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Edição 139
14 de agosto de 2008

Notícias da Semana

UFRJ recebe da Caravana da UNE

Marcello Henrique Corrêa

Depois de fechar acordos com os Ministérios da Saúde e da Educação, a União Nacional dos Estudantes deu início à Caravana da UNE. A caminhada, que deve passar por mais de 40 universidades em todo o Brasil, deu o primeiro passo com um debate na UFRJ, ontem, 13 de agosto. Representantes da UNE, com o apoio do grupo de atores “Tá na Rua”, artistas plásticos e circenses, se reuniram no Centro de Ciências da Saúde da Universidade para discutir os temas que dão o tom do ciclo de visitas que deve durar cerca de quatro meses: saúde, educação e cultura.

Como é de se esperar, temas dessa abrangência deram margem para as mais diversas reflexões sobre o Brasil e os papéis que a sociedade deve desempenhar para alcançar os objetivos propostos. Para ajudar nessa conversa, o Centro Brasileiro de Estudos em Saúde (Cebes) disponibiliza um representante por estado visitado, que fica incumbido de participar das mesas redondas organizadas pelo grupo. No Rio de Janeiro, a responsável do Cebes é Ligia Bahia, que além de integrante do Centro é também professora do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (IESC).

Antes dos temas propostos, um assunto foi inevitável: era flagrante a ausência dos alunos à mobilização. A falta de envolvimento dos estudantes com o debate despertou discussões sobre o que fazer com o movimento estudantil no Brasil. “Participei das mobilizações da UNE, apanhando da polícia nos meus tempos de militância. A UNE foi criada a partir de mobilização e não é mais isso o que está acontecendo hoje. Precisamos nos perguntar se essa é a melhor forma de mobilizar o Brasil”, opinou a professora, referindo-se aos anos em que o movimento estudantil era duramente reprimido pela ditadura militar.

Para Flávia Calé da Silva, diretora de Universidades Públicas da UNE e estudante de História da UFRJ, a idéia é trazer, com a nova política da UNE, uma proposta de renovação, que aprenda a dialogar mais com a juventude. “Com a Caravana, nos propomos a ouvir o que pensa a juventude brasileira e formar nossa pauta a partir daí. O espaço da cultura ajuda a pensar novas linguagens para melhorar a comunicação e o diálogo”, destacou a estudante, se referindo à parceria com grupos artísticos como o “Tá na Rua”.

Caravana e saúde

A professora acredita que os desafios enfrentados pelo Brasil devem ser resolvidos com uma ampla modificação de toda uma cultura e senso comum. Com a saúde não é diferente. O tema, novidade entre os debates mais freqüentes da UNE, é um dos pontos fortes da Caravana. Na visão de Lígia Bahia, essa é uma área em que a mobilização também é fundamental. A professora destacou o desinteresse da população pela luta por uma sociedade mais igualitária. “Não há uma grande pressão na sociedade para que os direitos sejam iguais para todos. Pelo contrário, hoje há uma pressão na sociedade brasileira para que os direitos sejam cada vez mais diferenciados”, observa a docente.

Para Bahia, apesar da importância do diálogo sobre bons hábitos de saúde, a Caravana da UNE e a relação entre os integrantes do Cebes com a juventude deve resultar em algo mais abrangente. “É evidente que é muito importante falar aos jovens sobre o uso da camisinha e do perigo em misturar álcool e direção, por exemplo, mas é importante dizer também que só isso não os tornará saudáveis. Vocês serão muito saudáveis se vocês participarem da sociedade, com projetos sociais. Vocês serão muito mais saudáveis se acreditarem que o Brasil pode deixar de ser um país de periferia do capitalismo”, aconselhou a professora.

Próximas paradas

Ainda no Rio de Janeiro, a programação previa, para hoje, 14 de agosto, a visita da Caravana à Universidade Estácio de Sá. Nos próximos dias, o grupo parte para Espírito Santo e em seguida para Minas Gerais, passando por instituições de destaque com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a USP. Para a empreitada, a UNE conta com o apoio do Ministério da Saúde, que repassou cerca de R$ 2,8 milhões para o projeto.


