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Edição 155
04 de dezembro de 2008

Por uma boa causa

Ginástica olímpica: competitividade e riscos

Cília Monteiro

Atualmente é grande a variedade de profissões que compõem o multifacetado mercado de trabalho. Algumas estão ligadas à produção de conhecimento e priorizam o esforço mental. No entanto, muitas dependem de um grande desgaste físico, interferindo diretamente na saúde e bem-estar dos indivíduos. Por amor ao ofício, muitos profissionais convivem com diversos desconfortos físicos e precisam estar atentos aos cuidados necessários para amenizar os efeitos de suas atividades. A série de reportagens do Por uma boa causa deste mês vai abordar algumas destas profissões, a começar pela ginástica olímpica. 

– Esta modalidade possui uma grande variedade de atividades e muitas de risco. Acredito que o maior problema da ginástica olímpica é a competitividade, pois atletas muito jovens são levados a um regime bastante intenso de treinamento – constata Antonio Vitor de Abreu, chefe do Serviço de Traumato-ortopedia do Hospital Universitário Clementino Fraga filho (HUCFF). De acordo com o professor, o organismo de crianças ou adolescentes fica exposto a uma série de dificuldades de ordem médica. Além da possibilidade do treinamento físico levar a uma fadiga muscular, existem os riscos decorrentes das acrobacias: contusões e fraturas, por exemplo.

– A ginástica olímpica seleciona os indivíduos que se adaptam melhor a esta atividade e que possuem um físico mais adequado. São crianças menores, submetidas a um treinamento tão intenso que pode até, em hipótese, prejudicar o crescimento – aponta o especialista. A rigidez dos treinamentos resulta em um grande ganho muscular, que tornaria a musculatura tensa e forte, podendo afetar o desenvolvimento da altura destes indivíduos. O professor indica que não há certeza quanto a este fato e julga a seleção dos atletas como principal motivo da baixa estatura característica dos ginastas. “Ainda é possível que as duas coisas aconteçam: a escolha de biotipos específicos associada a um treinamento que não deixa o desenvolvimento ir além”, conclui Antonio.

– Para estes profissionais, existe uma série de lesões possíveis e comuns, como musculares, articulares e traumáticas, decorrentes das quedas, e não do treinamento – relata o ortopedista. Ele acredita que não haja desgaste com o passar do tempo somente pelo exercício. “É claro que o treinamento pode chegar a um ponto que produza algumas lesões, mas a manutenção tecidual é plena nestes indivíduos em crescimento. Podem acontecer acidentes durante a realização dos exercícios, mas só a atividade em si não traz maior prejuízo”, explica.

– São atletas que vivem sempre no limite, o que eles fazem traz um risco enorme de lesões, tanto pelo erro quanto pelo excesso – observa Antonio. Para ele, a incidência de artrose em indivíduos que faziam ginástica olímpica não acontece simplesmente em decorrência da realização desta atividade, mas de lesões de cartilagem, menisco, ou outras. “Seqüelas acontecem, mas por conta de lesões, não só pelo exercício em si”, afirma.

Segundo o ortopedista, as atividades englobadas pela ginástica olímpica são bastante variadas, cada qual com sua especificidade e trabalhando mais com determinadas partes do corpo. No entanto, de modo geral, a estrutura que acaba sendo mais atingida é o joelho. “Pode ser lesão meniscal, condral ou de ligamento. Os ginastas mais experientes possuem pelo menos uma artroscopia, procedimento cirúrgico realizado no joelho”, informa o professor. De acordo com ele, a artroscopia representa um método de exame que permite a realização da cirurgia através de uma ótica, que possibilita a visualização do interior do joelho em um monitor. O procedimento é feito por meio de duas aberturas, em que por uma entra o artroscópio, e pela outra, o instrumento necessário na intervenção.

Cuidados necessários

Para se evitar problemas, um acompanhamento médico deve vir paralelamente ao treinamento dos ginastas. “Não é fácil, pois é uma rotina de exercícios bastante sofrida. No entanto, há uma complementação com o necessário para prevenir maiores danos: os alongamentos e os exames preventivos”, expõe o professor. Os cuidados médicos envolvem outras facetas, como a parte cardiovascular, cerebral e uma série de exames que precisam estar em dia, como o de sangue. “Além disso, eventualmente são realizados outros exames decorrentes de queixas particulares, como ultra-sonografia ou ressonância magnética em caso de suspeita de lesão”, complementa o ortopedista.

O ginasta realiza uma atividade em que precisa ter o organismo em condições adequadas. Atualmente existe o profissional de medicina desportiva, apto a acompanhar os atletas. “Mas geralmente é preciso uma visão multidisciplinar. Para treinamento físico é necessário um profissional mais voltado às áreas cardiovascular e pulmonar. Ainda devem estar presentes especialistas para cuidarem de questões alimentares e musculares. Seriam profissionais variados ou então o de medicina desportiva, que ainda é basicamente ortopedista ou fisiatra, mais ligados ao aparelho locomotor. No entanto, as corporações de nível olímpico são multidisciplinares, possuem diversos profissionais para atender a esta complexidade”, finaliza Antonio Vitor de Abreu.

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