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Edição 146
02 de outubro de 2008

Por uma boa causa

Sua saúde em forma

Luana Freitas

Para quem deseja diminuir alguns dígitos na balança, nada melhor do que uma boa dieta. A busca por um corpo em forma leva homens e, principalmente, mulheres a cortarem alimentos calóricos do cardápio. No entanto, nem toda dieta destina-se à perda de peso. Uma alimentação balanceada faz bem à saúde e contribui para a longevidade. Dessa forma, a série de reportagens do Por uma boa causa desse mês dedica-se às "Dietas terapêuticas e preventivas", começando com a dieta mediterrânea.

A dieta mediterrânea, ou dieta do mediterrâneo, refere-se aos hábitos alimentares de povos dos países banhados pelo mar mediterrâneo, dentre eles Itália, Grécia, Iugoslávia, Egito, Líbia, Marrocos e Turquia, por exemplo. Segundo a professora Eliane Lopes Rosado, do Instituto de Nutrição Josué de Castro (INJC), da UFRJ, nesses países, o padrão alimentar é composto, basicamente, pela abundância de frutas, hortaliças, nozes, leguminosas e cereais integrais; pelo consumo moderado de peixes e aves; menor quantidade de carnes vermelhas; e pela ingestão de pequena quantidade de vinho tinto após as refeições. Além disso, a principal fonte de gorduras é o azeite de oliva extra-virgem.

A origem da dieta

Especialistas apontam dois períodos principais na História que contribuíram para a formação dos hábitos alimentares mediterrâneos: a Antigüidade clássica, marcada pela expansão do comércio internacional, e o Império Romano, quando as práticas comerciais entre os países acabaram influenciando sua culinária. Contudo, a dieta mediterrânea tornou-se popular somente na década de 1950, com os estudos desenvolvidos pelo doutor Ancel Keys.

Keys foi professor de fisiologia da Universidade de Saúde Pública de Minessota, Estados Unidos. Entre 1958 e 1964, o médico pesquisou os principais fatores de risco cardiovascular entre as populações de sete países diferentes (Grécia, Itália, Iugoslávia, Japão, Holanda, Finlândia e Estados Unidos) e descobriu que a incidência de doenças cardíacas no mediterrâneo era menor do que nas demais regiões. O trabalho de Keys foi, portanto, um dos primeiros a analisar a relação entre os hábitos alimentares desses povos e as doenças cardiovasculares, levantando a hipótese de que a dieta ajudasse a prevenir doenças.

No entanto, a primeira comprovação clínica das vantagens oferecidas pela dieta foi exposta pelo Estudo de Lyon em Doenças Cardíacas. Neste estudo, 605 pacientes de infarto agudo do miocárdio foram divididos em dois grupos. O primeiro, composto por 302 indivíduos, foi submetido a uma alimentação parecida com a dos povos mediterrâneos. Já no segundo grupo, 303 pessoas passaram a se alimentar segundo uma dieta de controle semelhante à indicada pela Associação Americana do Coração. Após 27 meses, a taxa de problemas coronários diminuiu em 73% e a mortalidade total em 70% no primeiro grupo.

Benefícios à saúde

Segundo um relatório publicado no British Journal of Cancer, a dieta mediterrânea pode reduzir entre 12% e 24% o risco de um indivíduo desenvolver câncer. De acordo com a professora Eliane Lopes Rosado, quando seguida corretamente, a dieta contribui para a prevenção e o tratamento de doenças cardiovasculares, hipertensão arterial sistêmica, dislipidemias, cardiopatias e certos tipos de câncer. “Este fato se deve principalmente à presença de alto conteúdo de fibras e melhor qualidade lipídica – devido ao uso do azeite de oliva e peixes –, além dos efeitos benéficos do vinho tinto", explica a nutricionista e pesquisadora da UFRJ.

Eliane revela que esse padrão alimentar apresenta alto conteúdo de fibras, o que ajuda a controlar as concentrações de glicose e lipídios sangüíneos. Por sua vez, o ômega 3 contido no peixe e os lipídios monoinsaturados presentes no azeite de oliva contribuem para a redução do "mau" colesterol (LDL-colesterol) e o aumento do "bom" colesterol (HDL-colesterol).

Os benefícios da dieta são tantos que, no último dia 30 de setembro, representantes dos governos da Espanha, Grécia, Itália e Marrocos apresentaram à UNESCO um documento em que propõem o reconhecimento da dieta como Patrimônio Cultural da Humanidade. A medida pretende não apenas preservar esse tipo de alimentação, como também difundi-lo entre as nações.

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