Profissional do século XXI

Heryka Cilaberry

Com salão repleto de antigos e novos alunos, foi realizada a aula inaugural da faculdade de odontologia da UFRJ. O evento contou com a presença de Hilda Maria Ribeiro de Souza, médica e diretora do departamento de projetos e inovações da sub-reitoria da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). A dentista convidada propôs uma discussão a respeito do perfil esperado para o profissional da área de saúde no século XXI.

Esbanjando bom-humor, Hilda disse estar contente por poder visitar, após longos anos, uma “co-irmã” de sua casa (a UERJ), reforçando a importância da afinidade entre as universidades do estado. A médica também apontou o significante papel da odontologia brasileira no cenário mundial, garantindo que o ensino realizado nas faculdades de odontologia do país merece reconhecimento.

– Eu me comprometeria a assinar agora um diploma para vocês, segura de que ao concluírem o curso, em quatro anos, serão profissionais excelentes – desafiou a professora.

Apesar da qualidade dos egressos das universidades, os dados apresentados, a cada levantamento das condições de saúde bucal da população, revelam uma dura realidade: o desleixo em que grande parte da população está atirada. É difícil contrariar as percentagens que indicavam, pouco menos 5 anos atrás, que 85% da população adulta precisava de algum tipo de prótese dentária ou que 60% das crianças com até cinco anos já possuíam cárie.

Indignada com o descaso em que são deixados os brasileiros, a médica foi incisiva. “Se nós somos excelentes e não conseguimos dar conta de nossa própria população, algo de errado está acontecendo. Não acho que o problema esteja em nós”.

Apontados como possíveis atores da reversão desse quadro desolador estão os novos profissionais da saúde, adaptados e conscientes das diversidades cultural e social que tangem o panorama da odontologia no país. Antes mesmo que qualquer caracterização do dentista do futuro, tenha sido feita por Hilda, foi destacada a necessidade dos novos alunos entenderem a profissão que os seduziu para a escolha de suas vidas.

Esses dados sim, não poderiam ser mais otimistas, 69% de 600 candidatos entrevistados, dizem desejar continuar na profissão, mesmo com a jornada de trabalho exaustiva (em média, 40 horas por semana). Mais, um baixo grau de arrependimento por aqueles que decidem pela profissão foi constatado, ainda inferior à tão disputada carreira médica.

Para acompanhar o avanço dos séculos, esse novo ator social deve ir além, buscando atingir o perfil do profissional da saúde do século XXI, delineado como uma pessoa flexível, que investe na própria criatividade e que esteja sempre preparado para assumir responsabilidades. Habilidoso com a comunicação e expressão, também deve possui capacidade ímpar de trabalhar em grupo, assim como aceitar as diferenças culturais.

É de vital importância, também na tentativa de retardar o constante avanço da deterioração da saúde bucal, que o dentista do futuro, assim como os outros atores da área da saúde, seja capaz de trabalhar com eficiência e resolutibilidade no Sistema Único de Saúde (SUS). Assim como ter em mente que o estudo e atualização serão elementos constantes durante a vida profissional. E finalmente, valorizar a saúde e não a doença, enquadrando sua especialidade com a necessidade do país.

– Deve-se buscar suprir a demanda do país e adaptar-se à realidade local, assim, serão atingidos dois objetivos: a população será beneficiada e você não ficará frustrado – completa a dentista.

Com o esforço e determinação, quem sabe não veremos uma população sorrir feliz.


Organização nota dez

Heryka Cilaberry

Teve início nessa segunda-feira (11/8) a X Semana de Biomedicina da UFRJ no auditório Rodolpho Paulo Rocco. A edição se estende até a próxima sexta-feira e conta com a participação de pesquisadores de diversas instituições cariocas, além de representantes de várias áreas da saúde para tratar desde a complexa terapia gênica ao mal comum dos idosos: o Alzheimer.

