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Edição 142
05 de setembro de 2008

Argumento

Música ajuda prematuros na amamentação

Rodrigo Lois - AgN/PV

A Maternidade Escola da UFRJ vem desenvolvendo o Projeto MAME (Musicoterapia no Aleitamento Materno Exclusivo), um programa inovador de musicoterapia que contribui para o aleitamento de bebês prematuros. O projeto surgiu há oito anos, com a inauguração da Unidade de Neonatologia.

A partir do sucesso dessa iniciativa, a direção da Maternidade Escola e o professor Arnaldo Prata Barbosa, então chefe da Unidade de Neonatologia, sugeriram à equipe de musicoterapeutas desenvolver um projeto de pesquisa que verificasse a eficiência dessa relação da música com o aleitamento materno de bebês de baixo peso. Martha Negreiros de Sampaio, musicoterapeuta que realizou a pesquisa, está envolvida com o MAME desde seu início e comenta sobre o trabalho.

– Vimos que as mães que participavam desse tratamento produziam mais leite, algo que antes não acontecia. Como se sabe, essa produção é reflexo automático de estímulos proporcionados pelo bebê, ao sugar a mama, ou pela própria mãe, que chegam à hipófise. O problema acontece na descida do leite, que pode sofrer interferência dos estados emocionais, como a ansiedade, o medo e a insegurança. Após as mães se expressarem na terapia e o leite ter começado a fluir, vimos que seria interessante estudar o fenômeno – afirma Martha.

As sessões de musicoterapia acontecem três vezes por semana, cada uma com duração de uma hora, no alojamento “Mãe-canguru”, um dos departamentos da Maternidade Escola. O trabalho é desenvolvido junto às mães, pais e familiares das mulheres que estão com seus bebês internados na Unidade de Neonatologia. Nessas reuniões, as mães escolhem as canções, cantam e manipulam os instrumentos musicais concedidos pela equipe. Segundo Martha Negreiros, a presença de outras pessoas, além da mãe, é essencial: “Essa dimensão de um bebê na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) é de extremo risco psíquico, não só para o recém-nascido, mas para toda a rede social que o envolve, afinal, a gestação é um evento social. Portanto, devemos intervir positivamente nos laços afetivos entre a família e esse bebê”.

Por isso, de acordo com a musicoterapeuta e seu assistente de pesquisa Albelino Carvalhaes, profissional fundamental para o desenvolvimento do estudo, “o objetivo vai além da amamentação. Ele vai até a construção subjetiva dessa criatura que nasceu com problemas. Nós focamos no trabalho social com as mães e as famílias, e a preparação psíquica para lidar com um bebê prematuro que pode morrer”. É aí que entra em cena a musicoterapia, pois “é através da música, como código de linguagem, que podemos beneficiar a mulher a expressar suas emoções. Essa linguagem pode favorecer a instalação da função materna, pois ela interfere diretamente nos estados de espírito do indivíduo” – complementam os dois pesquisadores.

Saldo do estudo

Do ponto de vista clínico, os resultados da pesquisa, oriundos de uma metodologia prospectiva, aberta, controlada e randomizada (só participaram mães de bebês prematuros, cujo peso de nascimento foi igual ou inferior a 1.750 gramas) foram bastante ricos. “Eles comprovaram a importância do musicoterapeuta e a sua integração à equipe de Neonatologia. A linguagem musical tem um potencial de interferência impressionante, dá esperança de vida a uma situação de extrema ansiedade e estimula a manutenção do aleitamento materno”, afirma Martha Negreiros.

O caminho do estudo não foi fácil. Dificuldades de ordem burocrática e mesmo prática, tiveram de ser superadas. “Como o protocolo da pesquisa é rigoroso, e por se tratar de um ensaio clínico randomizado, o que implica em ter um grupo-controle, muitas mães que ficavam alocadas neste grupo que não recebia a intervenção queriam participar, e isto, para nós, terapeutas, é uma situação conflitante”, confessou a musicoterapeuta.

Outro problema foi financeiro, resolvido com apoio de pessoas que acreditaram na iniciativa. “O projeto só se manteve graças ao incentivo da direção da Maternidade Escola e de um de nossos orientadores, Arnaldo Prata Barbosa. Ele sonhou com a implantação desse trabalho com a música.”

Estudos como esse da Maternidade Escola são de extremo valor para a área da saúde. “A pesquisa e o ensino são tarefas precípuas de uma universidade. Ainda que sejamos uma unidade de saúde pública, logo submetida às políticas tanto municipais como federais, somos uma instituição de ensino, idealizadora de projetos de ponta e formadora de profissionais que irão trabalhar na área da saúde, que devem ter um olhar teórico-crítico como suporte. Esse é o grande entrelaçamento entre a universidade e a sociedade”, afirmou a musicoterapeuta.

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