• Edição 040
  • 14 de junho de 2006

Argumento

A eficácia dos cremes dentais

Mariana Granja

As pastas de dentes, ou dentifrícios, são muito antigas. Encontramos referências sobre elas ainda no século IV a.C, através dos Egípcios, Chineses, Gregos e Romanos que, misturando sal, pimenta, folhas de menta e flores de íris, criaram seu próprio higienizador de dentes. Com o passar dos séculos as fórmulas foram se modificando e ingredientes saborosos como frutas e mel juntaram-se a cabeças de lebre, fígado de lagarto, carvão pulverizado e até mesmo urina. Muitas dessas fórmulas tinham caráter corrosivo e abrasivo, atacando o esmalte dos dentes. Várias experiências foram realizadas para que se chegasse aos cremes dentais atuais.

De acordo com a professora Sonia Groisman, chefe do Departamento de Odontologia Social e Preventiva da Faculdade de Odontologia da UFRJ, as pastas de dente são terapêuticas, e não cosméticas, e por isso devem ser tratadas como medicamento. “Todos os dentifrícios, através de uma portaria expedida pelo Ministério da Saúde, passaram a carregar flúor em sua fórmula, prevenindo a cárie”, explica. Transmitida através da bactéria Streptococus do grupo Mutans, a doença tem mais chance de ocorrer em algumas pessoas do que em outras, devido ao fator genético. “A propensão à cárie é transmitida de mãe para filho. Entre 19 a 36 meses, numa fase conhecida como janela da infectividade, a criança desenvolve essa propensão. Isso ocorre porque ela não reconhece a bactéria como corpo estranho, já que a mãe a possui. A solução para esse caso é ir ao dentista regularmente para fazer um controle bacteriano”, explica Sonia Groisman.

A cárie se inicia através da placa bacteriana, que tem origem com a falta (ou precária) higiene bucal (uma invisível e fina película que adere aos dentes). Quando a sacarose, também conhecida como açúcar de mesa e composta por uma molécula de frutose e uma de glicose, entra em contato com a dentição, retira a proteção existente contra o ataque dessas bactérias existentes na placa, produzindo desmineralização e permitindo o início da cárie. “O flúor não vai agir na destruição da placa, mas previne a formação de nova placa, pois age na remineralização do dente. O produto deve ser utilizado em pequena quantidade, mas com grande freqüência, sempre após as refeições”, esclarece a professora. O flúor está presente não apenas nas pastas de dente, mas também no sangue, se fazendo presente através da saliva. Por isso não é recomendável comer doces à noite, já que, não sendo ativada durante o sono, a saliva diminui a proteção dentária.

“As pastas de dente são diferentes para crianças e adultos. Os bebês de até um ano de idade não devem ingerir flúor, e por isso não podem utilizar dentifrícios. As pastas para crianças até seis anos tem pouca quantidade do composto, pois, se ingerido em alta quantidade, pode causar doenças como fluorose ou intoxicação crônica, fazendo aparecer pequenos pontos brancos nas pontas dos dentes recém-formados, tornando-os porosos, podendo levar até a perda do dente” adverte Sônia.

Dentifrícios especiais, que prometem clareamento dos dentes, não têm a confirmação de eficácia pela professora: “vou me abster de falar sobre isso, pois não há comprovação de sua eficácia, pelo menos aqui na universidade”. Já os produtos voltados para dentes sensíveis merecem cuidados, pois, de acordo com a especialista, podem ser usados quando a área está inflamada, como se fosse um antiinflamatório, mas após a melhora o dentifrício deve ser trocado.

O método de higienização em conjunto com a escova de dente, é essencial para o bom tratamento da dentição. A escovação tem como objetivo remover a placa bacteriana, prevenir a formação do tártaro, além de estimular a irrigação sangüínea e a massagem gengival. “Nada substitui a escovação mecânica. Ela deve ser feita vagarosamente, com movimentos curtos atingindo poucos dentes de cada vez. A arcada não é lisa, o que faz com que alguns dentes não sejam limpos se a escovação for feita com movimentos rápidos”, explica a professora. Além disso, um bom método é utilizar fio dental, fazer uso de enxaguante bucal, e realizar visitas periódicas ao dentista, são cuidados importantes para manter uma boa saúde bucal.

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