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Edição 145
25 de setembro de 2008

Argumento

Prótese reversa ajuda a recuperar movimentos do ombro

Hospital Universitário da UFRJ dispõe de nova técnica cirúrgica

Cília Monteiro

O Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF-UFRJ) está oferecendo uma grande novidade no Brasil: a cirurgia de prótese reversa. "O procedimento possibilita a pacientes que haviam perdido o movimento do ombro recuperá-lo em, pelo menos, 120 graus, viabilizando a realização de atividades cotidianas, como pentear os cabelos”, explica Marcos Britto, ortopedista do HUCFF que trouxe a técnica.

A perda do movimento do ombro normalmente é ocasionada por lesões grandes e maciças, que comprometem tendões não passíveis de serem costurados. Ocorre ainda em casos avançados de artrose, artrite reumatóide e outras patologias como artropatia do manguito cortador, que degrada as estruturas do ombro, osso, cartilagem e tendão. “Geralmente quando há uma grande destruição dessas estruturas e perde-se o movimento, existe a chamada pseudoparalisia: é possível fazer com que a pessoa levante o braço, mas quando solto, ele cai, pois não possui tendões para sustentá-lo”, observa Britto. É aí que a nova cirurgia se torna bastante útil.

Segundo o especialista, cirurgias de prótese de ombro já existem há muitos anos, mas esta, denominada reversa, difere das demais porque inverte o princípio biomecânico do funcionamento do ombro. “O ombro é composto pela glenóide, superfície côncava, que se articula com a cabeça do úmero, semelhante a uma pequenina bolinha. Na prótese reversa, isto se inverte, a bolinha fica na região da glenóide e a superfície côncava vira úmero”, descreve. 

De acordo com o ortopedista, a prótese torna possível que biomecanicamente o deltóide – músculo que fazia o úmero subir e bater em relação ao acrômio – passe a ter a função de levantar o braço. Para Britto, a cirurgia é vantajosa também por cessar a dor do paciente. “São patologias bastante dolorosas, e a prótese também age nisso. Ela alivia a dor e recupera o movimento. Não é uma recuperação completa, mas possibilita que a pessoa volte a realizar atividades que já não estava mais apta”, indica o especialista.

Em geral o procedimento é feito em idosos, faixa etária em que ocorrem os maiores problemas e degenerações. Os operados normalmente possuem entre 60 e 70 anos. Britto acredita que, somente em casos excepcionais, a prótese deve ser indicada para pessoas mais jovens. “Em jovens, exceto casos negligenciados, ainda consegue-se aplicar alguma outra técnica”, afirma o médico.

– A prótese basicamente surgiu para resolver problemas que não tinham como serem solucionados com outras técnicas. Para vários casos, precisávamos dizer ao paciente que infelizmente não tínhamos mais o que fazer por ele – relata.

A técnica

Em maio do ano passado, o especialista foi à França, onde passou duas semanas com Philipe Valenti, ortopedista idealizador da prótese. “Observei a técnica, entrei em várias cirurgias e falei da importância de trazer o procedimento ao Brasil. Philipe gostou da idéia”, lembra Britto. A partir desse intercâmbio, foi organizado um curso no HUCFF, no qual os médicos brasileiros tiveram a oportunidade de assistir ao vivo a cirurgia de prótese. Os cirurgiões receberam treinamento com aulas teóricas e posteriormente praticaram a cirurgia no modelo plástico simulando um paciente.

Segundo Britto, trata-se de uma cirurgia complexa, que requer uma grande preparação. “Creio que alguns dos cirurgiões apresentados à técnica eventualmente estarão aptos a realizar o procedimento, mas eu diria que esse foi o primeiro passo de um treinamento”, observa o especialista. Ele acredita que profissionais habituados a outras modalidades de cirurgias de prótese de ombro possuem maior facilidade no aprendizado da cirurgia de prótese reversa.

– A prótese que estamos trazendo é mais moderna, idealizada e comercializada a partir de 2003. É uma evolução em relação às anteriores, da década de 90, portanto possui algumas vantagens biomecânicas – constata o médico. De acordo com o ortopedista, há um índice mundial de 2% de casos de rejeição a qualquer material estranho ao organismo. A prótese está incluída nessa estatística, no entanto, ele a considera uma porcentagem pequena.

Britto destaca ainda que a região fica dolorida após os dois primeiros dias da cirurgia, mas, após este período, o indivíduo se sente melhor. Em dois meses, ele já poderá retomar suas atividades. Segundo o especialista, o prazo para fazer a manutenção da prótese varia de acordo com a expectativa de vida de cada pessoa. “Pessoas mais velhas normalmente não precisam trocar a prótese, pois não vivem tempo suficiente para que isso seja necessário, podendo usá-la por cerca de 15 anos. Se for colocada numa pessoa de 60 anos, que viva mais de 80, eventualmente precisará trocar”, explica o especialista.

Segundo Britto, o hospital tem capacidade de realizar satisfatoriamente uma cirurgia por semana, mas o cumprimento desta meta vai depender do processo licitatório. “Temos teoricamente a capacidade de operar até duas próteses por semana, mas acredito que uma cirurgia seria um número razoável. Já estamos com uma cirurgia marcada no HUCFF”, informa o ortopedista.

O procedimento é gratuito. Os interessados devem entrar em contato com o Serviço de Traumato-ortopedia do HUCFF, pelo telefone 2562-2838.

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