• Edição 039
  • 8 de junho de 2006

Argumento

PDI discute o Vestibular

Mariana Elia

imagem ponto de vista

O Projeto de Desenvolvimento Institucional (PDI) tem como objetivo planejar o funcionamento da universidade para os próximos cinco anos. Através do reconhecimento e da discussão sobre as principais questões vividas no cotidiano da Instituição pretende-se elaborar um plano de desenvolvimento e reestruturação da UFRJ.

Um dos pontos destacados no Projeto refere-se ao mecanismo de ingresso na universidade. O texto revela que o corpo discente é formado majoritariamente por alunos das classes sociais altas e o motivo do elitismo é a forma de seleção, conhecida como Vestibular. Dessa maneira, se faz necessário “democratizar o acesso, eliminando o Vestibular como principal forma de ingresso na Universidade, substituindo-o por mecanismos de avaliação continuada dos estudantes de nível básico”, de acordo com o projeto.

Ele propõe ainda um novo mecanismo, no qual a universidade atuaria conjuntamente com as redes públicas. A diretora do Instituto de Microbiologia Professor Paulo Góes (IMPPG), Ângela Hampshire, tem críticas a respeito da questão. Segundo ela, a discrepância entre as classes sociais, no que diz respeito ao Centro de Ciências da Saúde (CCS), não é alarmante, pelo contrário. “A exceção de Medicina e Odontologia, os cursos abrigam uma maioria de estudantes de classes média e baixa. No laboratório onde trabalho, por exemplo, todos os alunos são de origem humilde”.

A professora também defende o Vestibular, já que avalia o estudante por seu mérito. “As provas da UFRJ são bem feitas e medem mais a capacidade de raciocínio do que o conhecimento acumulado”, avalia. A exclusão decorre de uma necessária seleção, mas Ângela argumenta que não há meios para todos os alunos do Ensino Médio entrarem em universidades públicas.

O Projeto discute a possibilidade de ingresso de acordo com uma avaliação continuada da rede pública estadual, mas não é claro quanto às redes municipal e federal. Tampouco menciona o sistema para as escolas particulares. Se é pretendido manter o Vestibular como forma de acesso para tais casos, haverá dois mecanismos de ingresso e, portanto, dois critérios de seleção. Se utilizada a avaliação continuada, será preciso medir o rendimento de alunos em diferentes sistemas de avaliação de forma unificada diferente do que ocorre atualmente.

Para a professora, no entanto, o problema não está no mecanismo de ingresso, mas na base científica dos Ensino Fundamental e Médio, que dá poucos subsídios de aprendizado aos jovens. E, nesse sentido, a universidade deve atuar no apoio aos professores de nível básico. Ângela cita a iniciativa de alguns cursos de promover cursos de reciclagem para professores da área (como os cursos de férias organizados pela equipe de clínica médica), como uma forma mais significativa de aperfeiçoamento do Ensino Público.

- Essas são iniciativas individuais que deveriam ser difundidas e incentivadas pelas unidades da UFRJ, porque são medidas mais eficientes, mais justas e mais inclusivas. Se a universidade participa na formação e na atualização de professores, não será preciso se valer de formas anormais de seleção -, argumenta Angela.

O ponto primordial, portanto, é defender a democratização do acesso. Para tanto, é preciso democratizar também o conhecimento. Nesse sentido, o estudante deve ter condições de concorrer igualitariamente no processo de seleção, da mesma forma que, ao ingressar, possa partir do mesmo patamar que seus colegas. A UFRJ ainda discute sobre o Projeto.

A Reitoria tem apresentado o texto nos Institutos para que possam ser feitas modificações.

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