• Edição 038
  • 1° de junho de 2006

Ciência e Vida

Degelo traz risco para o mundo

Mariana Granja

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No dia 1º de junho é comemorada a Semana Mundial do Meio Ambiente, mas é preciso ter cautela em não apenas exaltar a vasta natureza que o Brasil e o mundo possuem, como também atentar para problemas graves existentes. Um bom exemplo é o grande degelo sofrido pelas calotas polares, regiões de alta latitude, localizadas na região polar e cobertas de gelo. A tendência é que o descongelamento dessas áreas aumente, trazendo drásticas conseqüências para o planeta. Por isso, é necessário estudar suas causas, conseqüências, e o que pode ser feito para proteger o meio ambiente e trazer uma boa qualidade de vida para as próximas gerações.

De acordo com Marco Aurélio dos Santos, professor do Programa de Planejamento Energético da Coppe/UFRJ, haverá aumento da temperatura média da superfície da Terra, com elevação global do nível dos oceanos de cerca de 0,09 a 0,88 m entre os anos de 1990 e 2100. "Essas previsões são do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, organismo ligado a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização Mundial de Meteorologia (OMM), que é formado por cientistas de todo o mundo, que se reunem para avaliar as conseqüências do aumento das concentrações de gases na atmosfera terrestre e do efeito estufa”, explica.

O efeito estufa é resultante, entre outros fatores, do lançamento de gases poluentes na atmosfera, grande queima de óleo diesel e da derrubada de florestas, e é responsável direto pelo aumento da temperatura terrestre. Com essa elevação, o degelo das calotas polares ocorre com mais facilidade, trazendo graves desequilíbrios marinhos. “O derretimento do gelo irá adicionar muita água doce nos oceanos, baías, estuários, podendo gerar desequilíbrios na salinidade destes sistemas. Modificações nos sistemas de correntes marinhas também poderão ocorrer, resultantes da mudança da temperatura média das águas superficiais. Além disso, pode haver rupturas drásticas no equilíbrio de sistemas de transição como manguezais, resultado do aumento do nível dos oceanos”, aponta Marco Aurelio. O início do degelo cria um círculo vicioso, no qual, com o aumento da temperatura, a superfície da calota passa da cor branca para a cor mais escura do mar, fazendo com que mais calor seja absorvido e mais área gelada perca superfície, perpetuando o ciclo.

Embora todos sofram com o colapso das calotas polares e com o aumento da temperatura, os habitantes de regiões mais altas serão os mais prejudicados, por estarem em áreas frias onde ocorre o degelo. “Os perigos maiores são para localidades que se situam próximas a regiões de altitude que poderão sofrer com uma maior ocorrência do número de avalanches de neve. A navegação em regiões de latitude muito alta também deverá ser afetada devido ao desprendimento de blocos de gelo dos glaciares”, alerta o professor.

Segundo o professor, devido ao fato do Brasil ser muito rico em ecossistemas costeiros como restingas, lagunas e manguezais, estes poderão ser drasticamente alterados com a variação do nível do mar. “As questões ligadas ao derretimento das calotas polares influenciarão também a variação do nível do mar na costa do país trazendo problemas de erosão e alagamento de áreas e poderão aumentar os níveis de erosão das bacias hidrográficas à montante tendo em vista a subida do nível de base. Além disso a foz dos rios sofrerá com a subida do nível do mar”, explica Marco Aurélio. Mas o degelo da calota polar não traz apenas conseqüências ruins para o mundo. Países nórdicos, com o aumento da temperatura global, podem desenvolver clima temperado, o que permite a ampliação das áreas agricultáveis onde antes era inviável plantar devido ao gelo.

Para evitar o degelo e suas drásticas conseqüências para a maior parte do mundo, cientistas estão trabalhando em projetos e ações que evitem as causas do descongelamento. “O que está sendo feito é uma Convenção do Clima criada em 1992 e um Protocolo criado em 1997 (Protocolo de Kyoto), que prevêem a redução das emissões antrópicas de gases de efeito estufa, de forma a reduzir as concentrações de gases na atmosfera e frear o mecanismo de retro-alimentação de calor para a superfície terrestre, diminuindo desta forma o derretimento das calotas polares”, finaliza o professor.