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Edição 178
2 de julho de 2009

Por uma boa causa

Dependência química: medicamentos que se tornam vilões

Beatriz Cruz e Cília Monteiro

A dependência química é uma realidade que muda drasticamente a vida de milhares de pessoas, interferindo em suas relações familiares e de trabalho. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o problema afeta, em média, 10% da população mundial, incluindo dependentes e pessoas que sofrem consequências do convívio com o dependente. Esse assunto será abordado no Por uma boa causa deste mês, começando pela dependência de medicamentos.

Os analgésicos são medicamentos que podem causar séria dependência química. Um exemplo desse tipo de droga é o demerol, que de acordo com a imprensa norte-americana provocou uma parada cardiorrespiratória e a morte do cantor Michael Jackson, devido às altas doses consumidas. Trata-se de um derivado de ópio, semelhante à morfina, que pode ser utilizado como anestésico e inclusive é de uso restrito em serviços de emergência médica.

No Brasil, é conhecido como dolantina e indicado para dor intensa, como em casos de pacientes que sofreram cirurgias, infarto agudo do miocárdio ou contrações durante o trabalho de parto. Excessos desse medicamento podem desligar o controle de respiração comandado pelo cérebro. O risco da droga é potencializado caso ela seja consumida junto com remédios para dormir, antidepressivos ou álcool.

Segundo Flávio Alheira, psiquiatra do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) da UFRJ, dentre os medicamentos que podem causar dependência estão os benzodiazepínicos, popularmente conhecidos como calmantes, que agem contra ansiedade, medo, pânico, agitação, insônia e irritabilidade. Essas drogas não tratam problemas, apenas aliviam sintomas, e seu uso crônico corta o efeito, além de ser fatal em determinados casos.

O psiquiatra explica que devido a seu efeito de curto prazo essas drogas são usadas com mais frequência, por isso possuem risco maior de desencadear dependência em alguns indivíduos. De acordo com ele, uma vez que o indivíduo utiliza a medicação e constata seu efeito veloz e eficiente, passa a associar aquela sensação rápida de bem-estar ao remédio.

O curto efeito de certos medicamentos não só eleva a frequência de uso, como também provoca a necessidade de aumento da dosagem com o passar do tempo. Isso ocorre porque a resposta do organismo àquela substância passa a não ser mais a mesma. Flávio ressalta ainda que é preciso levar em consideração o fator da predisposição: “Alguns indivíduos apresentam maior chance de desenvolver dependência química do que outros”, afirma.

Com o estresse do dia a dia, muitas pessoas recorrem à ajuda de medicamentos contra insônia e agitação para dormir. Por isso, os calmantes possuem ainda maior potencial de induzir impulsos de automedicação, o que eleva o perigo da situação. É importante destacar que o risco de desenvolver a dependência diminui consideravelmente quando há acompanhamento médico adequado.

Outra ameaça presente é a busca incansável pela beleza que muitas mulheres seguem, e que por vezes leva a ações inconsequentes, como, por exemplo, recorrer a inibidores de apetite para emagrecer. O psiquiatra aponta que o problema é bastante presente no Brasil. Segundo ele, a melhor medida de tratamento é reduzir aos poucos o uso das substâncias, para que não haja crise de abstinência e o corpo possa ir aos poucos se readaptando.

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