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Edição 154
27 de novembro de 2008

Saúde e Prevenção

Stent farmacológico, quando é realmente necessário?

Beatriz Cruz

A angioplastia é um procedimento usado para desbloquear uma artéria obstruída pelo acúmulo de gordura na parede dos vasos. Através de um catéter insere-se um pequeno balão vazio na artéria que, ao chegar à região do entupimento, é inflado, empurrando a gordura. O tratamento surgiu como uma alternativa à intervenção cirúrgica, mas apresentava um problema, o procedimento frequentemente necessitava ser refeito, pois as artérias voltavam a ficar obstruídas.

No final dos anos 80, surgiram os stents, pequenas redes metálicas que funcionam como molas mantendo a artéria desobstruída. Contudo, numa incidência de 30 a 40%, o vaso reocluía e, por isso, o método não era tão vantajoso. Posteriormente vieram os stents farmacológicos, revestidos com medicamentos que reduzem a chance de reestenose (estreitamento da artéria, causado por um crescimento anormal da parede do vaso). No passado acreditava-se que esse problema havia sido resolvido, hoje se sabe que não. Ainda assim, os casos em que a intervenção se torna ineficaz são bem inferiores aos do stent convencional.

Porém, nos últimos anos, detectou-se que o uso do segundo tipo de stent traz um risco. De acordo com Henrique Murad, professor titular de cirurgia cardíaca do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da UFRJ, o stent com medicamento aumenta o risco de trombose (processo de formação de um coágulo no interior de uma artéria, veia ou cavidade do coração), complicação que pode levar a infarto do miocárdio e morte.

Existem ainda outras desvantagens. “O stent fármaco não aboliu completamente a reestenose, embora tenha diminuído a recorrência da veia. Ele pode ocluir subitamente e para evitar essa oclusão usa-se medicamentos que podem provocar sangramentos (do ponto de vista do professor, esta característica torna desaconselhável o dispositivo a pacientes que necessitem fazer alguma outra cirurgia ou que possuam doença que provoque sangramento). Além disso, é muito oneroso para o sistema de saúde” explica o especialista.

O uso de medicamentos para reduzir os riscos de trombose, que impedem a adesão das plaquetas, como Aspirina e Clopidogrel, também é perigoso; inicialmente era adotado apenas por um mês, depois aumentava para três meses, seis meses, um ano e, de acordo com o professor, já existem pessoas que talvez tenham que tomar a medicação pela vida inteira.

Esses dados trouxeram mudanças na indicação de tratamento dada aos pacientes, pois a facilidade e rapidez da colocação do stent, que permite que o paciente volte a trabalhar precocemente, fizeram com que ele fosse utilizado em muitos casos, mesmo quando não era sempre a melhor opção. “Hoje, está havendo uma volta das cirurgias de revascularização clássicas, como ponte de safena e mamária. Porque a resposta ao stent não foi a maravilha que se esperava. Pensava-se que o stent resolveria tudo, mas ele não resolve. Na verdade, ele tem um índice de complicações real e quando se analisam pacientes com stents e pontes de safena, a gente nota que a mortalidade entre eles é quase igual. O desconforto é muito menor para o doente que coloca stent, mas este paciente tem chances de precisar colocar mais e mais stents até que, um dia, precise ser operado. Então a tendência que foi muito pró stent agora é dividida, determinados pacientes são para stent e outros para cirurgia” diz Murad.

Além disso, há também a possibilidade de tratamento clínico isolado. “Se o doente tem uma oclusão na artéria coronária direita e não apresenta sintomas, não precisa colocar stent, pode se tratar clinicamente, para o resto da vida, e ficar bem” ressalta o professor.

Para decidir o melhor tratamento é preciso classificar muito bem cada caso. De acordo com o professor Henrique, se o paciente apresenta doença de múltiplos vasos coronarianos, tem ventrículo dilatado e coração já sofrido, o melhor tratamento é a cirurgia, por exemplo.

– A incidência de coágulos é baixa e não justifica banir o stent fármaco, significa somente dedicar a ele maior cuidado e maior rigor na indicação –, conclui o professor. Embora os riscos desse stent não causarem alarme, os dispositivos foram positivos no sentido de contribuírem para uma melhor análise de cada caso antes da escolha do tratamento mais indicado.

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