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Edição 132
26 de junho de 2008

Por uma boa causa

Síndrome de Don Juan: a insatisfação sexual?

Cinthia Pascueto - AgN/PV

Durante o mês de junho, a editoria Por uma boa causa abordou diferentes formas de parafilias, como pedofilia, estupro e fetichismo. Para a última edição sobre o assunto, analisaremos um transtorno psicológico compulsivo que, em muitos casos, é negligenciado – o comportamento sexual hiperativo. Apesar da corrente exaltação desse tipo de comportamento em alguns núcleos da sociedade, o Olhar Vital alerta: o indivíduo que não se contém diante do desejo sexual pode, na verdade, apresentar dificuldade em satisfazer-se sexualmente.

Relacionado tanto a fatores psicológicos – como transtornos de personalidade, desequilíbrio emocional e alterações da química cerebral – quanto sócio-culturais, a compulsão sexual é marcada por uma “busca pela ‘parceira ideal’, que existe em uma fantasia permanente e que não se realiza”, conforme explica Talvane Marins de Moraes, psiquiatra forense do Instituto de Psiquiatria da UFRJ. Para ele, essa sobreposição de fatores intrínsecos ao indivíduo e dos valores apreendidos na sociedade, são determinantes de um comportamento parafílico.

- Todos nós temos fatores internos, como os “instintos” e fantasias, mas que se enquadram dentro de um parâmetro que a sociedade estabeleceu como habituais. Temos escalas de valores que são aprendidas desde a infância, com todo um processo educativo e de socialização. As pessoas que não conseguem adquirir esses valores são aquelas que apresentam desvios de conduta. Essas pessoas, que têm uma personalidade mal-estruturada, caminham muitas vezes no sentido da parafilia – explica Talvane, enfatizando que o indivíduo com compulsão pelo ato sexual não é um “super-sexuado”. “Ao contrário, ele é ‘hipo-sexuado’. Troca de objeto, de parceiro, como se o ‘defeito’ estivesse no outro enquanto, na verdade, o problema está no próprio indivíduo que não consegue ter a plenitude num relacionamento”.

Em geral, a compulsão por sexo começa a se manifestar na idade adulta, apesar da aparição da libido e da tendência para a atração sexual, polarizada nos parceiros, se dar na adolescência. “Curiosamente, o comportamento sexual hiperativo surge quando o indivíduo de alguma forma tem a vida sexual ativa, já teve diversas experiências”, diz o especialista, recordando o personagem de Don Juan, cuja fama de conquistador inveterado propiciou a expressão donjuanismo, como historicamente foi chamado esse distúrbio em homens. Já em mulheres, o termo utilizado era ninfomania.

Além da sensação de insatisfação com o parceiro, esse distúrbio comportamental pode desencadear transtornos para a pessoa do ponto de vista social, pois em muitos casos ocorre a busca dessa satisfação em relações extra-conjugais. “O rompimento de uma relação de forma dramática, a desestruturação de uma família, o reflexo que essa atitude pode ter na imagem do indivíduo em seu círculo social, são prejuízos muito grandes. Esse comportamento, no entanto, não deve ser amenizado, visto que a pessoa tem consciência de seus atos”, acredita Talvane, enfatizando que essa compulsão por sexo é muitas vezes utilizada como pretexto por quem não a apresenta.

Segundo o psiquiatra, existem tratamentos psicoterápicos e medicamentosos. “O tratamento psicoterápico mais utilizado é o cognitivo-comportamental, em que o paciente é treinado para adquirir um novo comportamento que seja aceitável e com o qual ele se harmonize. Paralelamente, é preciso dar medicamento, que diminua essa compulsividade”, explica, afirmando que estes seriam os antidepressivos “O compulsivo por sexo não um deprimido clássico, mas se sente insatisfeito com sua vida sexual”, afirma o professor, que finaliza:

– É importante fazer essa divulgação para que as pessoas que apresentam, até de forma incipiente, um comportamento sexual hiperativo possam buscar tratamento. Não se deve ter preconceito em relação ao tratamento psiquiátrico. A psiquiatria é um ramo da medicina que está apto e pronto a ajudar as pessoas a vencer suas dificuldades pessoais –, conclui Talvane.

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