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Edição 149
23 de outubro de 2008

Ciência e Vida

A doença do mau humor

Cinthia Pascueto - AgN/PV

Sabe aquelas pessoas que vivem mal-humoradas, irritadas, acham que tudo vai dar errado? Se você se identificou com a descrição ou conhece alguém que apresenta essas características, atenção ao Ciência e Vida desta semana, pode se tratar de um transtorno chamado distimia. Contudo, atente para a notícia que vai deixar até o distímico de bom humor: há 16 anos, o Instituto de Psiquiatria da UFRJ oferece tratamento e realiza pesquisas sobre a distimia – um transtorno de humor crônico caracterizado pela irritabilidade, independente da situação.

Segundo Antônio Egídio Nardi, psiquiatra e coordenador da pesquisa realizada, desde 1992, com distímicos no Instituto de Psiquiatria da UFRJ, a pessoa que sofre da doença apresenta uma série de sentimentos negativos sobre os outros e sobre si mesma que ultrapassa os limites de uma decepção ou descontentamento comum: “O distímico hipertrofia o lado negativo de tudo”, disse o psiquiatra.

Se você está desconfiando que o seu vizinho chato ou sua tia ranzinza são distímicos, cuidado: pessimismo, baixa auto-estima, inferioridade, crítica excessiva, falta de prazer nas atividades cotidianas entre outros problemas, são comuns a todo ser humano quando relacionadas a situações específicas. “A pessoa sabe discernir o que é o mau humor relacionado ao trânsito ou a um time que perdeu de todo o resto da vida. Isto é, o mau humor comum tem uma causa e passa com o tempo. Já o distímico, mesmo que não tenha nenhum aborrecimento, sempre tem uma crítica negativa, independente dos fatos”, explica Nardi, comparando a diferença entre a pessoa que apresenta o transtorno e outra com o humor normal.

O Instituto de Psiquiatria da UFRJ, sob a coordenação de Antônio Nardi, desenvolve há 16 anos pesquisas sobre o transtorno, aplicada em pacientes que procuram a unidade para tratamento. “Muitas vezes o distímico busca ajuda médica levado pelos familiares e amigos, porque notam que aquela pessoa está sempre de mau humor. Em outras ocasiões, a procura se dá pelo próprio paciente quando deprime e reconhece que não tem vontade para fazer as coisas, que está sem energia, sem interesse, com humor triste”, conta o especialista, lembrando que freqüentemente a doença é confundida com depressão.

Apesar de apresentarem sintomas em comum, a distimia pode ser, na verdade, um primeiro passo para a depressão, como lista Antônio Egídio: “o risco de deprimir é muito maior para o distímico, que já está no meio do caminho. Outras complicações associadas à doença são as dependências de drogas, álcool e calmantes, pois muitos mal-humorados crônicos acabam encontrando nesses meios certo alívio – é um pulo para a dependência”.

– Além disso, há também o risco de complicações clínicas, por tomar remédios e fazer exames desnecessários, devido às inúmeras queixas de dores, má digestão, enxaqueca, entre outras –, disse o médico, que cita também a solidão como um prejuízo no campo social. “O distímico isola-se porque os outros o irritam; os outros o isolam, pois uma pessoa sempre pessimista acaba sendo indesejada”, afirma.

Segundo Nardi, ainda não se sabe a origem de transtornos do humor, mas supõe-se que exista um fator genético. “Em famílias de indivíduos com distimia, que também é duas vezes mais freqüente em mulheres que nos homens, há uma chance muito maior da doença. Isso não significa que existe um gene para distimia, mas são os genes que controlam a bioquímica do funcionamento cerebral. Não funcionando adequadamente, resultam em alterações do comportamento, como os transtornos do humor”, explica o especialista.

16 anos combatendo o mau humor

O tratamento oferecido no Instituto de Psiquiatria da UFRJ segue a mesma linha de atendimento, com aperfeiçoamento constante, e pesquisa desde que teve início o projeto, em 1992. Atualmente, o hospital utiliza duas formas de tratamento para distímico: o uso de antidepressivos e a psicoterapia cognitivo-comportamental. De acordo com Egídio Nardi, apesar do índice de pacientes com melhora do mau humor crônico ser de 50% enquanto o de pacientes depressivos é de 75%, “o tratamento tem permitido a pessoas distímicas ver as coisas de modo mais leve, melhorando bastante sua qualidade de vida e permitindo uma diminuição de complicações com vícios e outras doenças, como a própria depressão”.

Atualmente, uma nova pesquisa sobre o tratamento tem sido realizada no Instituto. Segundo Nardi, “essa é uma avaliação de resultados dos pacientes tratados apenas com a psicoterapia cognitivo-comportamental”. A análise de diagnósticos, prontuários e laudos médicos dos pacientes distímicos deve apontar se é possível tratar do mau humor crônico, em alguns casos, apenas com a terapia. “Uma vez que a pessoa com distimia necessita, muitas vezes, de altas doses de medicação para apresentarem melhoras”, conclui o especialista.

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