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Edição 147
09 de outubro de 2008

Saúde e Prevenção

Trabalhar para viver ou viver para trabalhar?

Heryka Cilaberry

Se você costuma perder passeios de família, aniversários de amigos e consultas médicas devido à extensa lista de compromissos profissionais ou se, mesmo de férias, não consegue desconectar o computador da rede, mantendo os pensamentos sempre no trabalho, atenção: você pode ser um workaholic.

Basta uma breve análise etimológica da expressão americana para entender o grau de dependência psíquica desses indivíduos por seu lado profissional. O neologismo é resultado da justaposição da palavra work (trabalho) e alchoolic (alcoólatra), estabelecendo um paralelo entre o “vício” do trabalho e o do álcool.

– Essas pessoas trabalham excessivamente. Vivem em função de seus afazeres, não descansam e se sentem extremamente infelizes quando não estão “produzindo”. Deixam tudo de lado, em função do trabalho, tornam-se escravos, independente da urgência de cumprir suas tarefas ou não, de riscos com relação a sua saúde física ou emocional – define Magda Vaissman, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPUB) e chefe da Unidade de Problemas Relacionados ao Álcool e outras Drogas (UNIPRAD) do Hospital São Francisco de Assis da UFRJ.

A obsessão é tão grande que eles chegam a passar em média 14 horas do dia no ambiente de trabalho e, mesmo quando chegam em casa, mantêm o ritmo de atividades contínuo. Dessa forma, parentes e amigos acabam se sentindo excluídos de suas rotinas. “Nada dá mais prazer a essas pessoas que a dedicação obstinada ao trabalho. Elas escolhem trabalhar a executar qualquer outra atividade normalmente prazerosa para outras pessoas, como praticar esportes, participar do convívio familiar, namorar, ter sexo ou mesmo apreciar os prazeres da gula, como a ‘gastronomia’”, esclarece a psiquiatra.

Os workaholics

Perfeccionistas, controladores, exigentes e extremamente preocupados com o desempenho profissional, os workaholics aumentaram na última década. Isso porque a competitividade dentro das empresas impulsionou a valorização do homem engajado com o trabalho e transformou o “vício” em algo socialmente aceitável.

A fixação pelo ofício também deixou de ser uma característica do sexo masculino. Isso ocorre, explica Magda, devido às maiores responsabilidades sociais assumidas pela mulher. Hoje, o problema atinge ambos os sexos e de maneira equilibrada.

– Com a intensificação do papel feminino no mercado de trabalho, momento em que a mulher assume diversas responsabilidades, até então masculinas, ela se torna tão suscetível quanto o homem a se tornar uma workaholic. O caso feminino pode ser ainda mais estressante, porque a mulher está submetida à dupla jornada de trabalho: o profissional e o doméstico.

Sintomas

Vaissman acrescentou que o workaholic costuma apresentar alguns sintomas característicos, tais como ansiedade, angústia, dores de cabeça ou musculares, náuseas, fadiga e insônia. Segundo a psiquiatra, ele “também pode desenvolver doenças em decorrência do estresse, como hipertensão, depressão, diabetes, problemas cardíacos e gástricos, além das famosas doenças do trabalho”, aponta Vaissman.

Toda essa dedicação laboral é extremamente prejudicial ao organismo. Um estudo realizado pela Agência de Saúde Pública de Barcelona, na Espanha, com 2.792 trabalhadores, comprovou que uma jornada de trabalho com mais de 40 horas semanais pode provocar diversos problemas à saúde.

De acordo com a médica, o ideal é que, a partir da identificação dos primeiros sintomas de uma psicopatologia ligada ao trabalho, o paciente passe por uma avaliação clínica, neurológica e psiquiátrica para a garantia do seu bem-estar físico e emocional.

Soluções

Algumas alternativas são indicadas para quem não deseja se tornar uma vítima da obsessão pelo trabalho. Segundo a psiquiatra, uma boa opção é reservar um tempo para si e para a família e valorizar formas de lazer, tais como ler um livro, assistir televisão, ir ao cinema, dançar, beijar, dar boas risadas e fazer exercícios físicos. A prática de uma religião ou de atividades como a ioga também ajuda o indivíduo a se manter espiritualmente antenado com outra ocupação além do trabalho.

– Sou sempre a favor da prática de esportes, já que estimulam a plasticidade cerebral. Mas a prática excessiva pode se transformar em outra patologia: a vigorexia. É preciso sempre buscar o equilíbrio tanto pessoal como profissional e doméstico – explica a psiquiatra.

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