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Edição 133
03 de julho de 2008

Ciência e Vida

Salsa: Uma alternativa à prevenção da trombose

Marcello Henrique Corrêa

Uma nova proposta para a prevenção da trombose toma forma nos laboratórios da UFRJ. Os pacientes que sofrem da doença, que pode vir acompanhada de sintomas como inchaço e dor, podem ganhar um novo aliado no combate ao problema: a salsa. Para chegar a essa possível alternativa terapêutica, grupos do Instituto de Bioquímica Médica (IBqM) e do Núcleo de Pesquisas em Produtos Naturais (NPPN) se uniram, em associação com pesquisadores da  Universidade Severino Sombra (USS), da cidade de Vassouras.

De acordo com Russolina Zingali, professora de IBqM e uma das coordenadoras do trabalho (juntamente com Sônia Soares, do NPPN), a pesquisa tinha, inicialmente, as atenções voltadas para análises de propriedades antitrombóticas de venenos extraídos de serpentes. O interesse pelas plantas e, particularmente pela salsa, nasceu posteriormente. “Há cerca de quatro anos, a professora Ana Paula de Almeida, da USS, trouxe para o nosso grupo a questão referente à salsa”, relata Zingali. “A salsa tem propriedades interessantes, descritas até mesmo em nível popular e por isso ficamos interessados em conhecer melhor essa planta”, completa a pesquisadora.

Medicamentos tradicionais

A pesquisa visa preencher uma lacuna deixada pelos medicamentos comumente usados para combater à hipercoagulação, como a heparina, warfarin e hirudina. Esses medicamentos podem apresentar uma margem de segurança muito pequena, desequilibrando o sistema que controla a coagulação. Se esse sistema, chamado hemostase, estiver funcionando bem, sua função é selar vasos rompidos em cortes e lesões. Quando em desequilíbrio, pode produzir o trombo sem que um vaso tenha sido rompido, obstruindo a circulação, ou causar hemorragia, caso muito comum em medicamentos anti-coagulantes, de acordo com Russolina.

— No caso desses medicamentos, o limite entre a dose que possibilita a inibição de trombos e a dose que causa hemorragia é muito pequeno. Um tratamento com heparina, por exemplo, exige um controle rígido nas dosagens e uma observação atenta ao comportamento do sistema de coagulação do paciente —, explica Zingali. “O que observamos na salsa é que, mesmo sendo administrada diariamente nos modelos animais, a prevenção da formação de trombo foi possível e não houve um aumento significativo de hemorragia”, compara a professora.

Para chegar mais perto de um possível fármaco obtido a partir da salsa, o grupo realiza, no momento, análises mais detalhadas das substâncias presentes no vegetal. “Precisamos identificar substâncias com características antitrombóticas presentes na planta, pois como se trata de um extrato complexo, mais de uma substância pode estar relacionada à atividade anti-trombótica”, explica Zingali. Segundo ela, o objetivo do grupo é purificar os extratos até identificar um ou dois elementos principais ligados ao efeito desejado.

A pesquisadora também não descarta a possibilidade de utilizar o extrato completo e, a partir dele, produzir um medicamento. “Para isso, precisamos identificar quais as concentrações e preparações ideais para fazer o extrato. Vamos começar a ver, por exemplo, se é possível fazer pílulas de salsa, num futuro”, pondera a professora.

Opção nutricional

Segundo Russolina Zingali, além de análises farmacológicas, a busca pelo efeito terapêutico da substância na sua forma original de alimento também é uma das linhas de investigação do grupo. “Pretendemos seguir também por esse caminho, associando o conhecimento à parte nutricional, a partir de contatos com professores do Instituto de Nutrição, para começarmos a discutir formas de trabalhar a salsa como um alimento funcional, ou seja, que não serve só para fornecer nutrientes, mas também oferece um efeito terapêutico e de prevenção de doenças”, considera a professora.

Resultados e próximos passos

Para a pesquisadora, a obtenção de uma substância eficaz por via oral é o ponto mais interessante das pesquisas relativas à salsa. “O resultado mais relevante com a salsa foi verificar, no modelo animal, que a ingestão oral da substância permite a prevenção de formação de trombo. A administração do extrato da planta provou que é possível evitar a formação dos trombos dessa forma”, diz Zingali.

De acordo com ela, ainda é cedo para pensar em testes com pessoas, em casos clínicos. “Para observar esses efeitos em humanos, teríamos que tratar pacientes que já apresentem a doença. Sair do desenho experimental no laboratório para um desenho experimental clínico é um passo que exige mais trabalho”, afirma. A professora continua, cautelosa: “Antes disso, precisamos entender se as doses mais altas de salsa causam algum efeito colateral, ainda que tenhamos verificado a questão da hemorragia, porque há outros efeitos que precisam ser averiguados.”

Para os passos seguintes, o grupo planeja trabalhar no detalhamento das substâncias presentes no vegetal, ajudando a compreender melhor esse mecanismo de ação. “O outro passo é entender e estudar que formulações seriam eficientes para continuar prevenindo a formação de trombos. Dessa forma avaliaremos se será melhor trabalhar com extrato, com a planta inteira ou com comprimido”, informa a professora.

— Antes de sair com um medicamento, é preciso lembrar que somos um grupo essencialmente de pesquisa básica e ainda começando a trabalhar com pesquisa aplicada. Estamos tentando achar respostas sobre as substâncias para a pergunta inicial que move nosso estudo: ‘como elas agem?’ — afirma a especialista. “A partir dessa resposta, vamos analisar se essas substâncias são interessantes ou não. Aqui que entra a questão de criar um medicamento. Ainda estamos um pouco distantes desse quadro. No momento, é fundamental saber mais do comportamento dessas substâncias”, finaliza Russolina Zingali.

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