A Semana é o símbolo da vitória de uma Comissão Organizadora determinada a transformar muito esforço e trabalho-duro em realidade. Um sucesso que Felipe Oliveira, membro da organização do primeiro evento fez questão de compartilhar com os graduandos e pós-graduandos presentes. “Nós não tínhamos patrocínio. Na primeira semana, contamos apenas com o empréstimo de R$ 500 do centro acadêmico. Conforme as inscrições iam sendo efetuadas, devolvíamos o dinheiro emprestado.”

Toda essa luta por recursos e visibilidade rendeu frutos promissores. Hoje, a Semana não se limita aos estudantes da instituição, mas acolhe alunos de outras universidades, interessados em expandir seus conhecimentos, que recorrem às palestras ou aos mini-cursos oferecidos. Claro, para que tudo isso seja possível e diferente do que ocorreu nas primeiras edições, a semana já conta com apoio de grandes patrocinadores como Capes e Banco do Brasil.

Assim, ao ver a amplitude que a decisão pioneira de sua comissão acarretou, Felipe não pôde deixar de se dirigir aos novos organizadores e confidenciar a importância de estar presente em mais uma semana: “Somente quando estiverem na vigésima semana de biomedicina, vocês vão entender a emoção de estar aqui, vendo esse evento crescer a cada ano.”

A abertura da semana não poderia deixar de contar com a ilustre participação de Daniela Uziel, coordenadora da graduação de biomedicina da UFRJ e de Roberto Lent, diretor do Instituto de Ciências Biológicas (ICB). Os professores explicaram brevemente, em cerimônia de abertura, a importância do comparecimento a eventos como o que está sendo organizado por alunos da biomedicina para a formação acadêmica de novos profissionais.

Logo no primeiro dia da Semana foram realizadas palestras com Márcia Capella, professora associada da Universidade voltada para a área de fisiologia celular, com o tema: “Resistência a múltiplas drogas” e a do professor Ricardo Furtado, mestre em microbiologia da UFRJ sobre “Meio ambiente e biorremediação”. No dia 12 de agosto,  estiveram presentes, Martin Hernan Bonamino, pesquisador do Instituto Nacional de Câncer (INCA), para tratar de terapia gênica e Walter Machado professor adjunto da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisador da área de fisiologia com o tema “Álcool e atenção”.

Na quarta-feira, aconteceu a palestra “O corpo como capital na cultura brasileira” de Miriam Goldenberg, professora associada do departamento de Antropologia Cultural da UFRJ, seguida, excepcionalmente, por apresentação de trabalhos. No dia 14, Paulo Feijó, coordenador médico da Unidade de Avaliação de Vacinas anti-AIDS, e Fernanda de Felice, professora adjunta com pesquisa em neurologia e Alzheimer, ambos da universidade, trabalharam respectivamente “Prevenção do HIV – vacinas e outras intervenções” e “Alzheimer: a doença do esquecimento”. Finalmente, no último dia, há a participação de Márcia Archer, biotecnologista da Fundação Oswaldo Cruz com “Vírus da Febre Amarela vacinal como vetor da vacina contra dengue” e Fábio Passeti, revisor da revista Genetics and Molecular Research e pesquisador do INCA com “Seleção de novos candidato a biomarcadores para o câncer por uma metodologia de bioinformática”.

Pronto para seguir os sábios conselhos dos professores Lent e Uziel e embarcar na X Semana de Biomedicina da UFRJ? As inscrições ainda podem ser efetuadas no local. As palestras do evento são sempre ministradas pela manhã, a primeira começando por volta de 9h e a segunda, às 10h15. Os minicursos acontecem às 13h30, após o intervalo do almoço. Seja bem-vindo.


Aula inaugural de dermatologia aborda atendimento humano do médico



Cília Monteiro

A necessidade de médicos que compreendam o sofrimento dos pacientes, e que apresentem princípios como humildade e respeito na forma de atendimento foi apontada pelo professor Celso Tavares Sodré, membro da Liga Acadêmica de Dermatologia, na Aula Inaugural. A apresentação ocorreu na manhã dessa segunda-feira (11/8), no a auditório Halley Pacheco, nas dependências do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF).

