• Edição 041
  • 22 de junho de 2006

Argumento

Anorexia x Antidepressivos

Taisa Gamboa

Sem apetite. Este é o significado literal de anorexia. A nervosa (AN) corresponde a uma disfunção comportamental com desvio dos hábitos alimentares, e que se expressa por rejeição exagerada em manter o peso corporal acima de valores mínimos aceitos para determinada idade ou altura.

Sua condição é extremamente perigosa, pois as pessoas acometidas se privam intencionalmente de alimentos e podem literalmente morrer numa tentativa doentia de manter-se como o que consideram “magras”. A anorexia nervosa costuma ter inicio na adolescência. Epidemiologicamente, cerca de 95% são mulheres e 5% homens. Desse total, 95% são homosexuais.

Péricles Maranhão Filho, professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina e médico do Serviço de Neurologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), observa que o diagnóstico é realizado através de observação e análise comportamental do paciente. Segundo ele, os critérios para se determinar a existência da doença são a recusa em manter o peso corporal normal ou a perda de peso levando a uma redução maior do que 85% do peso corporal normal; o medo intenso de engordar; a percepção distorcida a respeito do próprio corpo e peso; e a amenorréia (ausência de três ou mais ciclos menstruais consecutivos) numa mulher que possua ciclos normais.

Existem dois tipos de AN, uma restritiva alimentar e outra onde há ingestão de grande quantidade de alimentos com eliminação imediata (e provocada) dos mesmos (bulimarexia). Em ambos os casos os doentes possuem idéia fixa em relação aos alimentos, mas não se permitem comer normalmente em decorrência do medo intenso de ganhar peso. As complicações físicas nos anoréxicos incluem queda dos cabelos, mudança da cor da pele, que se torna escura ou amarela, insônia, acentuada perda da consistência óssea, vertigens, dores abdominais, constipação intestinal, problemas cardíacos e morte.

Segundo um estudo americano publicado na edição de junho do Jornal da Associação Médica Americana, os antidepressivos podem ser inócuos no tratamento da anorexia nervosa. Para o pesquisador Timothy Walsh, as descobertas atuais, juntamente com as de estudos publicados anteriormente, indicam que a prática comum de prescrever medicamentos antidepressivos não traz benefícios para a maioria dos pacientes com anorexia nervosa.

De acordo com Péricles Maranhão, os medicamentos anti-depressivos não são a única possibilidade terapêutica mas devem ser considerados após reaquisição de parte do peso perdido, quando os efeitos psicológicos da má nutrição estiverem resolvidos, pois ajudam a manter o ganho ponderal. Adicionalmente, os antidepressivos inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS) são úteis reduzindo a compulsividade nos pacientes com restrição alimentar e diminuindo a impulsividade nos casos de ingestão de grandes volumes com provocação da eliminação dos mesmos. 

É importante frisar que se considera a origem da anorexia nervosa como sendo resultante da combinação de influências genéticas, neuroendócrinas, fisiológicas e psico-sociológicas. Seu tratamento compreende três fases principais: a restauração do peso perdido; o tratamento das alterações psicológicas como a imagem corporal distorcida, baixa estima e conflitos inter-pessoais; e a manutenção da remissão por período de tempo prolongado.

Apesar do ganho ponderado ocorrer rapidamente uma vez iniciado o tratamento, a recuperação completa pode levar alguns anos. Com tratamento, cerca 45% dos pacientes apresentam excelente resultado, 30% melhoram consideravelmente, 20% continuam seriamente comprometidos pela doença e de 2 a 10% dos acometidos morrem em decorrência da desnutrição ou por suicídio.

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