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Edição 147
09 de outubro de 2008

Por uma boa causa

Dieta à moda antiga

Luana Freitas

Já imaginou um cardápio rico em folhas, raízes e frutas? Uma dieta sem grãos e cereais? Pois esse era o tipo de alimentação dos povos que viveram há milhões de anos durante o chamando período paleolítico. Com o advento da agricultura e das novas tecnologias, o padrão alimentar do homem foi gradativamente se modificando e, hoje, alimentos calóricos e pouco saudáveis caracterizam um estilo de vida marcado pela pressa e, quase sempre, pelo sedentarismo. Dessa forma, dando continuidade à série de reportagens “Dietas terapêuticas e preventivas”, o Por uma boa causa desta edição volta ao tempo das cavernas para falar sobre a dieta do paleolítico.

Durante a era paleolítica, compreendida entre dois milhões e 10 mil anos a.C., o ser humano vivia basicamente de caça, pesca e coleta de frutos. Segundo Adolpho Milech, nutrólogo e endocrinologista do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) da UFRJ, a alimentação nessa época era rica em fibras e proteínas, a carne animal tinha baixo conteúdo de gordura saturada e a ingestão de carboidratos era moderada. Além de ingerirem alimentos mais nutritivos, os homens da era paleolítica deslocavam-se com freqüência para caçar, levando uma vida menos sedentária. Ao mesmo tempo, contudo, existiam períodos de fome em que muitos indivíduos morriam.

O surgimento da agricultura no neolítico, por sua vez, modificou completamente o modo de viver, já que permitiu ao homem fixar-se em um determinado local. Cereais passaram a ser cultivados e a oferta de alimentos tornou-se constante. “Com a agricultura, o estilo de vida começa a mudar. O homem passa a ter uma alimentação preservada e não precisa mais caçar com tanta freqüência como antes, o que permite certa acomodação em termos de atividades físicas”, observa Milech.

A alimentação paleolítica e o desenvolvimento cerebral

Estudos revelam que o tipo de alimentação durante o período paleolítico pode ter contribuído para o desenvolvimento cerebral e cognitivo do homem. Segundo Milech, no caso dos primatas primitivos, a reconstrução de seus hábitos alimentares sugere uma ligação entre a dieta e o tamanho de seu cérebro. Por exemplo, um macaco cuja dieta era constituída em 50% por folhas, 40% frutas e, ainda, 10% por flores, possuía um cérebro duas vezes menor do que aquele que apresentava uma alimentação composta por três quartos de frutas. “Apesar de os dois animais terem o mesmo peso físico, o cérebro do segundo animal, que ingeria maior quantidade de energia, era muito maior do que o do primeiro. Provavelmente, a ingestão de alimentos de maior valor energético deve ter contribuído para o desenvolvimento do cérebro”, explica Milech.

Saúde e alimentação andam juntas

O termo “dieta paleolítica” popularizou-se nos anos 80, quando os cientistas Boyd Eaton e Melvin J. Konner, da Universidade de Emory (EUA), publicaram um artigo no New England Journal of Medicine sobre os benefícios da dieta à saúde do homem. Segundo os estudiosos, a incidência de doenças crônicas na sociedade moderna – tais como obesidade, hipertensão, doenças coronarianas e diabetes – é conseqüência da incompatibilidade entre os padrões dietéticos atuais e o tipo de alimentação que a espécie humana desenvolvia na Pré-história.

Para o endocrinologista, contudo, é um erro pensar que a alimentação paleolítica possa ser melhor do que a atual. “A dieta paleozóica não pode ser avaliada como se fosse muito melhor do que a de hoje. As condições naquele tempo eram diferentes. Portanto, o que se deve fazer é adaptá-la à vida moderna. Os indivíduos devem fazer uma reeducação alimentar e praticar alguma atividade física”, afirma o endocrinologista.

Segundo Milech, o ideal para a saúde é manter uma dieta simples e equilibrada. “A pessoa deve comer salada e uma porção de carboidratos mais concentrados – presentes no arroz e na batata, por exemplo – em uma quantidade não muito grande. Além disso, deve complementar sua alimentação com uma quantidade de fibras mais concentradas, como legumes, abóboras, beterraba, chuchu, cenoura, ervilha, feijão e lentilha. Depois, deve procurar, de preferência, uma carne magra”, revela. O professor chama atenção ainda para o fato de que uma alimentação saudável deve começar antes de a criança nascer. Para isso, a mãe precisa se alimentar de forma balanceada durante todo o período da gravidez para evitar que o bebê desenvolva futuramente doenças como obesidade e diabetes.

Para concluir, o professor deixa o alerta: “Uma alimentação normal deve ter todos os constituintes, distribuídos de forma harmônica, numa quantidade fundamental para o indivíduo manter uma nutrição adequada. As pessoas devem comer para viver, e não viver para comer”.

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