O professor recebeu os estudantes de maneira acolhedora, não apenas abordando a importância da Dermatologia na formação profissional, mas também quão fundamentais são os valores da relação entre médico e paciente. Segundo Celso Sodré, a Dermatologia possui mais de 2.500 diagnósticos possíveis, com variações e diferentes manifestações físicas, características que transparecem o tamanho e a complexidade da área. “Infelizmente, apesar da grandiosidade, essa é uma especialidade diversas vezes menosprezada por outros profissionais. Porém, seu grau de utilidade na medicina é enorme”, relata Celso.

O professor alertou para a Dermatologia na composição de um conhecimento médico completo, essencial para que haja uma avaliação global do paciente, o que é útil ao profissional de qualquer área, do ortopedista ao gastroenterologista. “Em qualquer especialidade, haverá a oportunidade de atender a problemas dermatológicos do paciente, pois sinais cutâneos advertem inúmeras doenças relacionadas a outras áreas, como por exemplo, o câncer. A dermatologia compõe o conhecimento básico do médico, independente da especialidade”, explica Celso.

Com o título “Aprendendo com as dificuldades”, o professor se propôs a falar de complicações que encontrou no exercício da medicina logo após concluir sua formação profissional, como uma forma de orientar os estudantes no início de carreira.

De acordo com Celso Sodré, a consulta aprendida no hospital durante o período de estudo não proporciona momentos de privacidade com o paciente, devido ao grande número de médicos para um único atendido. Ele considera esta relação mais reservada o algo norteador da vida do médico: “A privacidade é a possibilidade de estar cara-a-cara com o sujeito que te procurou em busca de ajuda, de socorro, porque está sofrendo. O médico não vai tratá-lo apenas olhando para a pele, mas com muito aconchego e solidariedade para ouvi-lo. Este foi meu primeiro impacto no começo”, relata Sodré.

Para o professor, a humildade é essencial, principalmente ao médico novo, pois o paciente, ao detectar que está sendo atendido por um profissional recém-formado, pode desconfiar de sua capacidade. “O médico precisa assumir a condição de recém formado e dizer que está lá para ajudar. Outra grande humildade é reconhecer que a Medicina está muito longe de conhecer e saber tudo. Então, não temos todas as respostas, não por falha do médico, mas por falha da própria Medicina, que ainda não chegou lá”, constata Celso.

Sodré também chamou atenção para a necessidade do respeito ao horário do paciente. “Respeitar o horário do paciente é você ser o seu próprio paciente, ou seja, se colocar no lugar dele. Não podemos achar que somos deuses e o paciente tem que esperar. Nosso tempo não é mais precioso que o do paciente”, explica o especialista.

De acordo com o professor, é necessário que se dê tempo para que o paciente verbalize o motivo da consulta. “Apesar de nossa desvalorização, não podemos agir de forma desrespeitosa levando cinco minutos numa consulta que deveria durar meia hora. Existem duas situações: a pessoa fala de imediato seu problema ou começa tentando esconder a realidade que o leva ao consultório. Um exemplo são as doenças sexualmente transmissíveis, que trazem uma idéia bíblica de pecado, transgressão. Deve-se dar espaço para que esse temor se manifeste e o médico atenda ao que o paciente está pedindo” retrata Celso.

Segundo Sodré, o médico não deve omitir a verdade, mas saber dar a informação com cuidado, sabendo toda a carga de emoção e dor que o resultado do diagnóstico carrega junto. “Contudo, o paciente deve ter noção do seu caso para também não achar que vai chegar ao estágio mais avançado da doença, pois isso não ocorre necessariamente”, aconselha Celso. O professor finalizou explicando sobre como devem ser os procedimentos do exame dermatológico.


Aula Inaugural de Nutrição: publicar ou perecer?

