• Edição 038
  • 1° de junho de 2006

Por uma boa causa

Fratura por estresse

Mariana Elia

imagem por uma boa causa

A prática de exercício físico intenso e prolongado muitas vezes provoca lesões musculares e articulares (ossos e articulações). De atletas de fim de semana a esportistas, todos estão propensos a sofrer com o excesso de exercício. O primeiro tema de uma série de lesões esportivas mais comuns, a fratura por estresse ou sobrecarga, principalmente nos pés, caracterizada por uma pequena fissura nos ossos.

Segundo Antonio Vitor de Abreu, professor do departamento de Ortopedia da Faculdade de Medicina e chefe do Serviço de traumato-ortopedia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), essa é uma fratura incompleta, porque não causa desvio ou deslocamento do osso. Por conta disso, o diagnóstico radiológico costuma ser tardio. “É preciso cerca de 20 dias para que a radiografia detecte a lesão, tempo necessário para formação do calo ósseo”, explica.

Quando ocorre a fratura, forma-se uma bolsa de sangue em volta do tecido fibroso. Esse hematoma passa para a cartilagem e, com o acúmulo de cálcio, a mineralização, ou calcificação, do hematoma caracteriza o calo ósseo, que é visto no exame de Raio X. O professor diz, no entanto, que é possível detectar a fratura antes da radiografia, através do relato da dor, do histórico do paciente e da ressonância magnética (que detecta a vascularização do local fraturado).

O mais adequado quando da lesão, é a procura de um profissional de saúde e o repouso da parte lesionada do corpo, evitando a carga normalmente imposta a lesão. O uso de muletas é recomendado, mas o organismo é capaz de eliminar a fissura. Em relação ao uso de corticóides (drogas feitas a partir de hormônios), Antônio Vítor alerta: “são antiinflamatórios espetaculares, mas os efeitos colaterais podem ser gravíssimos, como osteoporose (diminuição da massa óssea) precoce e até osteonecrose (problema nos vasos sangíneos ósseos)”. O professor explica que o corticóide suspende todo processo inflamatório, inclusive o que é necessário para restauração da fratura, dificultando a calcificação total.

Os mais propensos são os chamados atletas de fim de semana e iniciantes em academias, uma vez que os ossos não estão habituados a exercícios, podem sofrer fratura por sobrecarga. “Se a pessoa está saindo de um período de inatividade, é fundamental fazer uma recuperação física progressiva”, afirma Antônio Vítor, recomendando “pequenas caminhadas, musculação leve, nada que exija muito do corpo”. As mulheres que já passaram pela menopausa (ou climatério) também devem ter cuidado, pois há enfraquecimento da musculatura e perda da densidade óssea. “Mas se não houver uma mudança brusca de comportamento, não é preciso se preocupar”, diz o professor.

O principal sintoma é a dor moderada e intensa durante ou após o exercício físico. É importante respeitar o sintoma e interromper o exercício. “A dor é um sistema de alarme necessário para prevenir lesões maiores”, explica Antônio Vítor. É muito comum, no entanto, o uso de remédios que mascaram esse sistema. Esse tipo de medicação “desarticula a resposta do corpo”, que se prepararia para restaurar o tecido, aumentando a gravidade da lesão, constata o professor.

Os membros inferiores, em especial pés, tíbia, fêmur e bacia, são os mais lesionados. Os ossos metatarsais (parte média) dos pés são comumente fraturados, tanto por conta de seus reduzidos tamanhos, como pela acentuação dos arcos e uso de tênis inadequado. As caminhadas e marchas são os principais exercícios desencadeadores da fratura por estresse, já que exigem muito dos membros, normalmente despreparados.

Apesar de não influenciar o osso, o aquecimento é imprescindível para evitar lesões musculares, pois alonga as fibras e aumenta sua vascularização. Já o resfriamento é importante na eliminação das toxinas produzidas na queima de energia. “O resfriamento serve ainda para aumentar o tempo de reoxigenação da musculatura, evitando a mudança brusca entre o treinamento e o descanso”, lembra o professor.

A fratura por estresse não constitui grandes problemas ao paciente, mas é preciso estar alerta para evitar que desenvolvam lesões maiores. A prática de exercícios leves de início e, progressivamente, o aumento da intensidade, é a melhor prevenção para todos os tipos de lesões, mas é importante também procurar estar em condições favoráveis, como locais, tênis e roupas adequados. Quando do surgimento da dor, é necessária a interrupção do treinamento e a consulta com um profissional médico.