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Edição 169
30 de abril de 2009

Por uma boa causa

Lombriga pode agravar casos de subnutrição

Beatriz da Cruz

Durante o mês de abril o Por uma Boa Causa trouxe o tema “helmintoses”, doenças causadas por seres popularmente conhecidos como vermes. Encerrando a série de reportagens, esta semana será abordado o Ascaris lumbricoides, popularmente conhecido como lombriga, o causador da ascaridíase.

De acordo com a professora Aleksandra Menezes de Oliveira, do Laboratório de Biologia de Helmintos do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF), por ser um helminto nematoide, o Ascaris lumbricoides apresenta como características corpo cilíndrico, extremidades anterior e posterior do corpo afiladas, dimorfismo sexual (machos e fêmeas) e reprodução sexuada. “As fêmeas são maiores que os machos, podendo apresentar de 30 a 40 cm, enquanto os machos variam de 15 a 30 cm”, descreve a professora.

A lombriga é um verme que parasita apenas o ser humano. A pessoa infectada com os vermes adultos libera no ambiente ovos não embrionados (sem larva no interior) junto com as fezes. O ambiente externo propicia aos ovos oxigênio, alta temperatura e umidade, que permitem que a larva se desenvolva no interior do ovo. Antes de chegar ao terceiro estágio evolutivo, no qual a infecção de outro hospedeiro humano se torna possível, a larva sofre ainda mais duas alterações em sua morfologia. A partir desse momento, uma pessoa pode adquirir o verme ao ingerir água ou alimentos contaminados (principalmente verduras).

Desenvolvimento e sintomas

Segundo Aleksandra, após a ingestão, ocorre a eclosão (liberação) das larvas no intestino delgado, e elas alcançam a corrente sanguínea através da parede do intestino. Ao atingirem o sistema porta hepático (sistema de veias do fígado), seguem para o coração e pulmão, onde encontram ambiente favorável. Dessa forma penetram os alvéolos e seguem sua evolução morfológica chegando ao quarto estágio evolutivo. “As larvas saem dos pulmões e sobem pelos brônquios, onde são carregadas junto com as secreções brônquicas (muco), chegando à faringe, onde são deglutidas pelo tubo digestivo, passando pelo estômago e atingindo o intestino delgado, local em que completam o desenvolvimento, tornando-se adultas”, explica a especialista.

— Durante essa migração larvária (epitélio intestinal a brônquios), as larvas passam por vários orgãos, como fígado e pulmões. Normalmente não causam problemas na sua migração, mas, se estiverem em grande número, podem causar no pulmão um quadro denominado Síndrome de Loeffler, caracterizado por tosse, febre e  aumento dos eosinófilos  (células sanguíneas que fazem parte do sistema imunológico) no sangue — alerta a professora. No intestino, os vermes adultos podem estar associados também a quadros de náuseas, vômitos, diarreia e dor abdominal, particularmente se a carga de parasitas for alta.

Além desses sintomas, os parasitas podem ainda competir com o hospedeiro pela absorção de nutrientes. Perda de proteínas, carboidratos, lipídios e vitaminas A, B e C podem levar ao agravamento da situação nutricional de indivíduos infectados, em especial em famílias com baixas condições nutricionais e em crianças subnutridas.

De acordo com Aleksandra, complicações graves, porém mais raras, estão associadas ao deslocamento dos vermes adultos para outros órgãos (localizações ectópicas). Se chegarem ao apêndice, de acordo com relatos clínicos, podem causar uma apendicite aguda. “Além disso, o indivíduo infectado (mais comumente crianças) pode eliminar vermes adultos pela boca e pelo nariz devido a infecções maciças ou quando os vermes sofrem um processo irritativo por alimento ou por determinados medicamentos”, diz a especialista. Na literatura médica existem ainda relatos de casos de morte por asfixia.

Entretanto, em muitos casos a ascaridíase é assintomática. De acordo com a professora, calcula-se que um em cada seis infectados apresente sintomas. Um dos fatores cruciais para o agravamento da patologia é a quantidade de parasitas em cada hospedeiro, que pode chegar a dezenas. O tempo de vida do verme adulto é de aproximadamente dois anos.

Como evitar e tratar a doença

Para evitar o contágio pelo vírus a recomendação da especialista é promover a educação sanitária da população e propiciar condições adequadas de saneamento básico. Evita-se assim a contaminação da água, que é usada na preparação de alimentos e na irrigação de legumes e verduras, além, é claro, do consumo direto. O combate aos vetores mecânicos (moscas e baratas) também é importante, pois eles podem estar associados à disseminação de infecções ao transportarem ovos destes e de outros parasitas para alimentos.

Uma vez que haja a suspeita de contaminação, o método de diagnóstico mais preciso é a observação ao microscópio ótico de ovos nas fezes (exame coproparasitológico). “Os ovos de Ascaris lumbricoides são facilmente diagnosticados por apresentarem um envoltório externo espesso e irregular denominado casca mamilonada. Além disso, a eficiência do método está associada ao fato de cada fêmea, após a reprodução sexuada, eliminar cerca de 200 mil ovos por dia”, explica a professora.

Ela conclui fazendo um alerta para o risco da automedicação, que pode trazer danos à saúde, e recomenda que, uma vez diagnosticada, a pessoa procure um médico, pois só ele pode indicar a melhor forma de tratamento para cada paciente.

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