Cília Monteiro

Aconteceu na última quarta-feira, dia 14, a Aula Inaugural do Programa de Pós-graduação em Nutrição, ocorrida no Centro de Ciência da Saúde (CCS/UFRJ). O evento contou com a palestra de Luis David Castiel, professor titular da Escola Nacional de Saúde Pública da FIOCRUZ, que debateu a maneira mercadológica com que o artigo científico vem sendo tratado.

O professor começou discutindo o significado do termo “fetiche”, de origem francesa, que remete à atribuição de um estatuto diferente do convencional a um objeto. No cartesianismo, corresponde ao que é produzido pela mente a partir de uma idéia. De um modo geral, trata-se de algo a que se confere poderes mágicos ou sobrenaturais, positivos ou negativos, como amuletos. A introdução serviu para que Luis associasse a forma com que o artigo científico é atualmente encarado pelos autores a uma espécie de fetichismo.

Segundo Castiel, é aí que entra o famoso ditado: “publicar ou perecer”, que sugere o ato da publicação como uma questão de sobrevivência.  A origem da frase está em “O homem acadêmico”, de Logan Wilson, publicado há cerca de 66 anos. Para Luis,com a ampliação dos recursos informáticos, publicar se tornou algo aparentemente mais fácil, idéia que ajudou a alimentar tal ditado.

Luis Castiel explicou que há uma grande competição por recursos, e são necessários credenciais para que se consiga obter bolsas e publicar, uma vez que isto é importante para o currículo. O resultado é uma proliferação de artigos e revistas. “Quem lê tudo isso, mesmo em seu próprio campo? Quem consegue estar atualizado? A idéia de atualização virou uma corrida insana. Há uma correria atrás de algo que se afasta constantemente. Não estou dizendo que as pessoas deixem de ler, mas esta idéia, sobretudo no ambiente médico, se torna uma utopia. Há também uma relação de competição entre os artigos. É o darwinismo bibliográfico, em que os artigos competem para ver quem ocupa o espaço na revista”, constata o professor.

- Não é apenas um artigo que se volta para o avanço do conhecimento científico, mas é algo voltado ao prestígio do pesquisador e do grupo de pesquisa. É a justificativa de que esse pesquisador tem méritos científicos, pois publica em revistas como uma forma de fetiche - explica o especialista. Além das publicações, o profissional ainda precisa ser citado, fato que corresponde ao ápice da carreira. No entanto, o ideal é que a citação seja em outro idioma, sugerindo também um fetiche em relação à língua – opina Luis Castiel.

De acordo com ele, trata-se de um jogo material que cada vez mais adquire a dimensão extracientífica e ideológica. Seria o poder do autor de ser identificado como uma potência no campo científico, por possuir muitas publicações. Estas, porém, por diversas vezes foram constituídas através de práticas que ele considera discutíveis, mas infelizmente se naturalizaram na produção de artigos científicos.

Dentre essas práticas, Castiel caracterizou algumas, a começar pelo que apelidou de “ciência salame”, em que uma pesquisa é dividida em unidades menores, publicáveis, para que se tornem vários artigos distribuídos em diferentes revistas. Outra estratégia para ampliar a produtividade é uma espécie de troca autoral, em que os autores fazem um acordo para que um saia como autor no artigo do outro e vice-versa, sem que haja uma participação ativa em ambos os estudos. Ainda citou os “microplágios”, cópias de trechos da internet, muitas vezes traduzidas do inglês. “Não podemos esquecer das referências bibliográficas roubadas de algum artigo que realmente tenha sido utilizado como fonte para um trabalho. Ainda há a possibilidade de citar pessoas que já te citaram para ver se elas citam novamente. Para sobreviver nesse ambiente, as pessoas se permitem a práticas para otimizar sua produção. Há uma ética nisso?”, indaga o professor.

Luis Castiel conseguiu verbalizar técnicas utilizadas, baseadas em fundamentos questionáveis, e estimular o pensamento crítico do público que, por diversas vezes, manifestou diferentes opiniões e contribuiu na construção do raciocínio desenvolvido. A esta forma de fetiche, que recebeu o nome de “publicacionismo”, fica a indagação do mestre: até que ponto determinadas práticas são aceitáveis?

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