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Edição 143
11 de setembro de 2008

Saúde e Prevenção

Como andam suas hemácias?

Luana Freitas

Um cardápio equilibrado e rico em nutrientes. Talvez esta seja a principal preocupação quando o assunto é anemia, já que a deficiência é, muitas vezes, associada aos hábitos alimentares dos indivíduos. Na verdade, a anemia consiste na redução da massa de glóbulos vermelhos, células sangüíneas responsáveis pelo transporte de oxigênio, também conhecidas como hemácias ou eritrócitos.

Nelson Spector, hematologista e professor da Faculdade de Medicina da UFRJ, revela que o problema não é considerado uma doença, embora possa estar relacionado a diversas enfermidades. "A anemia não é uma doença, mas pode ocorrer associada a muitas doenças de causas variadas. A presença de anemia, de forma análoga, por exemplo, à presença de febre, sugere que algo está errado e requer elucidação", explica o médico.

Dessa forma, além da carência de ferro, ácido fólico e vitamina B12, elementos necessários à fabricação de hemácias, existem diferentes fatores que levam o organismo a desenvolver anemia. A quantidade de glóbulos vermelhos no sangue pode ser prejudicada por perdas sangüíneas, doenças da medula óssea, redução na produção endógena de eritropoietina pelos rins e destruição dos glóbulos pelo próprio organismo (hemólise).

Segundo o professor, a anemia ferropriva, isto é, por falta de ferro, é a que ocorre com mais freqüência entre a população, uma vez que milhares de indivíduos submetidos a condições de extrema pobreza, principalmente nas áreas rurais, apresentam alimentação com carência nutricional. Já nos ambientes urbanos, este tipo de anemia é comum entre o sexo feminino devido à perda de sangue durante o período menstrual. Doenças gastro-intestinais também podem provocar deficiências de ferro no corpo humano. Indispensável a praticamente todas as formas de vida no planeta, o ferro possui a capacidade de captar e liberar elétrons em reações químicas vitais. "No organismo humano, o ferro é parte essencial da hemoglobina, uma molécula quase mágica que permitiu a existência de vida animal pelas suas propriedades perfeitamente desenhadas para o transporte de oxigênio. A hemoglobina agarra todo o oxigênio que entra pelos nossos pulmões e entrega esse oxigênio a todo o organismo", esclarece Spector. Além da hemoglobina, o mineral está presente nos músculos, na forma de mioglobina, e nos citocromos, proteínas que geram energia nas células por meio do processo conhecido como fosforilação oxidativa.

Já a segunda causa mais comum para o problema decorre de enfermidades como câncer, insuficiência renal, doenças inflamatórias e infecciosas crônicas. Existe ainda a forma mais grave do distúrbio, a anemia falciforme, provocada pela mutação de um gene da hemoglobina.

Spector alerta sobre o principal sinal clínico da anemia, muitas vezes percebido pelo próprio paciente ou por seus familiares, que vem  a ser a palidez, sobretudo nos lábios e nas palmas das mãos. Além disso, pessoas anêmicas podem manifestar cansaço, fraqueza, falta de apetite, tonteiras, palpitações e, até mesmo, dificuldade para respirar durante a prática de exercício físicos.

O mito da má-alimentação

Na prática, o problema é diagnosticado por meio do exame clínico e do hemograma, este último com informações sobre a dosagem de hemoglobina e a contagem do número de hemácias no sangue. De forma geral, níveis de hemoglobina abaixo de 12g/dL, em mulheres, e de 14 g/dL, em homens, sugerem anemia. "As etapas mais importantes do diagnóstico são a anamnese e o exame físico, ou seja, conversar com o paciente e examiná-lo. Em seguida, os exames de sangue ajudam a precisar o mecanismo e a causa da anemia. Ocasionalmente, o exame da medula óssea pode ser imprescindível", afirma o hematologista.

De acordo com o médico, cada forma de anemia requer um tratamento específico, dirigido diretamente às causas do distúrbio. Portanto, é uma distorção acreditar que a deficiência esteja sempre relacionada aos hábitos alimentares dos indivíduos, o que ocorre mais em casos de desnutrição. Spector explica que é um mito recomendar determinados alimentos para combater o problema, como beterraba, cenoura, fígado e feijão. Medicamentos, hoje, proporcionam quantidades muito maiores do nutriente do que as dietas poderiam oferecer. "De modo geral, exceto em indivíduos desnutridos, a correção da anemia não requer medidas nutricionais especiais, mas sim a identificação das causas e seu tratamento específico", conclui o hematologista.

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