em algumas províncias. No Brasil, o método terapêutico da Homeopatia é considerado especialidade médica desde 1980, encontrando um número cada vez maior de adeptos tanto na população, quanto entre profissionais da área da saúde que buscam, através de seu estudo, um aprimoramento profissional.

- Seguindo a filosofia de Hahnemamn, o tratamento tem uma visão integrada do ser humano, vendo-o como um todo onde corpo e psiqué são indissociáveis. A complexidade é tal que se deve observar o paciente como um todo e o contexto onde ele vive, ao invés de privilegiar a análise da doença. A idéia é que se consiga auxiliar as funções naturais próprias do organismo da pessoa, com o tratamento mais adequado. Através de experimentos, ele comprovou o que Hipócrates havia descoberto séculos antes: o mesmo agente que causa uma moléstia é capaz de curá-la. Assim, um medicamento que provoca, em uma pessoa sadia, febre, por exemplo, poderá ser usado contra esse mal em um doente que a apresentar – complementa a professora Sheila Garcia.

Segundo ela, a preparação homeopática dos medicamentos segue a técnica da dinamização, que consiste em diluições infinitesimais, seguidas de sucussões rítmicas, despertando as propriedades latentes da substância através da agitação do medicamento. É necessário prescrever a menor dose possível, pois o poder do medicamento homeopaticamente preparado é grande e há pessoas sensíveis a ele. Além disso, usa-se um medicamento por vez, levando-se em conta a totalidade sintomática do paciente. Só assim é possível ver seus efeitos, a resposta terapêutica e avaliar sua eficiência ou não. Após a primeira prescrição é que se pode fazer a leitura prognóstica, ver se é necessário repetir ou alterar a dose, modificar o medicamento ou aguardar a evolução.

Embora algumas susbtâncias só possam ser administradas na forma líquida, ou só na forma sólida, a maneira como o paciente vai receber o medicamento dependerá da avaliação do médico. Para ser tomado em gotas, o remédio é preparado em solução hidroalcoólica, ou, quando seu consumo for imediato, em água destilada. A forma sólida do medicamento pode ser administrada em glóbulos, tabletes, comprimidos e pós, o que muda é a via de fabricação (sacarose ou lactose), a quantidade indicada para cada dose e o tipo de administração indicado pelo médico.

Para a professora da Faculdade de Farmácia, a duração do tratamento homeopático não será necessariamente mais longo do que o alopáticos. Tudo está relacionado à anamnese e às conclusões do homeopata. Ao contrário do que muitos críticos propagam, esse tipo de tratamento não depende da concientização do paicente. A confinaça que o paciente determina no médico, para lhe contar todas os possíveis fatores que podem estar causando a sua moléstia, é a responsável pelo sucesso do tratamento.

- Assim como os medicamentos da medicina alopática, com exceção das doenças crônicas como AIDS e Câncer, qualquer mal pode ser tratado com homeopatia. Efeitos colaterais e alergias são considerados agravações do tratamento e um sinal de que a escolha do medicamento foi correta, devendo sofrer apenas alterações a nível de dosagem e posologia. Apesar de utilizar o placebo em seus estudos, fato que também é verificado na alopatia, a homeopatia não funciona com esta técnica, o que pode ser evidenciado pelo tratamento empregado em animais – concluiu Sheila Garcia.