Agência de Notícias da UFRJ www.olharvital.ufrj.br
Edição 144
18 de setembro de 2008

Ciência e Vida

Estudo pioneiro avalia DST’s bacterianas em gestantes

Marcello Henrique Corrêa

A colaboração entre o Instituto de Microbiologia Professor Paulo de Góes (IMPPG) e a Maternidade Escola, ambos da UFRJ, deve resultar em um levantamento estatístico pioneiro no campo das doenças sexualmente transmissíveis (DST’s). O foco do estudo, que começou esse ano e deve se estender até 2010, é o grupo de gestantes adolescentes (de 10 a 19 anos) atendidas pela Maternidade. O objetivo é avaliar a prevalência de infecções bacterianas nessas jovens, especificamente as relacionadas à gonorréia e à clamídia.

O projeto partiu de uma linha de pesquisa já existente no laboratório de Sérgio Fracalanzza, professor associado do IMPPG e coordenador da pesquisa. A bactéria Neisseria gonorrhoeae já era investigada pelo grupo, porém a linha mais voltada à pesquisa aplicada surgiu no ano passado, quando o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) publicou um edital de auxílio à pesquisa no campo de saúde da mulher. Esse incentivo motivou o grupo a elaborar o projeto, que passou a contemplar também a bactéria Chlamydia trachomatis.

Segundo Fracalanzza, é importante estar atento a esse tipo de microorganismo, principalmente no caso das mulheres, em que a identificação da doença é mais difícil. “Em muitos casos, a infecção bacteriana tem poucos sintomas ou está completamente assintomática. Nesse caso, a mulher não sabe que está doente e muitas vezes só toma conhecimento do fato quando transmite para o parceiro sexual ou, no caso das grávidas, para o recém-nascido, ainda intra-útero”, explica Fracalanzza, lembrando que os casos mais graves podem causar aborto espontâneo do feto.

De acordo com o professor, essas infecções são passíveis de tratamento, com o auxílio de antibióticos. Entretanto, quando se fala em gestantes, algumas complicações podem dificultar o trabalho, devido às restrições a algumas substâncias durante a gravidez.

A pesquisa

O projeto foi aprovado no final do ano e, descontados os procedimentos iniciais, compra de materiais, começou efetivamente em abril de 2008. Por enquanto, o grupo avaliou cerca de 50 gestantes participantes do programa de atendimento a adolescentes da Maternidade Escola. As pacientes participantes na pesquisa têm o material coletado, analisado pela equipe do IMPPG e devolvido à Maternidade, que leva o tratamento adiante, caso haja infecção.

A boa notícia é que, das 50 jovens analisadas, ainda não foi detectada a presença de gonococos. Para clamídia, a técnica ainda está sendo aperfeiçoada e os resultados preliminares devem ser obtidos nas próximas semanas. Por enquanto, Fracalanzza avalia o resultado como positivo, mas lembra que ainda é cedo para conclusões.

Resistência a antibióticos

Além de investigar a prevalência de infecções e levantar dados numéricos, o grupo tem como objetivo determinar substâncias mais adequadas para eliminar os microorganismos, pois os gonococos começaram a apresentar resistência aos antibióticos comuns. De acordo com Fracalanzza, o paciente que procura um posto de saúde com quadro de corrimento uretral é avaliado clinicamente (com base nos sintomas, sem exame laboratorial) e, já no posto, medicado com a ciprofloxacina, substância que demonstra eficácia contra a clamídia, mas que encontra resistências contra gonococos.

Segundo o professor, esses dados são recentes no Brasil e ainda são raros os trabalhos nacionais sobre a bactéria. “Essa resistência ainda não tinha sido diagnosticada no Brasil, mas já era conhecida em várias partes do mundo. Desenvolvemos, há algum tempo, uma dissertação de mestrado, demonstrando que o país já contava com cerca de 8% de amostras de gonococo resistentes ao antibiótico”, informa o pesquisador.

Laboratório piloto

Uma unidade de referência aumenta a lista de objetivos e metas do grupo de pesquisa. A idéia é implantar, nos próximos anos, um laboratório piloto para diagnósticos de DST’s bacterianas. “A maioria dos laboratórios de análises não fazem pesquisas de gonococos. Vamos implantar aqui uma unidade para suprir essa demanda, a princípio para a Maternidade Escola e, mais tarde, abrindo para as demais unidades de saúde pública do Rio de Janeiro”, afirma Fracalanzza. Para isso, o grupo já está em contato com a Secretaria Municipal de Saúde para implantar o programa em maternidades da cidade.

Anteriores