• Edição 040
  • 14 de junho de 2006

Ciência e Vida

O vírus silencioso

Mariana Granja

Poucos sabem, mas o HPV, ou Vírus do Papiloma Humano, está presente em uma enorme parcela da sociedade, principalmente nas mulheres, e atua muitas vezes de forma discreta e silenciosa, o que dificulta o diagnóstico. O vírus, porém, já poderá ser evitado dentro de poucos meses, graças à produção de uma vacina, direcionada ao sexo feminino, que protegerá as próximas gerações das conseqüências que o HPV pode trazer.

Segundo Edimilson Migowski, professor de Infectologia do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG), existem cerca de 150 tipos de HPV, que são definidos como de alto ou baixo nível para originar câncer. “As verrugas genitais na vulva, no colo do útero, na vagina, na uretra e no ânus são as manifestações mais clássicas, porém, consideradas como problemas menores tendo em vista serem causadas por HPV de baixo risco. Infecção pelo vírus de alto risco, principalmente os tipos 16 e 18, pode evoluir para um quadro bem mais grave, que é a maior preocupação dos especialistas: o câncer de colo de útero”, explica Migowski.

Devido aos grandes riscos que o HPV traz, está sendo testada a vacina Gardasil. Quadrivalente, que protege contra os quatro tipos mais comuns da doença, 6, 11, 16 e 18. Ela é feita com a destituição do DNA do HPV, não oferecendo nenhum risco à saúde humana e foi aprovada para meninas e mulheres de 9 a 26 anos de idade. As mulheres que receberão a vacina não deverão ser sexualmente ativas, já que entre as sexualmente ativas, 25% já possuem o vírus, mesmo que sem apresentar sintomas. A previsão é de que de dois a quatro anos, já poderá haver redução de cerca de 40% do câncer de colo de útero e de 70% em verrugas genitais.

Nos estudos feitos para comprovar a eficácia da vacina, foi constatado que ela impediu 100% de cânceres de colo de útero relacionados com HPV tipos 16 e 18 em mulheres não anteriormente expostas aos respectivos tipos de vírus e 99% das verrugas genitais provenientes do HPV tipo 6 e 11. Esses estudos foram realizados em mulheres que receberam todas as três vacinações dentro de um ano após a matrícula, que não apresentavam desvios significativos do protocolo do estudo e não haviam sido anteriormente tratadas em relação aos respectivos tipos de HPV antes da dose um e durante um mês após a dose três.

A vacina foi bem tolerada e apenas 0,1% das participantes saíram do estudo devido a eventos adversos. Algumas das reclamações, provenientes de menos de 1% das participantes foram dor, inchaço, eritema e febre. Mesmo com tais problemas, dia 1º de junho a vacina foi aprovada no México e pedidos de aprovação referentes à ela estão sendo estudados por órgãos reguladores dos cinco continentes para que chegue logo à todas as partes do mundo. A previsão é de que chegue ao Brasil ainda em 2006 e cada dose deve custar por volta de U$120.

Uma das conseqüências do HPV, o câncer de colo de útero, acomete anualmente cerca de meio milhão de mulheres em todo o mundo, 80% das quais em países menos desenvolvidos. No Brasil, as estimativas são de que ocorram por ano 16.480 casos novos e que 10 mulheres morram todos os dias em decorrência dessa doença. Ele é a segunda ocorrência de câncer mais comum entre mulheres, só perdendo, em número de vítimas, para o câncer de mama. “Um motivo especial de preocupação para os médicos é o fato de que a contaminação pelo HPV ocorre em mulheres cada vez mais jovens, no início da atividade sexual”, afirma Edmilson Migowski. Porém, cerca de 80% das infecções pelo HPV são transitórias, assintomáticas e se resolvem espontaneamente.

O contágio por HPV é feito sexualmente, mas apenas o contato com a região genital pode propagar o vírus. Assim, o contato oral-genital, genital-genital, ou mesmo manual-genital pode transmití-lo, ao contrário de muitas outras doenças sexualmente transmissíveis, que necessitam de uma considerável quantidade de secreção contaminada para haver sua propagação. “Embora como sintomas do HPV possa ocorrer coceira, corrimento, sangramento anormal, principalmente fora da menstruação, e dor durante a relação sexual, ele pode ficar meses sem dar qualquer sinal no organismo, e por isso é essencial ir ao ginecologista e fazer exames preventivos (Papanicolau a cada semestre e Colposcopia, uma vez por ano). Além disso, usar preservativos é o principal meio de evitar o HPV embora não ofereça 100% de garantia, já que o contágio pode se dar pelo simples contato com a região genital”, explica o professor, advertindo que, “a forma mais eficaz, porém não exeqüível, é a abstinência sexual”.

“O tratamento para os portadores do HPV é individualizado, dependendo do grau, extensão, número, localização e aspecto das lesões”, explica o médico. Pode ser feita uma Criocirurgia (tratamento feito com um instrumento que congela e destrói o tecido anormal), utilização de Laser, CAF (instrumento elétrico remove e cauteriza a lesão), ATA (ácido aplicado diretamente nas lesões), e medicamentos, que melhoram o sistema de defesa do organismo.