• Edição 041
  • 22 de junho de 2006

Faces e Interfaces

A cultura da fragmentação

Taisa Gamboa

A fragmentação da UFRJ é um fato. Decorrente da sua própria origem ou não, este problema afeta o dia-a-dia das aulas e pesquisas. Sem a integração adequada, as unidades não trocam conhecimentos, o que atrapalha o bom desempenho de projetos importantes dentro da Universidade. Essa questão vem sendo bastante debatida nas reuniões de unidades para discussão do Plano Qüinqüenal de Desenvolvimento Institucional (PDI), com objetivo de ultrapassar essa barreira para o desenvolvimento da UFRJ.

Para discutir esta questão, analisando as origens e soluções possíveis contra a cultura da fragmentação, o Olhar Vital convidou o recém-eleito decano do CCS, professor Almir Fraga Valladares, e o também recém-eleito diretor da Faculdade de Medicina, Antônio Jose Ledo da Cunha.

 

Almir Fraga Valladares

Decano do Centro de Ciências da Saúde

“Minha opinião é de que o PDI é um avanço, porque ele inicia o processo de desenvolvimento, através da discussão. Com certeza, mesmo que tudo não possa ser alcançado, nem seja consensual, alguma coisa certamente vai ser aprovada, vai ser desenvolvida, vai ser implantada. Mas também existem muitas questões no PDI que são culturalmente arraigadas na história da Universidade e de suas unidades.

Eu acho que eventuais mudanças vão ter que ser muito progressivas. A própria ruptura da fragmentação, que passa pela integração das várias unidades, de várias áreas, tem de ser feita progressivamente, mediante a conscientização de cada pessoa e do conjunto das pessoas. Que forma a universidade.

Isso é importante e deve ser feito na prática, e não só no plano das idéias, mas ao mesmo tempo sem romper com a tradição histórica das unidades. Até porque algumas delas nasceram antes da UFRJ. A Faculdade de Medicina, por exemplo, tem quase 200 anos, a Politécnica tem outros tantos. Direito, Filosofia, Belas Artes são outras instituições históricas, unidades históricas que não devam ser desestruturadas enquanto unidades, embora devam se integrar institucionalmente em programas, projetos.

Você pode avançar modernizando a integração desfazendo a prática da fragmentação, mas sem desconstruir a História, que é muito rica. Praticamente a história do ensino superior no Brasil. A Faculdade de Medicina é uma das mais antigas do país. A nossa Universidade, a UFRJ, é praticamente a mais antiga. Embora seja muito mais nova que algumas unidades.”

Antônio José Ledo da Cunha

Diretor da Faculdade de Medicina

“Com a formação da UFRJ, constituída por três Faculdades existentes à época, a saber, Medicina, Engenharia e Direito, a Universidade incorporou traços que permanecem até hoje. Traços como a fragmentação, aliados ao patrimonialismo e ao elitismo presente em todos os campi. Desde essa época, ocorreram movimentos que ora favoreceram ora se opuseram a essas características, mas de maneira geral elas permanecem.

Não há como diagnosticar precisamente o grau de resistência existente. Tal diagnóstico está se tornando mais claro a partir das discussões provocadas pelo PDI, com a ida da Reitoria às Unidades e Centros. É preciso reconhecer que a questão da fragmentação tem sido trazida como pauta de discussão pela atual Reitoria. Acredito que parte de nossa comunidade acadêmica não tenha refletido com mais profundidade sobre essa questão. Então, levar a discussão do PDI às unidades e centros é uma estratégia fundamental para sensibilizar e vencer possíveis barreiras.

É importante, entretanto, entender os conceitos. A dispersão geográfica e física não necessariamente indica fragmentação, embora possa contribuir para isso. Assim, promover atividades conjuntas entre as Unidades e Centros, exercendo de fato a interação e transdisciplinaridade, pode ajudar.

Porem é preciso reconhecer e resguardar as diferenças. A diversidade interna deve ser preservada e cultivada. Ela corresponde às diferenças dos objetos de trabalho, cada qual tendo uma lógica própria de ensino e pesquisa, além de visões de mundo distintas. A diversidade não pode e não deve ser oposição a elaboração de um projeto comum para nossa Universidade. Ao contrario, deve ser uma de suas molas propulsoras.

Esse tipo de discussão é fundamental para qualquer Universidade. Levando-se em conta a historia da UFRJ, o nosso tamanho e a nossa importância e situação de destaque no cenário nacional, essa discussão torna-se imprescindível. O fortalecimento e o futuro de nossa Universidade dependem dessa discussão.”